Levy vê a recuperação do Brasil lenta, construída ‘ tijolo por tijolo’

2 jun 2015

FLÁVIA BARBOSA 

Ministro da Fazenda diz que a estratégia do governo é para o longo prazo

“Temos bastante chance de ver uma segunda metade do ano favorável” Joaquim Levy Ministro da Fazenda"

WASHINGTON- A recuperação do Brasil, que passará em 2015 pela mais grave recessão em duas décadas, será lenta, devido à desaceleração global e aos desequilíbrios domésticos, e exige uma reorganização “tijolo por tijolo”, afirmou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante seminário sobre a América Latina organizado pelo Fundo Monetário Internacional ( FMI), na capital americana. Ainda assim, em conversa com jornalistas, ele projetou uma retomada do Produto Interno Bruto ( PIB) já no segundo semestre, em resposta à implementação do ajuste fiscal e a medidas como o programa de concessões.

GUIDO MORETO/ 29- 05- 2015Mudança de incentivos . Para Joaquim Levy, as reformas que estão sendo implementadas vão sacudir a economia

Segundo o ministro, a avaliação do governo é que o cenário externo no médio prazo será de baixo crescimento na América Latina, na China e até nos EUA. Portanto, a demanda por commodities será reduzida por um período estendido. Isso exige do Brasil uma nova estratégia de crescimento, pois “vamos encarar este mundo por um tempo”.

— A nossa estratégia é para o longo prazo. É melhor que alcancemos a melhor forma possível, em vez de apenas tentar manter algo anticíclico — afirmou Levy, que monopolizou as perguntas da plateia ao fim do painel e foi muito cumprimentado.

O potencial das medidas anticíclicas — como desonerações e financiamento público abundante, que foram a primeira resposta à crise global e ao fim do

boom das commodities — está esgotado, garantiu o ministro. Agora, é arrumar os indicadores macroeconômicos e iniciar reformas de caráter estrutural.

— Será uma recuperação lenta. Quando as coisas estiverem estruturadas, esperamos parar de cair, e começar a crescer, lentamente, porque essas coisas você tem que construir tijolo por tijolo em sua economia, em um novo mundo — disse.

O país, defendeu o ministro, já caminha nesta direção, com as leis aprovadas pelo Congresso na semana passada, como o aperto no seguro- desemprego. Esta medida incentiva a redução da rotatividade no mercado de trabalho, fenômeno que “significa menos investimentos em qualificação e trabalhadores menos eficientes”:

— As leis que conseguimos passar na semana passada são coisas que levantam algum dinheiro, mas o mais importante é que elas retrabalham a economia. São na verdade reformas estruturais disfarçadas de coisas simples.

É importante também que o Brasil comece a modernizar o sistema tributário, que é burocrático e oneroso. O ministro da Fazenda antecipou que deve enviar agora em meados de 2015 ao Congresso uma proposta de simplificação da estrutura do ICMS — que está em negociação com os 27 governadores — e do Imposto sobre Produtos Industrializados ( IPI).

Ainda na frente doméstica, defendeu Levy, o reequilíbrio fiscal é fundamental para aumentar o nível de poupança pública. Alcançar este objetivo será importante para elevar diretamente os investimentos do Estado, mas também gerar confiança e previsibilidade e elevar a poupança privada, fonte de financiamento para governos e empresas.

O plano é completo pela revisão das despesas federais, para eliminar excessos e aumentar a eficiência dos gastos essenciais, como educação e saúde.

— É preciso mudar os incentivos. Acreditamos que essas coisas ( reformas) vão sacudir a economia (...), podem destravar algum crescimento potencial — avaliou o ministro da Fazenda.

MELHORA NO 2 º SEMESTRE

No campo externo, Levy defende que é o momento de o Brasil ser mais agressivo na política comercial.

Já no segundo semestre, porém, a economia brasileira vai colher os benefícios do ajuste fiscal e medidas que o governo começará a anunciar nos próximos dias, como o Plano Safra 2015/ 2016, que será “robusto”, e o novo programa de concessões.

— Se nós tomarmos as providências necessárias com rapidez, nós temos bastante chance de ver um segundo semestre, uma segunda metade do ano, favorável para a economia — disse.