Gastos no exterior recuam

23/06/2015 

Antonio Temóteo

 

Especialista recomenda que viajantes levem divisa em espécie para evitar sustos com compras no cartão (Vanderlei Almeida/AFP - 13/3/15)

Especialista recomenda que viajantes levem divisa em espécie para evitar sustos com compras no cartão

 


O encarecimento do dólar e o descontrole inflacionário, que corrói a renda das famílias, levaram os brasileiros a reduzir drasticamente os gastos em viagens ao exterior. Dados do Banco Central mostram que, em maio, os turistas desembolsaram mais de US$ 1,4 bilhão durante as visitas a outros países. O valor é o menor para o mês desde 2010 e 37,4% inferior ao apurado no mesmo período do ano passado. De janeiro a maio, essas despesas chegaram a US$ 8,3 bilhões, patamar mais baixo em cinco anos.

O chefe do Departamento Econômico, Tulio Maciel, explicou que, com o dólar mais alto, os brasileiros têm evitado fazer viagens para o exterior. Em maio, a moeda norte-americana registrou alta de 5,78%, cotado a R$ 3,18. E nos cinco primeiros meses de 2015, o custo da divisa subiu 19,8%. Esse movimento afeta o valor das passagens aéreas, das diárias dos hotéis, dos produtos e da alimentação. Não à toa, as companhias de aviação civil e as agências de viagens têm procurado fazer promoções para atrair turistas.

Essa missão, no entanto, não tem sido fácil, já que o custo de vida disparou nos primeiros meses do ano. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), a prévia da inflação, aponta que até junho a carestia acumula até 6,28%. Com produtos e serviços mais caros, sobra pouco dinheiro para viagens. Nas despesas com viagens no exterior, houve uma reversão. Essa despesa vinha crescendo nos últimos anos. É um item muito sensível à taxa de câmbio. Claro que o menor nível de atividade econômica também contribui nesse sentido. Mas, fundamentalmente, o encarecimento do dólar se refletiu nessa conta neste ano, detalhou Maciel.

Cuidados
No ano passado, os gastos de brasileiros no exterior chegaram a US$ 25,6 bilhões, um recorde. O resultado não deve se repetir neste ano, mas algumas empresas têm tentado driblar o pessimismo. O diretor de Desenvolvimento de Negócios da Western Union para a América Latina, Luiz Citro, admitiu que a volatilidade do câmbio em 2015 tem deixado os consumidores inseguros para planejar passeios ou promover gastos no cartão de crédito, sem saber se no vencimento da fatura haverá queda do dólar.

Diante da volatilidade da divisa, ele sugeriu que os interessados em viajar comprem a moeda, em espécie, antes da viagem para não ser surpreendidos com oscilações abruptas. Temos investido na expansão da nossa rede de atendimento para continuar a crescer, mesmo em um momento de valorização do dólar. Entre remessas e vendas da moeda em papel,  já crescemos 5% em relação ao volume negociado em 2014. Esse ano será marcado pela volatilidade do dólar e as pessoas têm que tentar se proteger desses movimentos.

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IED despenca 35%  

23/06/2015
 
O esquema de corrupção na Petrobras revelado pela Operação Lava-Jato, o atraso na divulgação do balanço da companhia e o risco de racionamento de energia foram responsáveis pela queda dos investimentos de estrangeiros no Brasil, afirmou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel. De janeiro a maio, a entrada desses recursos despencou 35,1% em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a US$ 25,5 bilhões.

Em maio, o investimento estrangeiro direto (IED) no país chegou a US$ 6,6 bilhões, uma alta de 13,7% em relação a abril. Entretanto, quando comparado a igual período do ano passado, despencou 31,4%. Maciel projetou que, até dezembro, US$ 80 bilhões ingressarão no país. Segundo ele, o esquema de corrupção relevado na Petrobras e possibilidade de racionamento afugentaram o capital estrangeiro no primeiro semestre, mas há uma expectativa de que o fluxo melhore nos seis últimos meses do ano. “Esses eventos não econômicos foram prejudiciais, mas, tradicionalmente, o segundo semestre é melhor que o primeiro”, disse.

Surpresa
Para o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, o investimento estrangeiro em maio surpreendeu positivamente, uma vez que ele esperava a entrada de apenas US$ 4,3 bilhões. De acordo com ele, em 12 meses, o indicador somou US$ 86,1 bilhões, o equivalente a 3,89% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar da surpresa, Barros estimou que o resultado do ano será 27,7% menor do o que do ano passado, quando chegou a US$ 96,9 bilhões. “O investimento direto no país deve somar US$ 70 bilhões”, afirmou.
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Crise reduz deficit externo

A recessão econômica e o encarecimento do dólar são apontados pelo chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, como os principais fatores que implicaram queda do deficit em transações correntes em 2015. Nos cinco primeiros meses do ano, o prejuízo encolheu 20,2% e chegou a US$ 35,8 bilhões. Em maio, a queda foi mais intensa, de 57,2%, quando as contas externas fecharam no vermelho em US$ 3,3 bilhões. A autoridade monetária esperava um saldo negativo de US$ 5,4 bilhões.

Maciel disse que o superavit da balança comercial de US$ 2,5 bilhões, influenciado sobretudo pela forte queda das importações, ajudou reduzir o prejuízo nas contas externas. Ele explicou que a redução da atividade econômica e o encarecimento do dólar levaram os empresários a reduzir a compra de produtos de outros países. O chefe do Departamento Econômico do BC ainda ressaltou que a alta do preço da divisa norte-americana brecou as viagens de brasileiros ao exterior e queda nas despesas com viagens favoreceram o balanço de pagamentos.

Expectativas
A autoridade monetária projetou que o deficit em transações deve encerrar o ano em US$ 81 bilhões, valor que corresponde a 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB). No passado, o prejuízo chegou a US$ 104,8 bilhões, o equivalente a 4,47% da geração de riquezas no país. O economista-chefe da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira, ainda ressaltou que a melhora das contas externas está ligada a redução de remessas de lucro ao exterior, que despencaram 43% nos cinco primeiros meses do ano. Segundo ele, a recessão econômica afeta o faturamento das companhias. Silveira afirmou que esse movimento terá impacto na redução do investimento estrangeiro no país. (AT)