PF faz busca em agência de Brasília

 

26/06/2015 
 
João Valadares
Eduardo Militão
 
Agentes levam documentos e computadores da empresa Pepper Comunicação, sediada em Brasília e responsável pelas contas do PT nas mídias sociais. Alvo é o governador de Minas, Fernando Pimentel, que trata a ação como "arbitrária" 

O desdobramento da segunda fase da Operação Acrônimo, da Polícia Federal, desencadeada na manhã de ontem, atinge o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). Os 31 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Não houve prisões. Na capital federal, os policiais estiveram na Pepper Comunicação, responsável pelas contas do PT nas mídias sociais. A empresa, situada no Brasília Shopping, atuou nas campanhas da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2010 e 2014.

De lá, os agentes levaram documentos e computadores. A investigação, até o momento, aponta indícios de que o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, um dos presos da Acrônimo e já em liberdade, seria o operador do suposto caixa 2 da campanha vitoriosa de Pimentel. De acordo com fontes com acesso ao inquérito, a buscaria na Pepper se justifica pela ligação da empresa com a primeira-dama de Minas Gerais, Carolina Oliveira Pereira.

Ontem, a defesa do governador alegou que ele estava à disposição da Justiça para prestar qualquer esclarecimento. Os advogados avaliaram que o pedido da Polícia Federal para realizar buscas na residência oficial do governador é desnecessário e excessivo. A defesa alega ainda que existe uma espetacularização do caso.

Por meio de nota oficial, o governo de Minas Gerais classificou as ações de busca e apreensão realizadas no antigo escritório do governador como “arbitrárias”. A administração estadual afirma que as acusações de irregularidades são “deduções fantasiosas”, na mesma linha das que foram feitas a Carolina Oliveira, mulher de Pimentel, que teve a residência como alvo da primeira fase da Operação Acrônimo, no início deste mês. Ela chegou a trabalhar na Pepper. Segundo a Polícia Federal, a primeira-dama teria uma empresa de fachada, a Oli Comunicações e Imagens, que foi usada pela organização do empresário.

O governo diz ainda que vai resistir. “Resistiremos a qualquer tentativa de impor a Minas Gerais constrangimentos indevidos e antirrepublicanos”, diz a nota. O PT comunicou que a Pepper continuará prestando serviços ao partido. A agência informou, por meio da assessoria de imprensa, que continua à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos solicitados. Afirmou também que deu acesso a todos documentos requeridos pelos policiais federais.

Solicitação
Em Belo Horizonte, a Polícia Federal esteve no local onde funcionava o escritório político do petista durante a campanha eleitoral do ano passado. A PF também pretendia realizar buscas na residência oficial do governador mineiro, na antiga residência dele, no gabinete, na sede do PT em Minas Gerais e no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Superior Tribunal de Justiça (STJ) não autorizou. Os policiais também estiveram na empresa P-21, que já pertenceu ao político mineiro. Hoje, a consultoria pertence apenas a um filho do antigo sócio do governador e tem um novo nome: OPR.

Na sede da agência Pepper no Rio de Janeiro, os funcionários foram dispensados de ir ao trabalho e também houve apreensão de documentos e de computadores.

A PF solicitou ao STJ, na semana passada, autorização para abertura de inquérito contra o governador para apurar suposto crime de “lavagem ou ocultação de bens, direitos ou valores”. A decisão ainda não foi proferida. Um dos principais motivos é a ligação de Bené com o petista.

Flagrado em seu avião com R$ 113 mil em espécie, o empresário teria pedido doação de campanha para o governador de Minas Gerais já em dezembro de 2013, quando ele ainda era ministro do governo de Dilma Rousseff. É o que mostram uma anotação na agenda do empreiteiro Gérson Almada, dono da Engevix, e um depoimento à Polícia Federal na Operação Lava-Jato. Não houve ajuda, segundo disse o empreiteiro. Mas, em agosto do ano passado, a Engevix doou R$ 190 mil para o diretório mineiro do PT, de acordo com dados públicos da Justiça Eleitoral.

