Valor econômico, v. 16, n. 3785, 26/06/2015. Empresas, p. B5

 

Vivendi apoia eventual venda da TIM e anima investidores

 

Por Tatiane Bortolozi e Ivone Santana | De São Paulo

 

Romuald Meigneux/Sipa/APPuyfontaine, da Vivendi: interesse em concentrar investimentos na Itália e na França, pela semelhança entre os dois mercados, e exigência regulatória

As movimentações do grupo francês Vivendi, agora o maior acionista individual da Telecom Italia, têm se refletido sobre a ação da TIM Brasil, que segue em valorização desde meados do mês. Ontem, fechou cotada a R$ 10,60, alta de 1,53%.

Os investidores ficaram animados com o aumento da participação da Vivendi na empresa italiana, para 14,9% das ações, na quarta-feira, e as declarações do presidente da empresa francesa, Arnaud de Puyfontaine, favorável à venda da TIM, que vem manifestando há dias. O executivo disse que quer concentrar os investimentos na França e Itália, pelas semelhanças entre os dois mercados.

Com esses desdobramentos, as ações da TIM avançaram 11% em oito pregões, enquanto os papéis preferenciais de Oi caem 2% e os da Vivo sobem 2,7%. "A entrada da Vivendi na estrutura acionária da Telecom Italia disparou uma nova onda de especulação e empolgação sobre a liberação de valor", diz o analista David Wright, da equipe de análise do Bank of America Merril Lynch (BofA).

A Vivendi ocupou o lugar da Telefónica como maior acionista da companhia italiana, dona da TIM. Sua fatia garante uma posição capaz de influenciar a estratégia da operadora italiana, escreve Wright em relatório.

Puyfontaine tem dito também à imprensa europeia que não descarta adquirir mais ações da Telecom Italia, se surgirem boas oportunidades. Já a Mediobanca, um dos principais acionistas da Telecom Italia, excluiu a possibilidade de vender sua participação na operadora italiana para a Vivendi. O executivo-chefe do banco italiano, Alberto Nagel, disse que as ações serão vendidas no mercado, na próxima semana. Depois da dissolução da holding Telco, a Mediobanca passou a deter 1,6% diretamente na dona da TIM.

A empresa francesa poderia ainda tentar a venda da TIM Brasil em uma potencial consolidação de mercado em que a Oi, Vivo e Claro dividiriam entre si os ativos da subsidiária italiana.

 

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A consolidação do setor no Brasil é uma oportunidade para 2016, provavelmente envolvendo uma eventual venda ou fusão entre TIM e Oi, diz o BofA. A casa de análise cita questões regulatórias, o balanço financeiro limitado da Oi, a incorporação da GVT pela Telefônica e a disputa com a AT&T, que comprou a DirecTV, como fatores que tendem a adiar a decisão.

Para a Telefónica, o investimento na Telecom Italia pode não ter rendido os frutos esperados. Além das dores de cabeça com os órgãos reguladores do Brasil, a dona da Vivo perdeu dinheiro com a venda das ações. Entrou no capital da italiana, em 2007, a um preço de referência de € 2,82 por ação, mas na terça-feira vendeu suas últimas ações a € 1,18. Ainda assim, com a operação, a Telefónica registrará ganhos antes dos impostos de € 380 milhões nos resultados do primeiro semestre.

A Telefônica entregou à Vivendi 8,2% das ações ordinárias da Telecom Italia. Em troca, recebeu 4,5% do capital da Telefônica, que havia entregue à Vivendi como parte do pagamento pela compra da GVT. Essas ações representam 12% das ordinárias e 0,72% das preferenciais da Telefônica.

Ao sair da Telecom Italia, a Telefônica atendeu às exigências do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional de Telecomunicações para poder ficar com a GVT. A Telefônica não poderia ter participação cruzada na TIM e na Vivo.

Agora o dilema é da Vivendi. Ontem, o Cade informou ao Valor que ainda não há um edital publicado no "Diário Oficial da União" em relação a essa operação de aumento de participação da Vivendi na Telecom Italia. Portanto, o ato de concentração não está em análise. Mas a autarquia lembra que celebrou acordo com a Vivendi e a Telefônica para que a francesa saia da Telefônica (em até três anos) e não compartilhe ou acesse informações sensíveis ou confidenciais dos grupos espanhol e italiano.