Levy ataca estímulo ao crédito

13 jun 2015

LINO RODRIGUES 

Colaboraram Lucianne Carneiro e Martha Beck

Crítica foi feita um dia após Caixa baixar juros para carros e Dilma pedir mais consumo

 Ao defender ontem ajuste fiscal para uma plateia de empresários em São Paulo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mostrou-se incomodado com alguns segmentos do próprio governo que estão fazendo política de expansão de crédito em momento de aperto da economia brasileira.

PAULO WHITAKER/REUTERSNão pode. ‘Não adianta subir os juros, se vem alguém e expande o crédito’, argumentou o ministro da Fazenda

— O ajuste é para todos os setores. Não pode, no momento que estamos apertando a concessão de crédito, expandir o crédito. Não adianta subir os juros se vem alguém e expande o crédito — disse o Levy, sem citar nomes.

A declaração do ministro foi feita um dia depois de a Caixa Econômica Federal anunciar a redução dos juros na compra de veículos e de a presidente Dilma Rousseff dizer que os brasileiros têm de continuar consumindo. Segundo Levy, o governo pode até dar prioridade a algumas áreas, como foi o caso da construção civil que recebeu mais R$ 22 bilhões para financiar casas para população de menor renda, após limitar empréstimos para classe média.

— No setor de construção civil apertou-se outras áreas e se conseguiu expandir os recursos necessários. Obviamente, se a gente apenas expandir e não fizer nada, haverá um relaxamento na política monetária. E aí não teria adiantado nada (o esforço monetário) e estaríamos pagando juros mais altos — afirmou Levy, durante palestra de quase uma hora na 43ª Reunião do Conselho Consultivo do World Trade Center.

‘MARATONA, NÃO UMA CORRIDA’, DIZ DIRETOR DO BC

Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o maior problema do ministro é que o governo é “fraco” e vai levar tempo para fazer todo o ajuste necessário. Ele salienta ainda que, depois de anos de baixa credibilidade, o BC resolveu ser crível — o que é positivo — mas da maneira como estão fazendo pode haver uma piora na economia em 2016, trazendo riscos para o próprio ajuste fiscal.

Vale considera louvável o esforço de Levy no governo, mas diz que ele continua sozinho com sua equipe e logo será cobrado pelos resultados de crescimento.

— O problema é que ainda em 2016 não teremos PIB maior, pelo contrário, estamos com (projeção) de leve queda de 0,1% — diz o economista da MB.

Já o cientista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências, diz que a dificuldade do ministro é natural para uma agenda complexa e voltada para resgatar a confiança das empresas.

— O ajuste ocorre em momento de instabilidade econômica e política. O braço político é explicado pela baixa popularidade da presidente Dilma e pela disputa entre PT e o PMDB, os dois maiores partidos da coalizão, o que complica o trabalho do ministro — explica Cortez.

Levy destacou que o ajuste fiscal promovido pelo governo está de acordo com a política de realinhamento de preços do Banco Central. O BC, disse o ministro, está tentando passar sinais corretos aos agentes econômicos para não criar mais inflação. No Rio, o diretor de Assuntos internacionais do BC, Tony Volpon, afirmou que levar a inflação para o centro da meta é uma “maratona, não uma corrida” e “persistência e paciência são palavras importantes”. Ele disse que chegar a 4,5%, centro da meta, no fim do ano que vem é crível, e um prazo maior faria os agentes econômicos não acreditarem no cumprimento da missão:

— É tempo hábil para a economia se ajustar. Temos um ano e meio de luta, só que vai ser uma maratona, e não uma corrida. Nossa determinação é de entregar aquilo que estamos sinalizando.

Entre as medidas que o governo estuda para reforçar o caixa, está a repatriação de recursos de brasileiros remetidos ao exterior sem serem declarados à Receita Federal. A ideia é abrir um prazo para que os contribuintes ingressem com esse dinheiro no Brasil, acertem as contas com o Leão e fiquem anistiados de crimes como sonegação, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.