Título: Chamado à ordem
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 10/08/2011, Mundo, p. 20

De volta das férias, o premiê David Cameron tira o parlamento do recesso e coloca mais 10 mil policiais nas ruas para conter a onda de violência nos subúrbios. Londres registra a primeira morte

Depois de quatro dias de violentos confrontos nas ruas de Londres, o primeiro-ministro David Cameron entrou em cena para mostrar pulso firme. Determinado a conter os atos de vandalismo e ataques à polícia, que se espalharam de Londres para outras grandes cidades, como Birmingham e Liverpool, Cameron convocou 10 mil policiais para reforçarem nas ruas o contingente de 6 mil agentes, suspendeu o recesso do parlamento e prometeu restabelecer a ordem. Desde a noite de sábado, mais de 650 pessoas foram presas e 111 policiais ficaram feridos. Ontem, os motins causaram a primeira morte ¿ um homem de 26 anos, encontrado na véspera em um carro, com ferimento de bala. As ruas da capital britânica ficaram vazias no fim da tarde. Grande parte do comércio fechou as portas mais cedo, com medo de saques. Distúrbios de menor alcance foram registrados nos subúrbios de Manchester e Birmingham.

Cameron encurtou as férias na Itália para enfrentar em pessoa uma onda de violência inédita nos últimos 20 anos. O premiê convocou um comitê de emergência, visitou alguns focos de conflito e convocou para hoje mais uma reunião com ministros da área e os chefes da Scotland Yard, com quem analisará o impacto das ações policiais e decidirá sobre os próximos passos a serem tomados. "Isso é criminalidade pura e simples", disparou o premiê conservador. "Não há dúvida de que faremos tudo que for necessário para restaurar a ordem nas ruas. Se eles (os vândalos) são suficientemente adultos para cometer esses crimes, também são para enfrentar o castigo", ameaçou.

Enquanto as autoridades tratavam de retomar o controle da situação, os cidadãos também começavam a reagir à onda de vandalismo. Em muitos bairros, voluntários assumiram a limpeza das ruas, repletas de destroços de incêndio e saques às lojas. No bairro de Etham, cerca de 200 homens montaram uma vigília para proteger a comunidade, em resposta a rumores de que haveria confrontos.

Destruição Dezenas de edifícios incendiados, carros incinerados pelas ruas e vitrines estilhaçadas eram o retrato da destruição na periferia de Londres e das demais cidades atingidas. O reforço policial parecia ter arrefecido os ânimos dos amotinados, mas incidentes voltaram a se registrar em Birmingham, segunda maior cidade do Reino Unido. Manchester viveu o primeiro dia de distúrbios, com cerca de 200 pessoas enfrentando a polícia no bairro de West Bromwich. "Algumas lojas foram atacadas por grupos de jovens que parecem determinados a provocar desordens", explicou o chefe da polícia local, Terry Sweeney.

O britânico Colin Tighe afirmou que a população está preocupada com a onda de violência e insegurança. "Os jovens parecem estar usando um tiroteio como uma desculpa para criar problemas. Parece que a maioria é de classe baixa. Houve até um saqueador de 7 anos de idade, o que é realmente triste: os jovens sofrendo lavagem cerebral, deixando-se levar. A recessão causou uma desfasagem ainda maior entre pobres e ricos, e as pessoas da classe inferior estão frustradas. Mas isso que está acontecendo não é a resposta", disse o comediante e mágico ao Correio.

Os distúrbios começaram em Londres, no sábado passado. A morte de Mark Duggan, 29 anos, durante um suposto tiroteio com policiais, na última quinta-feira, foi apontado como o estopim da crise. Dúvidas quanto às circunstâncias da morte causaram desconforto para a principal força de segurança do Reino Unido. Segundo uma comissão de investigação, não há provas de que o jovem tenha atirado.

A Scotland Yard recebeu diversas críticas da população e da mídia pela forma como lidou com a crise. E a imagem dos oficiais já tinha sofrido danos recentemente, com o escândalo dos grampos dos tabloides. Empenhada em recuperar sua imagem, a polícia londrina divulgou ontem fotos de 12 suspeitos de saque e vandalismo. O chefe interino da Scotland Yard, Tim Godwin, afirmou que todos os envolvidos devem ser identificados e julgados.