O advogado do empresário, Celso Lemos, informou que seu cliente tem ligações com o PT de Minas. Por meio dele, Bené negou o encontro com Almada e ressaltou que não arrecadou dinheiro para a campanha do petista.

O depoimento do empreiteiro foi prestado na Superintendência da PF em Curitiba, em 2 de abril, quase dois meses antes de Bené ser preso na Operação Acrônimo, em 29 de maio. O delegado da Polícia Federal Eduardo Mauat questionou Almada sobre motivo da anotação “Bené/Pimentel” em sua agenda, apreendida pela PF na Lava-Jato. O vice-presidente da Engevix disse que foi um encontro do empresário na sede da empreiteira no Rio de Janeiro em 5 de dezembro de 2013. “O declarante recebeu uma visita (…) de uma pessoa que conhece pelo nome de Bené, tendo este solicitado apoio financeiro para a campanha de Fernando Pimentel, candidato do PT”, explicou o empreiteiro, no início de abril, quando ainda estava preso em Curitiba.

A investigação, que apura as suspeitas de que Bené desviou e lavou parte dos R$ 525 milhões recebidos do governo federal, começou em outubro de 2014, logo depois que o empresário desembarcou em Brasília com um King Air com dinheiro vivo. Ele havia passado antes em Montes Claros (MG), onde houvera um evento de campanha de Pimentel.

“Resistiremos a qualquer tentativa de impor a Minas Gerais constrangimentos indevidos e antirrepublicanos”
Trecho da nota do governo de Minas Gerais

R$ 113 mil
Dinheiro encontrado no avião de Benedito Rodrigues, o Bené, em outubro de 2014 

Sérgio Moro: "Lula não é investigado"

EDUARDO MILITÃO
Enviado especial
Curitiba — Dias depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizer a interlocutores que seria o próximo alvo do juiz Sérgio Moro na Operação Lava-Jato, o magistrado informou ontem que não há “qualquer investigação em curso” contra o petista na 13ª Vara Federal de Curitiba. Por meio de nota, ele prestou esclarecimentos “a fim de afastar polêmicas desnecessárias”.

Anteontem, um morador de Campinas que se apresenta como “consultor jurídico na área criminal e cível”, mas sequer tem diploma de curso superior, ingressou com habeas corpus preventivo para evitar uma futura prisão de Lula na Lava-Jato. Maurício Ramos Thomaz admitiu ao Correio que tomou a iniciativa sem o conhecimento do ex-presidente da República.

O recurso foi negado ontem pelo mesmo pelo desembargador Antônio Gebran Neto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que classificou o pedido uma “aventura jurídica”. O suposto “consultor” baseou a suspeita em notícias de sites da internet e no histórico considerado do Judiciário paranaense, que ele considera ruim. Motivo? “Quase fui preso em Maringá”, contou Thomaz ao jornal. Ele diz que responde uma série de processos no estado, todos irregulares.

Thomaz — que votou em Dilma Rousseff no primeiro e no segundo turno e tem preferência por candidatos a deputado do PSol — já se notabilizou por buscar fama entrando com habeas corpus em favor de outras personalidades, como os réus do mensalão Marcos Valério, Roberto Jefferson e Kátia Rabello, além do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. O Instituto Lula afirmou que não pediu para ninguém ajuizar habeas corpus em favor do ex-presidente.

"A fim de afastar polêmicas desnecessárias, informa-se que não existe, perante este juízo, qualquer investigação em curso relativamente a condutas do Exmo. ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva”
Sérgio Moro, juiz da Lava-Jato

Delação homologada
O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou ontem à noite a delação premiada firmada entre o dono da UTC, Ricardo Pessoa, com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Pessoa firmou o acordo de colaboração no dia 13 de março. Ele é acusado de coordenar o clube vip das empreiteiras que teriam participado do cartel que desviou recursos da Petrobras. A delação tem cerca de 80 páginas e faz menção a alguns nomes já investigados na operação Lava-Jato, como o do senador Romero Jucá (PMDB-RR).