Barbosa afirma que juros altos vão fazer ajuste fiscal ser mais acelerado

2 jun 2015

RONALDO D’ERCOLE 

Para titular do Planejamento, taxas são ‘ indiossincrasia brasileira’

- SÃO PAULO- O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse ontem que o ajuste fiscal em curso no Brasil deve ser mais acelerado que processos semelhantes que ocorrem em outras economias, em razão dos juros elevados. Segundo Barbosa, essas taxas são “idiossincrasia brasileira” e, por isso, o esforço para o reequilíbrio fiscal perseguido pelo país deve levar pelo menos dois anos, ressaltando que o governo está procurando adotar uma postura gradual no reequilíbrio das contas públicas. Disse ainda que não é possível baixar os juros por decreto.

— As principais economias estão promovendo consolidação fiscal, cada uma à sua velocidade, depois dos esforços dos governos para superar os efeitos da crise de 2008/ 2009. Nossa estratégia é gradual, mas mais rápida que a dos Brics ou das economias mais desenvolvidas, porque no caso do Brasil a taxa de juros que incide sobre a dívida líquida do governo é muito alta. Mas não tão rápido como uns desejam, nem tão lento como outros acreditam — disse Barbosa.

REMÉDIO NECESSÁRIO

Sobre a argumentação de alguns economistas, de que os juros muito altos anulariam em parte o esforço do governo de estabilizar as contas públicas, Barbosa argumentou que o custo da dívida pública não é atrelado exclusivamente à Selic, mas a um conjunto de várias taxas, como a TJLP, a TR e a taxas dos swaps cambiais. Sobre a Selic, o ministro disse que Banco Central tem autonomia para ajustá- la de modo a controlar a inflação.

— Nesse momento, ( a alta da Selic) é um remédio necessário — disse. — A taxa de juros mais baixa não é feita por decreto. Você constrói as condições para que a economia opere com mais crescimento, inflação e com juros mais baixos.

Falando em seminário promovido pela FGV, Barbosa reafirmou que o contingenciamento de gastos tem por objetivo manter estável o nível de despesas obrigatórias, tentando preservar os principais programas, especialmente nas áreas sociais. Ele lembrou que o país saiu de um déficit primário de 0,6%, em 2014, para a meta de superávit de 1,1% este ano, até chegar a 2% do PIB a partir de 2016:

— Estamos em um momento em que medidas adicionais de estímulo não teriam efeito, por isso o primeiro passo é restabelecer o equilíbrio fiscal e o controle da inflação.

Para Barbosa, não é possível neste momento reduzir a carga tributária e, por isso, o governo investe em medidas de simplificação e desburocratização.

— Nosso objetivo é viabilizar a recuperação do crescimento de modo sustentado — disse.