Título: Desperdício vira hora extra
Autor: Mainenti, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 22/08/2011, Economia, p. 9

Pesquisa mostra que 70% das pessoas ultrapassam a jornada diária nas empresas porque usam o tempo de forma equivocada

Foi-se a época em que muitas horas extras no trabalho eram sinônimo de alto desempenho. O que as empresas que investem na modernização da gestão de seus recursos humanos valorizam atualmente é o aproveitamento do tempo. Saber fazer bom uso da jornada diária é um capital importante tanto para os funcionários, que se tornam mais produtivos, quanto para a empresa, que se dedica a otimizar a atuação de seus empregados. Mais motivados, eles pensam duas vezes antes de decidir mudar de emprego. Sem incentivos, ao contrário, desperdiçam ¿ e muito ¿ as horas que deveriam ser destinadas às tarefas laborais e acabam sobrecarregando os custos com a folha de pessoal.

Sondagem realizada pela consultoria paulista Triad PS, especializada em produtividade, mostra que 70% dos 1.606 entrevistados para a pesquisa "Utilização do tempo no trabalho" ficam de oito a 10 horas diárias no serviço. No entanto, do total de participantes, 30% admitiram gastar uma hora por dia inutilmente. Outros 32% disseram desperdiçar duas horas e 18,5%, que chegam a jogar fora três horas diárias. Entre as atividades preferidas deles estão dar uma esticadinha na hora do almoço (59,3%) ou do café da tarde (26,8%), paquerar o colega (13,4%) e até procurar outro emprego (20,6%).

Questionados sobre as razões que os levam a usar o horário do expediente em atividades que não são relacionadas às tarefas para as quais foram contratados, uma parcela considerável dos entrevistados (35,5%) disse que não tem tempo para resolver problemas pessoais fora do trabalho. Outros 32,1% afirmaram ter pouco serviço a fazer, 20,4% declararam estar infelizes com a função e 18,6%, que recebem um salário baixo e não se sentem motivados.

A saída para tanto desperdício não é, contudo, impedir que as pessoas realizem tarefas pessoais durante o expediente. Mas, sim, motivá-las a ser mais produtivas. "Com a jornada atual e com o tempo que os trabalhadores perdem no trânsito nas grandes cidades, é impossível que eles não façam coisas pessoais no horário do expediente. A empresa precisa criar estratégias de produtividade sem usar padrões abusivos", recomenda Christian Barbosa, consultor da Triad PS. Ele exemplifica: "É aceitável que um funcionário precise ir ao banco ou marcar uma consulta médica no horário do trabalho. O problema é que muitos não se sentem comprometidos com a função que exercem. Por isso, há um grande número de pessoas que fazem hora extra, mas não trazem resultados para a empresa."

Para melhorar o placar desse jogo em que ninguém sai ganhando, a atuação do gestor é fundamental. "Algumas vezes, é ele quem cria o problema. O líder precisa observar se está conseguindo motivar a sua equipe", diz Barbosa. Na sondagem realizada pela Triad PS, 48,3% dos entrevistados disseram que o chefe também realiza tarefas pessoais no horário do trabalho; 31,8%, que ele não sabe se planejar; 29,4%, que o gestor da equipe faz o funcionário perder tempo; e 27,9%, que se dedica a atividades desnecessárias.

Considerada a melhor empresa brasileira para se trabalhar pela consultoria norte-americana Great Place to Work, o Laboratório Sabin adotou métodos para tirar o melhor proveito do tempo dos funcionários e, com isso, fazer da hora extra uma exceção e não a regra. Entre as medidas que vêm dando certo, está a gestão descentralizada. "A liderança precisa delegar tarefas, para que os funcionários se sintam incentivados", ensina Marly Vidal, superintendente de Recursos Humanos da empresa. No seu entender, "a pessoa precisa ser produtiva dentro da sua jornada. A hora extra desgasta, enquanto a qualidade de vida aumenta a produtividade. Bom profissional não é o que trabalha muitas horas, mas o que apresenta resultados".

13,4% Total de trabalhadores que, em vez de executarem suas funções, preferem paquerar o colega

Ociosidade cansa

Christian Barbosa, consultor da Triad PS, adverte que não fazer nada no trabalho também cansa e prejudica o desempenho das empresas. "Os funcionários precisam cuidar da administração não apenas do tempo, mas de sua energia pessoal. Mesmo sem ter produzido no trabalho, ele pode chegar em casa cansado e não conseguir brincar com as crianças, fazer um esporte ou jantar com o cônjuge ou com os amigos", alerta. Com certeza, o desempenho das funções no dia seguinte será ruim.