Título: Brasileiros vivem medo e incerteza
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 10/08/2011, Mundo, p. 20

Imigrantes e turistas relatam a angústia diante dos distúrbios nas ruas de Londres

A atmosfera de insegurança que se criou em Londres com os distúrbios dos últimos três dias deixou a comunidade brasileira na cidade em alerta. Ainda que, segundo a Embaixada do Brasil, não haja informação sobre brasileiros atingidos ou envolvidos com os incidentes, vários deles relataram ao Correio momentos de apreensão e incertezas na metrópole ¿ um dos principais destinos de imigrantes do Brasil.

O paranaense Ricardo Zagotto, conselheiro da Associação Brasileira no Reino Unido (Abras), contou que a região onde vive a maioria dos brasileiros em Londres ¿ Brent, em Willesden Junction ¿ não chegou a ser atingida pelos conflitos. No entanto, os comerciantes decidiram baixar as portas na última segunda-feira. Zagotto explicou que, na volta para casa de outros pontos de Londres, muitos brasileiros optaram por caminhos mais longos de metrô, na tentativa de evitar os conflitos. Ele explicou que muitos permanecem reclusos dentro de casa com medo de marginais, que se aproveitam para praticar assaltos.

Há quatro anos na capital britânica, Zagotto garante jamais ter testemunhado nada parecido. "Nunca vi uma reação como esta", afirmou, acrescentando que, em Brent, as pessoas estão de vigília no bairro, discutindo e tentando entender o que está ocorrendo. Uma das versões que ele relatou ter ouvido nas ruas é a de que Mark Duggan, o homem morto pela polícia na quinta-feira, seria um traficante de drogas influente. Os distúrbios deflagrados pelo assassinato fariam parte de uma reação de gangues enfurecidas com a morte. A polícia alega que Duggan foi atingido durante uma suposta troca de tiros no bairro de Tottenham, ao ser abordado por uma unidade que investiga crimes com armas de fogo.

Mas moradores especulam também, segundo o brasileiro, que os distúrbios seriam um reflexo de uma parte da população descontente com os desdobramentos políticos e econômicos no país nos últimos anos. Zagotto cita principalmente aqueles que perderam empregos ou benefícios, os que vivem nas ruas e os imigrantes ilegais, que viram as políticas contra eles recrudescerem com o governo conservador de David Cameron. Para os brasileiros, ainda há o fantasma da história do mineiro Jean Charles de Menezes, morto com sete tiros na cabeça dentro de um vagão de metrô pela polícia, após supostamente confundi-lo com um terrorista, em 2005. "Até pela nossa própria cultura de polícia no Brasil, as pessoas ficam com medo do que possa acontecer aqui", comentou o paranaense.

Recomendações A jornalista Camila Vilela de Holanda, em Londres visitando amigos, contou ao Correio que havia ontem uma preocupação até então inexistente. "Se antes apenas saqueavam lojas e supermercados, já houve casos recentes de incendiarem casas", contou. Ela explicou ainda que há uma orientação para não se expor ou sair às ruas sem necessidade. "Realmente, estou apavorada."

A orientação para não sair está sendo seguida por Ana Carolina Peixoto, que vive no Reino Unido há três anos. "As pessoas estão preocupadas e com um sentimento de insegurança generalizado", disse à reportagem. Para ela, a razão para a revolta parece ser "principalmente o oportunismo". "A coisa começou com gangues de jovens aproveitando-se de uma manifestação pacífica para fazer algazarra, destruir e saquear, e acabou se espalhando."