Líderes adotam cautela ao comentar denúncias

ANDRÉ SHALDERS E JULIA CHAIB

27/06/2015

O vazamento de informações atribuídas à delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, presidente da UTC, foi recebido com cautela pela maioria das lideranças do Congresso Nacional. Da oposição à base do governo, os parlamentares preferiram a parcimônia ao comentar a lista de políticos acusados de terem recebido doações de campanha que, segundo Pessoa, tiveram origem em recursos desviados da Petrobras. Mesmo porque os recursos abasteceram campanhas não apenas de petistas, mas de ao menos um senador da oposição: Aloysio Nunes (PSDB-SP).

Os deputados e senadores ouvidos pelo Correio disseram que é preciso aprofundar as investigações antes de formar um juízo de valor sobre as declarações de Pessoa, na delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Temos que tomar cuidado para não cometer algum tipo de injustiça. Se for doação legal, não tem problema. Mas, como não temos a exata noção do teor da delação, não sabemos o que é legal e o que é ilegal, tampouco se existe algo ilegal nas doações oficiais”, disse o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS).

Posição similar foi manifestada pelo líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE). “É preciso apurar para saber, em primeiro lugar, o que foi doação oficial e o que foi caixa dois. E, depois, é preciso separar ainda a doação legítima daquela que foi feita sob coação, ou que foi feita a partir do envolvimento no esquema do petrolão”, disse. “Como ainda não tive acesso (à delação de Pessoa), prefiro não tecer maiores comentários.”

O petista Paulo Teixeira (SP) saiu em defesa dos correligionários apontados como beneficiários do esquema. “Delação premiada é como aquele tiro ao alvo de festa junina, com espingarda de rolha e uns patinhos de borracha. O cara sai atirando para ver se derruba alguém. Entrega a mãe, entrega o pai, o avô. Tudo para se ver livre da cadeia. Agora, ele (Pessoa) tem que provar que houve crime. Se não provar, de nada vale a delação.”

Já o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que as “informações merecem toda atenção e devem ser analisadas criteriosamente e com serenidade frente a gravidade que elas podem ter no quadro político nacional. O parlamentar ainda saiu em defesa do colega Aloysio Nunes. “São doações ocorridas dentro da legalidade e integralmente declaradas à Justiça Eleitoral”, afirmou.

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), reforçou a importância da delação de Pessoa, mas também defendeu o colega de bancada. “Todas as delações são importantes para esclarecer as denúncias de corrupção na Petrobras. Tudo que for dito precisa ser investigado, e os citados, caso sejam comprovadas as irregularidades, deverão ser punidos. Tenho plena confiança de que o senador Aloysio Nunes poderá esclarecer se houve ou não algum tipo de doação da UTC”, disse.

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Eduardo Militão

Curitiba — Além da condenação criminal por corrupção e lavagem de dinheiro, o Ministério Público Federal quer que executivos da Galvão Engenharia e da Engevix paguem R$ 418 milhões. Os valores são a soma de reparação por danos causados pelo desvios de dinheiro da Petrobras e também pela perda de bens apreendidos nas ações de busca e apreensão da Operação Lava-Jato, como carros, dinheiro em espécie, obras de arte e valores em contas-correntes e de investimento.

Os executivos são acusados de participarem de cartel na Petrobras, que embutia 3% nos preços e repassava o adicional a políticos e a funcionários da estatal sob a forma de propinas. Além de empreiteiros, como Dario Galvão e Gérson Almada, são acusados o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.

Advogados da Braskem, empresa da Odebrecht, entregaram ontem e-mails do ex-diretor da empreiteira Roberto Prisco Ramos, o “RR” tratado em bilhete do presidente da construtora, Marcelo Odebrecht, preso na Lava-Jato. Na mensagem escrita da prisão, Marcelo diz: “Destruir e-mail sondas”, seguido de uma seta RR. É uma referência ao correio eletrônico enviado por Ramos para Marcelo em que afirma ser preciso fazer “sobrepreço” de 20 mil a 25 mil dólares na construção de navios-sondas para a Petrobras. Segundo a Odebrecht, “destruir” significa contestar a argumentação da Polícia sobre o e-mail. E “sobrepreço” significaria taxa de lucro no aluguel das embarcações.