Sem consenso nos juros

11 jun 2015

CÁSSIA ALMEIDA 

Inflação acima do esperado e recessão, forças antagônicas na política monetária

“Estamos tomando doses cavalares, radioativas, de juros todos os dias e a inflação continua alta”
Fábio Silveira
Economista da GO Associados

Ainflação surpreendeu novamente. Veio acima das expectativas, e a aposta de que o Banco Central continuará a subir juros ganhou força. Alguns especialistas veem razão para que a autoridade monetária continue o aperto nos juros que vem desde outubro do ano passado, há oito meses seguidos, com a Taxa Selic subindo de 11% para 13,75% ao ano. Outros, não. Há o receio que a economia, já em recessão, deprima ainda mais, e os brasileiros tenham que enfrentar dois anos seguidos de economia em queda.

Diante do aperto dos juros, há economistas prevendo recessão também em 2016, como Sérgio Vale, da MB Associados. Ele critica a ação do Banco Central, que, na sua opinião deveria ter subido mais os juros no começo do aperto monetário, num sinal claro de combate à inflação, que deve ficar perto de 9% no fim do ano. Dessa forma, poderia suspender a alta de juros e não afetar o desempenho econômico de 2016. Outra opção seria aumentar o horizonte de queda da inflação, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA), do IBGE, que orienta o sistema de metas de inflação do governo, alcançando o centro da meta, de 4,5%, só em 2017. A promessa do BC é chegar a esse patamar no fim de 2016.

— Mas o banco quis, de repente, reconquistar a credibilidade perdida fazendo essa opção de alta consistente e demorada. Implicitamente podem ter começado a acreditar que a política fiscal não ajudaria tanto. O grande problema continua sendo de comunicação: atas e relatórios não sinalizavam essa agressividade atual. O resultado disso é que podemos ter queda de PIB novamente em 2016, estamos prevendo recuo de 0,1%.

Para este ano, a previsão média dos analistas é de queda de 1,3% no PIB e para 2016, crescimento de 1%, na média também.

Fábio Silveira, diretor de Pesquisas Econômicas da GO Associados, afirma que já passou da hora de os juros pararem de subir. Para ele, mais aperto monetário é inócuo, não fará a inflação cair e só vai jogar a economia ainda mais para baixo.

— Estamos combatendo um problema estrutural, a indexação da economia ( quando a inflação passada é repassada para os preços no presente como os contratos de aluguel, escolas, plano de saúde), com um movimento conjuntural. Estamos tomando doses cavalares, radioativas, de juros todos os dias e a inflação continua alta. Não estamos querendo olhar de frente o problema. Não descarto outra recessão no ano que vem.

Silveira prevê alta de 0,7% no PIB em 2016, por enquanto, afirma. Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria, diz que os juros têm que continuar subindo. As surpresas negativas na inflação se sucedem em alimentos e na alta do plano de saúde, por exemplo. Ela acredita que a Taxa Selic vai a 14% ao ano e começa a cair a partir do segundo trimestre de 2016, previsão mais pessimista que a média do mercado, que vê reduções a partir do primeiro trimestre:

— Na nossa avaliação, tem que subir mais os juros sim. Houve um choque tremendo nos administrados ( preços controlados como energia, plano de saúde, transporte público). O risco da propagação é bastante significativo. Só se consegue evitar a contaminação com juro para cima e atividade para baixo. Claro que dói, mas é importante reforçar que estamos vivendo isso devido à perda de credibilidade do BC nos últimos quatro anos.

O professor da PUC- Rio Luiz Roberto Cunha acha a Taxa Selic já chegou a um bom tamanho .

— Seria interessante aguardar para ver como a atividade vai reagir. A alta dos juros também aconteceu para que o BC retomasse a credibilidade. E a economia não está estagnada apenas pelo aumento de juros, tem muito a ver com o quadro geral político muito incerto e o confuso, o efeito da Petrobras. Tudo isso fez a atividade econômica cair de forma mais intensa.

Acreditando ou não que os juros devem subir, parece que só o BC crê que a inflação ficará em 4,5% no fim de 2016. As expectativas estão entre 5,5% e 6%. Só em 2017 a inflação cairia para o nível desejado para o BC em 2016. Isso se a inflação não continuar a trazer surpresas negativas.