Valor econômico, v. 16, n. 3785, 26/06/2015. Finanças, p. C2
Dólar e juros sobem com piora do cenário doméstico
Por José de Castro e Silvia Rosa | De São Paulo
Uma série de fatores negativos no cenário doméstico ontem sustentou a alta do dólar e dos juros futuros. Dados fracos de arrecadação fiscal e do governo central, rumores em torno da Operação Lava-Jato e a dificuldade de aprovação das medidas de ajuste fiscal contribuíram para aumentar a aversão a risco e a tensão no mercado local.
As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) com prazos mais longos foram as que mais subiram. O DI para janeiro de 2017 avançou de 13,94% para 14,06%, enquanto o DI para janeiro de 2021 foi de 12,66% para 12,82%.
O dólar registrou alta de 0,81%, para encerrar a R$ 3,126, descolando do movimento no exterior.
O nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou às mesas de operações ontem, ajudando a aumentar a preocupação com o cenário político local.
Um habeas corpus preventivo, impetrado na Justiça Federal no Paraná na quarta-feira, pedia que o ex-presidente Lula não fosse preso na Operação Lava-Jato caso o juiz federal Sergio Moro decidisse por isso. Contudo, o autor do pedido de habeas corpus, Maurício Ramos Tomaz, não tinha procuração nos autos para representar o ex-presidente e não constava como advogado no cadastro público da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Segundo a própria Polícia Federal, Lula não é alvo de investigação na Operação Lava-Jato.
As taxas de juros futuros já abriram o pregão em alta em meio à preocupação com a capacidade do governo em implementar o ajuste fiscal. Dados fracos da arrecadação e do governo central de maio apenas aprofundaram esse receio. A arrecadação fiscal somou R$ 91,5 bilhões no mês passado, queda real de 4,03% ante o mesmo período do ano passado, em meio a mais uma derrota do governo na aprovação das medidas de ajuste fiscal na quarta-feira.
O dólar ainda chegou a ampliar a alta após a divulgação do resultado do governo central, que registrou déficit primário de R$ 8,05 bilhões em maio. No ano, o superávit primário do governo central soma R$ 6,626 bilhões, o pior resultado para o período desde 1998.
A dificuldade da implementação do ajuste fiscal aumenta o risco de rebaixamento do rating soberano brasileiro.
No próximo mês, o analista sênior para rating soberano da agência Moody's, Mauro Leos, desembarca no Brasil para fazer a análise anual das finanças do país. A nota brasileira pela escala da Moody's é "baa2" e se rebaixada cairia a "baa3", último degrau dentro do grau de investimento. "O rebaixamento da nota do Brasil já é esperado pelo mercado, a grande é dúvida é em relação à perspectiva", diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil. Um viés negativo indica maior chance de perda do grau de investimento numa próxima avaliação.
A alta dos DIs mais curtos ainda foi reforçada pelo tom duro do discurso do diretor de política econômica do BC, Luiz Awazu Pereira, que repetiu em evento em Lisboa que a autoridade está trabalhando de "maneira muito vigilante".
Dentro do esforço para tentar elevar a credibilidade da política monetária, o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou na noite de ontem a redução da banda da meta de inflação para 2017, que passou de 2 pontos percentuais para 1,5 ponto percentual. A meta de inflação continua em 4,5%.