Plano de saúde opõe cunha a servidores

André Shalders

20/06/2015

A insatisfação dos servidores concursados da Câmara com o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), parece ter chegado ao limite. Na tarde de segunda-feira, eles farão uma vigília no Salão Verde. No dia seguinte, haverá assembleia da categoria, com indicativo de greve. Se a paralisação se confirmar, será o primeiro movimento do gênero na Casa em anos. O motivo da crise é uma conversa entreouvida na reunião do Colégio de Líderes na última terça, segundo a qual Cunha e outros integrantes da Mesa Diretora estariam planejando mudanças no plano de saúde corporativo dos servidores, o Pró-Saúde. Ontem, chegaram a protestar brevemente em frente ao gabinete de Cunha.

No fim da tarde, o presidente da Casa disse que o novo diretor-geral da Câmara, Rômulo Mesquita, vai “esclarecer” os servidores sobre o tema. “Eu fiz uma reunião, e o diretor-geral está expedindo um comunicado. Não dá para viver de fofoca aqui. E eu não vou me inibir de conhecer a gestão de cada parte que está subordinada a mim, em função de as pessoas acharem que vou promover mudanças. O que eu não posso é onerar o contribuinte mais do que o necessário. Ninguém vai alterar uma vírgula do plano existente nem onerar o servidor”, disse Eduardo Cunha. Ele admitiu, porém, que pode rever os repasses da Câmara ao plano de saúde. “Não teria sentido a União colocar dinheiro, uma vez que o plano tem uma reserva milionária, formada com recursos da própria União”, escreveu o peemedebista em uma rede social.

Segundo um servidor com acesso à reunião e a Eduardo Cunha, os debates em torno do Pró-Saúde começaram na reunião da Mesa da semana passada — Cunha quis saber se seria mais vantajoso a Câmara continuar ressarcindo os gastos médicos dos deputados, como é feito hoje, ou se seria mais barato contratar planos de saúde. “O que se mostrou a ele é que os reembolsos, hoje, custam cerca de R$ 2 milhões por ano. Os planos ficariam entre R$ 17 milhões e R$ 22 milhões anuais. Ele descartou a ideia”, disse. Cunha, então, determinou que se analise o funcionamento do Pró-Saúde para saber se há necessidade de a Câmara continuar aportando dinheiro ao fundo. Mantido pela Casa e pelos servidores, o Pró-Saúde é autossustentável e tem reservas disponíveis.

Seguro
As explicações, no entanto, não acalmaram os servidores, que protestaram ontem aos gritos de “Não! Não! No Pró-Saúde, não!”. “Uma colega me ligou apavorada com a seguinte informação: o Cunha quer acabar com o nosso plano de saúde. Em reunião com alguns diretores, teria dito que a intenção dele é extinguir o plano, pegar o fundo (que tem saldo superior a R$ 350 milhões) e fazer um seguro para os deputados. Ele quer fazer isso na surdina, até segunda-feira”, dizia uma mensagem que circulou nos celulares dos servidores durante a semana. “Na realidade, o Arlindo Chinaglia (PT-SP) tentou vender esse nosso plano de saúde quando foi presidente (da Casa). Na certa, o que Cunha planeja é agradar às operadoras de planos de saúde que financiaram a campanha dele, ao enfraquecer o Pró-Saúde”, disse um servidor, sob condição de anonimato.

O vice-presidente do Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e Tribunal de Contas da União (Sindilegis), Paulo Cezar Alves, confirmou que o Pró-Saúde possui reservas, mas que a Casa precisa continuar contribuindo para a manutenção do plano, conforme os servidores vão envelhecendo. “A gente acha que esses R$ 350 milhões são para a saúde futura. Os custos estão aumentando muito. É uma gordura para ser usada no futuro”, disse. “Os recursos que estão na reserva serão usados para custear os tratamentos mais caros que, eventualmente, um servidor precise”, acrescentou.