O caminho da propina de Duque

09/07/2015

Investigadores da Operação Lava-Jato acreditam ter encontrado pistas do suposto recebimento de US$ 2 milhões pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque em contratos fechados na Diretoria Internacional da petroleira. Em 2011, uma offshore controlada por Duque, a Milzart Overseas Holdings Inc., recebeu o recurso do empresário Raul Schmidt Fellipe Junior, espécie de “sócio” do ex-diretor da estatal Jorge Zelada, um dos presos na 15ª fase da Lava-Jato.

A descoberta teve como base documentos fornecidos pelas autoridades do Principado de Mônaco, onde foram congeladas contas de Zelada e de Duque, com 11 milhões de euros e 20 milhões de euros, respectivamente. Zelada é suspeito de ter recebido propina em dois contratos de navios-sondas assinados em 2008 e 2009, com empresas internacionais, o ENSCO DS-5 e o Titanium Explorer.

O esquema seria uma continuidade dos acertos de corrupção adotados por seu antecessor na diretoria, Nestor Cerveró, com ajuda do lobista Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, o operador do PMDB. Eles negam a acusação.

Para chegar até Duque, de acordo com os investigadores, os valores passaram pela conta de Raul Schmidt, da Goodal Trade Inc, e depois para a Judas Azuelo, também “sócio” de Zelada. Seguindo a trilha do dinheiro, os investigadores da Lava-Jato conseguiram fazer a ligação entre Raul Schmidt e Duque.

“Em abril de 2011, a Samsung depositou US$ 3 milhões na conta bancária da Goodall do Banco Julius Baer de Mônaco. Na sequência, em 27 de abril de 2011, a Goodall transferiu US$ 4 milhões para Judas Azuelo, identificado como sendo um empresário francês”, informou a força-tarefa da Lava-Jato. “A transferência da Goodall em favor de Judas Azuelos foi legitimada em um contrato firmado entre a Goodall e Judas em 26 de abril de 2011”, atestam os procuradores.

As autoridades de Mônaco informaram que “logo em seguida”, em 26 de junho, a Judas Azuelos depositou US$ 2 milhões na conta da offshore panamenha Milzart, no Julius Baer de Mônaco, cujo beneficiário econômico final era o ex-diretor da área de Serviços da Petrobras.

Defesa

Em nota, o criminalista Leonardo Muniz, advogado de Raul Schmidt Felippe Júnior, informou que seu cliente não intermediou nenhum pagamento a Duque. Em comunicado anterior, quando foi decretada a prisão de Zelada, Raul Schmidt ressaltou que não atua mais no setor petrolífero desde 2007. “Atualmente, ele é sócio e membro do conselho da TVP Solar, empresa do setor de energia solar, que tem sede na Suíça e fábrica na Itália”, alegou Leonardo Muniz. O empresário afirma ainda que atua como investidor em companhias startups na área de tecnologia de ponta.

20 milhões de euros
Valor bloqueado pelas autoridades do Principado de Mônaco em uma conta do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque

Juiz nega acesso de Dirceu a delação
O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava-Jato, negou o pedido da defesa do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que queria ter acesso à delação premiada do lobista Milton Pascowitch. No fim de junho, Pascowitch firmou acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava-Jato e apontou supostos repasses de propinas para o ex-ministro. Em troca de sua delação, Pascowitch, que estava preso em Curitiba, ganhou direito à prisão domiciliar, sob monitoramento de tornozeleira eletrônica. Na semana passada, os advogados de Dirceu pediram um habeas corpus preventivo para o ex-ministro. A medida, que buscava evitar que Dirceu fosse alvo de uma eventual ordem de prisão no âmbito das investigações sobre esquema de propinas e corrupção na Petrobras, foi negada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

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Queixas na cpi

JOÃO VALADARES
 
O presidente da CPI da Petrobras, Hugo Mottta (PMDB-PB), reagiu, na manhã de ontem, ao cancelamento da acareação que seria realizada entre o ex-diretor de Serviços da petroleira Renato Duque e o ex-gerente de Engenharia da estatal Pedro Barusco. A sessão foi cancelada por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Os advogados de Barusco alegaram motivo de saúde. Atestam que o cliente tem um câncer ósseo. Hoje, ele ficaria frente a frente com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso pela Operação Lava-Jato.

“Respeitamos a Justiça, mas a decisão que inviabiliza a acareação entre Barusco e Vaccari, levando ao cancelamento, nos entristece. O parlamento brasileiro está cumprindo seu papel com a CPI, investigando e dando transparência aos trabalhos, informando a sociedade”, disse.

O congressista ressaltou a importância do procedimento que seria adotado. “A acareação é uma das etapas essenciais do processo investigatório, mas a CPI redobrará os esforços para avançar”, salientou.


Hoje, o colegiado se reúne em sessão deliberativa. Os parlamentares vão apreciar requerimentos para novas convocações. A CPI manteve a acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. A sessão ocorre em 6 de agosto.