Bolsa família para políticos

21/06/2015
LUIZ RIBEIRO

Nada menos do que 1,7 mil parentes de prefeitos, vices e vereadores eleitos em 2012 receberam dinheiro do programa federal. Ministério tenta reaver os valores pagos irregularmente

Criado com o objetivo de retirar pessoas da extrema pobreza, o programa Bolsa Família também abasteceu a conta de esposas, filhos, sobrinhos e outros parentes de políticos pelo Brasil. De acordo com o próprio Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), 1,7 mil familiares de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos em 2012 receberam o benefício durante alguns meses ou anos desde as últimas eleições municipais. A suspensão do pagamento, segundo o MDS, ocorreu tão logo foi constatado que eles não se enquadravam nas condições do programa.

Além do desligamento dos parentes dos políticos do Bolsa Família, a pasta cobrou o ressarcimento dos valores recebidos após a posse. Em todo o território nacional, 1,2 mil (70% do total) pessoas já devolveram os recursos, totalizando R$ 892 mil.

Um dos últimos casos de pagamento irregular do Bolsa Família envolve o vereador Rodrigo Cadeirante (PTN), de Montes Claros (MG). Mesmo com um salário de R$ 15,1 mil por mês, durante dois anos, ele acabou tendo a renda da família “complementada” com o benefício. Em levantamento realizado pela prefeitura da cidade, foi verificado que a mulher dele, Lusimar Verissimo dos Santos, recebeu, entre 2010 e 2015, R$ 147 mensais do programa federal, totalizando R$ 3.528. Rodrigo Cadeirante disse que não sabia do recebimento do benefício pela mulher. “Se ela estiver errada, terá de pagar pelo erro”, afirmou. O cartão dela foi suspenso, e a prefeitura anunciou o encaminhamento do caso ao Ministério Público Federal (MPF) e à Polícia Federal.

Carentes
Enquanto parentes de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores burlam as regras e recebem os pagamentos do Bolsa Família, pessoas desassistidas pela iniciativa tentam, mas não conseguem receber o benefício. Gislene Ribeiro, 44 anos, mãe de três filhos, é um exemplo. Moradora de um barraco de três cômodos erguido num terreno invadido, debaixo de uma rede de alta tensão na Vila Mauricéia, área carente de Montes Claros, ela conta que, por mais de uma vez, tentou fazer o cadastro, mas não conseguiu a inclusão no programa. “O problema é que eu era fichada e ganhava um salário mínimo, mas depois fiquei desempregada”, diz Gislene, assegurando que, atualmente, procura o sustento como diarista, mas não é todo dia que encontra serviço.

“Tentei várias vezes, mas nunca consegui nada do Bolsa Família”, diz o desempregado Mauro Cardoso Barbosa, de 47 anos, pai de seis filhos, morador do Conjunto Chiquinho Guimarães, também uma das regiões mais pobres de Montes Claros. Mauro conta que recebe um salário mínimo por mês, a pensão da ex-mulher, morta em virtude complicações no parto em 1998. “Disseram que, por causa da pensão, eu não tenho direito ao cadastro, mas, como tenho seis filhos, acho que posso receber (o benefício), sim”, reclama. “Está muito difícil para a gente viver. A maior dificuldade é pagar as contas de água e de luz, pois a feira leva todo o dinheirinho da gente”, lamenta Mauro.