Dilma tenta blindar contas de campanha

28/06/2015
PAULO DE TARSO LYRA
MARCELLA FERNANDES
IVAN IUNES

Preocupada em salvar o mandato, com a Operação Lava-Jato batendo à porta das eleições de 2014, a presidente Dilma Rousseff escalou ontem o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Edinho Silva, e o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante — dois homens fortes da atual gestão —, para reclamar do vazamento seletivo e tentar desqualificar a delação do empresário Ricardo Pessoa. Tesoureiro da campanha de reeleição de Dilma, Edinho assumiu o recebimento da doação de R$ 7,5 milhões da UTC — empresa investigada na Operação Lava-Jato — mas assegurou que os repasses foram legais. “Todas as doações foram feitas dentro dos critérios da ética, transparência e legalidade. Tanto que as contas de campanha foram auditadas e aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”, disse Edinho, em entrevista coletiva na sede do Ministério da Justiça, no fim da manhã de ontem. Insatisfeita com a falta de explicações para as denúncias, a oposição pretende aprovar o depoimento de Pessoa na CPI da Petrobras.

Responsável pelas doações à campanha de Dilma em 2014, Edinho disse que o cargo estava à disposição da presidente. “É ela quem contrata e quem demite”, afirmou. O ministro da Secom afirmou estar indignado com o que classificou de vazamento seletivo de informações. Como parte citada na delação, Edinho disse que contratará um advogado para ter acesso ao teor total do depoimento e provar que não houve qualquer irregularidade nas doações. “Quero ser ouvido nos autos para me defender. Se comprovadas as mentiras, pedirei que seja suspenso o benefício da delação premiada”, afirmou o petista.

O ministro da Secom repetiu o que foi dito em nota oficial divulgada na sexta-feira (26/6). Ele admitiu ter se encontrado três vezes com Ricardo Pessoa ao longo de 2014. A primeira reunião, em julho, ocorreu na sede do comitê de campanha da chefe do Executivo, em Brasília, em que ficou acertado o cronograma de doações no valor de R$ 7,5 milhões. “Ele me disse que, caso a presidente Dilma passasse para o segundo turno, um novo acerto seria feito.” E afirma ter estranhado o fato de, mesmo sendo Ricardo Pessoa uma figura histórica e conhecida como presidente de uma empresa que tem contratos com o governo federal e com governos estaduais, só haver questionamento sobre a doação à campanha da presidente Dilma. “Não foram feitas doações apenas para as nossas campanhas. Não aceito esse tipo de criminalização”, rebateu ele.

Um dos coordenadores da campanha de Dilma em 2010, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou ter a certeza de que não houve qualquer irregularidade no processo de arrecadação de 2014. “É preciso muita cautela. Primeiro, porque delação premiada requer, posteriormente, a apresentação de provas. Além disso, é sempre arriscado confiar inteiramente em depoimentos desse tipo, em que a pessoa diz algo em troca de obter algum tipo de benefício. Ela pode dizer a verdade, ou apenas parte dela, omitindo o que for conveniente”, disse Cardozo.

As queixas dos políticos, e agora do governo federal, contrapõem-se à uma decisão tomada por um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao aceitar a delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, o relator do processo, ministro Teori Zavascki, entendeu que, além das palavras, o empreiteiro da UTC tem provas materiais que justifiquem a investigação dos citados por ele à Justiça.

No início da tarde de ontem, foi a vez de Mercadante defender-se. Ele negou irregularidades em sua campanha ao governo de São Paulo em 2010. Dos R$ 500 mil recebidos pelo grupo UTC, metade seria caixa 2, segundo depoimento de Ricardo Pessoa, conforme reportagem da revista Veja. O grupo fez duas doações no valor de R$ 250 mil, cada. Uma em 27 de agosto pela UTC e outra em 29 de julho pela Constran, empresa do mesmo grupo, ambas legalmente. “Estou pedindo acesso às informações da delação para o mais rapidamente possível poder esclarecer esse episódio”, declarou. Ele admitiu ter recebido Pessoa em sua casa a pedido do empresário durante a campanha a fim de apresentar o programa de governo.

Impeachment

O depoimento de Pessoa reacendeu a pressão da oposição sobre um possível pedido de impeachment da presidente Dilma, já que, agora, as suspeitas de doações com recursos provenientes do petrolão não se limitam à campanha de 2010, mas também atingem a de 2014. O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), afirmou que as denúncias são mais do que suficientes para a presidente perder o mandato. Mercadante rebateu. “Não há nenhuma base jurídica e não haverá. Nós temos total segurança de como foi feita a campanha”, afirmou Mercadante, que não viajou com Dilma para os Estados Unidos para prestar esclarecimentos.

“O Petrolão subiu a rampa do Palácio do Planalto e entrou no gabinete da presidente Dilma. Ela não tem mais como tentar se desvencilhar desta crise”, disse o vice-presidente da CPI da Petrobras, deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA). O tucano acrescentou que já existem negociações para que Pessoa deponha à Comissão. “Eu quero uma acareação com ele, é uma clara tentativa de misturar o joio com o trigo”, irritou-se o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), citado como beneficiário de R$ 150 mil.

Delgado afirmou que distribuiu os recursos, doados para o PSB em Minas, entre candidatos a deputado estadual e federal. “Eu me encontrei com Pessoa, na sede da UTC em São Paulo, acompanhado do chefe de gabinete do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, João Grossi, que era candidato a deputado estadual”, recordou Delgado.

“O Petrolão subiu a rampa do Palácio do Planalto e entrou no gabinete da presidente Dilma. Ela não tem mais como tentar se desvencilhar desta crise”
Antonio Imbassahy (PSDB-BA), vice-presidente da CPI da Petrobras.

“Não há nenhuma base jurídica (para o impeachment) e não haverá. Nós temos total segurança de como foi feita a campanha” 
Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil.