Título: Estudantes voltam a desafiar governo
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Fonte: Correio Braziliense, 10/08/2011, Mundo, p. 21

Dezenas de milhares de pessoas ¿ em sua maioria estudantes ¿ marcharam pelas ruas de várias cidades do Chile em mais um intenso protesto contra o sistema educacional do país. Também foram organizadas paralisações em escola, muitas delas ocupadas há semanas por alunos, e um "panelaço" durante a caminhada realizada no centro da capital, Santiago.

Embora os protestos tenham reunido uma multidão, os confrontos de quinta-feira passada entre manifestantes e policiais ocorreram em menor escala. Nas primeiras horas da manhã, agentes públicos de segurança destruíram barricadas em Santiago e em outros pontos do país. A construção dessas barreiras foi desaconselhada pelos organizadores da passeata. Eles queriam evitar a repetição dos estragos ocorridos em diversos espaços públicos, além das dezenas de feridos levados para centros médicos e dos quase 800 presos durante o distúrbio anterior.

De acordo com a polícia, a manifestação de ontem em Santiago reuniu 50 mil pessoas ¿ os líderes do movimento garantem que 120 mil participaram do ato. Além de alunos de cursos do ensino médio e universitário, o grupo contou com a adesão de professores e mineiros de cobre, entre outros cidadãos.

A multidão de insatisfeitos com o ensino no país foi saudada nas ruas. Jornalistas de meios estrangeiros relataram que balões e papel picado foram lançados pelas janelas de prédios residenciais e comerciais, diante dos quais os manifestantes passavam. Muitos desses admiradores também batiam em panelas e sopravam as famosas cornetas de plástico vuvuzelas, em apoio à marcha.

Independentemente da exatidão dos números de participantes da caminhada, a presidente da Federação Estudantil da Universidade do Chile (Fech), Camila Vallejos, disse que aquela quantidade de pessoas reafirma que a sociedade mantém o apoio irrestrito ao movimento. "O governo é quem não é capaz de ceder", assegurou.

Divergências Em meados de maio, estudantes começaram a expressar ao governo do presidente Sebastián Piñera que o sistema educacional é deficitário. Eles reclamam que muitas escolas públicas de nível médio são mal administradas por governos regionais e que, por isso, deveriam voltar a ser geridas pelo poder federal. Também acusam a proliferação das instituições privadas de ensino superior, que só visariam o lucro, em detrimento da qualidade, e que rarearam os recursos públicos para o crédito educativo.

O Executivo chileno anunciou US$ 4 bilhões de investimentos na educação, no início do mês passado. Os estudantes apontaram que isso seria insuficiente e que nada se fez para acabar com a exploração da educação superior pela iniciativa privada. Pouco depois, Piñera trocou o ministro da Educação, Joaquím Lavín, por Felipe Bulnes, mas isso não acalmou o movimento. Na semana passada, Bulnes apresentou um plano com novas medidas para o sistema de ensino. Além de rejeitada, a proposta desatou os confrontos de quinta-feira, dia em que aprovação popular ao presidente caiu para 26%.