Valor econômico, v. 16, n. 3769, 03/06/2015. Empresas, p. B8

 

Investigado, Blatter renuncia à Fifa

 

Por Agências internacionais

 

Ennio Leanza/KeystoneO presidente da Fifa, Joseph Blatter, anuncia sua renúncia em Zurique

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, anunciou ontem que vai renunciar, em meio ao maior escândalo de corrupção da entidade e apenas quatro dias após ter sido reeleito ao cargo, que ocupa há 17 anos. A mídia americana informou que ele está sendo investigado pelo FBI, a polícia federal dos EUA.

Blatter, de 79 anos, comunicou sua decisão num pronunciamento em Zurique, seis dias após uma blitz policial que resultou na prisão de sete membros da entidade. Entre os detidos, está o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin. Eles são alvo de uma investigação em andamento nos EUA sobre um esquema de corrupção que teria movimentado US$ 150 milhões. A Justiça americana pediu a extradição dos acusados, que podem pegar até 20 anos de prisão nos EUA.

Blatter convocou eleições "o mais rápido possível". Mas, segundo uma autoridade da Fifa, a nova votação deve ocorrer entre dezembro e março de 2016. O suíço, que ficará no cargo até lá, disse que iniciará um processo de "profunda reestruturação" da entidade.

"Decidi concorrer à releição porque estava convencido de que essa era a melhor opção para o futebol", afirmou. "Mesmo que eu tenha um mandato concedido pelos membros da Fifa, não sinto ter um mandato por parte de todo o mundo do futebol - torcedores, jogadores, clubes, as pessoas que vivem, respiram e amam o futebol tanto quanto todos nós na Fifa."

Poucas horas depois, a TV americana ABC News afirmou, citando fontes policiais, que Blatter é alvo de uma investigação do FBI.

No fim de semana, Richard Weber, investigador-chefe do IRS, a receita federal americana, já havia afirmado que a investigação sobre a Fifa incluiria acusações criminais contra mais pessoas e levaria a novas prisões. Anteontem, o "New York Times" revelou que a Justiça americana apura o envolvimento do braço-direito de Blatter, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, numa transferência de US$ 10 milhões usados para pagar propina.

O escândalo na Fifa pode ameaçar a realização das Copas na Rússia (2018) e no Qatar (2022), já que parte das denúncias envolve compra de votos para essas candidaturas. Na semana passada, enquanto analistas apontavam razões geopolíticas para as ações contra a Fifa, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que o objetivo dos EUA era impedir a reeleição de Blatter, que estaria pressionado a vetar a organização da Copa na Rússia.

Putin afirmou que os EUA tentam "impor sua jurisdição" aos demais países, já que "nenhum dos crimes ocorreu" naquele país. Ontem, o russo se disse surpreso com a renúncia de Blatter.

A investigação sobre a corrupção na Fifa envolve também irregularidades em contratos comerciais e de venda de direitos de transmissão de competições.

Patrocinadores da Fifa, a Coca-Cola, a Budweiser e a Adidas comemoraram a decisão de Blatter, dizendo que a entidade precisa se modernizar e restaurar a confiança. "Essa decisão ajudará a Fifa a se transformar rapidamente em uma muito necessária estrutura e instituição do Século XXI", disse a Coca-Cola em um comunicado.

O presidente da Federação Europeia de Futebol (Uefa), Michel Platini, disse que a renúncia foi "uma decisão difícil, uma decisão corajosa, e a decisão correta".

Crítico de Blatter, o presidente da federação inglesa de futebol, Greg Dyke, disse que a saída é uma boa notícia para o mundo do futebol", mas questionou as motivações de Blatter. "Quem o pegou? Quem o derrubou?", questionou.