Calote chega a 35,4% no cartão de crédito

ANTONIO TEMÓTEO

Data: 24/06/2015 
 
Dados do Banco Central mostram que as faturas com atraso de mais de 90 dias somam R$ 32,1 bilhões. Modalidade é a que tem os juros mais altos: no sistema rotativo atingiram 360,6% ao ano em maio.

O calote no cartão de crédito rotativo voltou a crescer em maio. Dados do Banco Central mostram que a taxa de inadimplência desse tipo de operação chegou a 35,4%, uma elevação de 0,7 ponto percentual em relação a abril. É o segundo mês consecutivo de alta. Na prática, significa dizer que de cada 100 devedores, 35 deixaram de pagar a fatura por mais de 90 dias. No cheque especial, a situação é a mesma. É o terceiro mês seguido de aumento no índice que mede a quantidade de brasileiros que não honram os compromissos em dia, que chegou a 14,2%. De cada 100 pessoas, 14 deram o cano nas instituições financeiras que disponibilizaram o limite emergencial para os clientes.

Além da alta na inadimplência, o total de recursos emprestados por meio do crédito rotativo do cartão e do cheque especial são os que mais crescem entre todas as modalidades monitoradas pelo BC. No caso do limite emergencial oferecido sem análise previa pelos bancos, já são devidos mais de R$ 27 bilhões. Uma expansão no acumulado do ano de 10,5%. As faturas em atraso já totalizam R$ 32,1 bilhões, uma elevação de 13,3% entre janeiro e maio. Esse montante compõe os R$ 1,45 trilhão devidos pelos brasileiros às instituições financeiras.

O chefe do Departamento Econômico da autoridade monetária, Tulio Maciel, afirmou que os volumes são pequenos em relação ao estoque total de crédito do sistema financeiro. Entretanto, ele ressaltou que as variações são acompanhadas pelo BC para verificar qualquer nível de descontrole. Maciel ainda comentou que do ponto de vista da educação financeira é importante alertar os consumidores que essas são as modalidades de crédito com juros mais elevados. O cartão de crédito rotativo atingiu taxa de 360,6% ao ano, o maior patamar desde o início da série histórica, em março de 2011. Os juros do cheque especial em maio chegaram a 232% ao ano.

Prejuízos
Na avaliação do economista da Tendências Consultoria Rodrigo Baggi, os dados do BC mostram que nos cinco primeiros meses do ano os brasileiros têm recorrido às modalidades de crédito com maiores taxas de juros para quitar compromissos de curto prazo. Para ele, os bancos têm levado em conta a possibilidade de perdas futuras na hora de aumentar juros e restringir o acesso às operações com taxas mais atrativas. “Por outro lado, as famílias também têm reduzido a propensão em consumir em um momento de aperto da condição financeira, com a inflação em alta”, explicou.

Baggi ainda afirmou que mesmo com as restrições para acesso a crédito, o aumento do desemprego pode levar a expansão da inadimplência nos próximos meses. Não à toa, as instituições financeiras têm elevado as provisões para perdas e devem manter essa postura. “Há uma incerteza grande quanto ao efeito da Lava-Jato no mercado de crédito, mas por outro lado, a expectativa de que mais pessoas endividadas sejam dispensadas devido ao nível de atividade é fraco, também preocupa os bancos”, sinalizou.

Juro atinge 57,3% ao ano

Os juros médios das operações de crédito com recursos livres, oferecidas pelas instituições financeiras aos brasileiros, chegaram a 57,3% ao ano em maio. Esse é o maior percentual desde o início da série histórica, em março de 2011. Dados do Banco Central apontam que o indicador acumula alta de 7 pontos percentuais nos cinco primeiros meses do ano. A autoridade monetária informou que essa evolução decorre da elevação da taxa básica de juros (Selic) que está em 13,75% ao ano.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, explicou que os bancos têm promovido ajustes tanto nas taxas, quanto nas condições de financiamento para evitar perdas. “O comportamento do mercado de crédito segue o ajuste macroeconômico em curso. Também faz parte desse cenário, o menor crescimento da atividade econômica neste e no ano passado”, comentou.

Pelas contas do BC, os juros em alta e arrefecimento da economia implicarão uma desaceleração no ritmo de expansão do estoque de crédito. Maciel explicou que a evolução dos dados de janeiro a maio levou a autoridade a revisar as projeções para o estoque total de recursos emprestados, para crescimento de 9%. Em março, o a autoridade monetária projetava que o total de recursos emprestados aos brasileiros e as empresas aumentaria 11%.

Expectativas
Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola, as perspectivas para o mercado de crédito permanecem ruins. Para ela, os dados do BC apontam para retração das operações, taxas de juros mais elevadas e maior seletividade dos bancos na concessão, por temor de elevação futura da inadimplência. “Com bancos públicos de fato mais comedidos, pode ser que tenhamos um ano de retração nominal do crédito, movimento inédito desde 2003. Continuamos esperando retração de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB). (AT)

Crédito imobiliário cai

As concessões de crédito imobiliário despencaram 29% em maio na comparação com o mês imediatamente anterior, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). As instituições financeiras liberaram no quinto mês do ano R$ 8,4 bilhões para que os brasileiros realizassem o sonho de ter o próprio imóvel. Com a redução do volume de recursos emprestados, o estoque total de financiamentos para a compra de casas, apartamentos e salas cresceu apenas 1% e chegou a R$ 465,1 bilhões. A autoridade monetária informou que essa leve alta é menor que a média histórica, de 2%.

Apesar da queda mensal, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, avaliou que as variações mês a mês são comuns e os melhores indicadores para monitorar o comportamento desse mercado são aqueles que levam em conta um período maior de tempo. Ele citou que em 12 meses, as concessões tiveram expansão de 4,5% e, nos cinco primeiros meses do ano, a alta foi de 0,9%.

Para o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, além da escassez na oferta de recursos, os consumidores estão preocupados com o futuro. “As pesquisas indicam que os consumidores estão propensos a comprar um imóvel, mas a falta de renda a curto prazo, têm brecado o aumento das operações”, disse.