Brics mais frágeis do que nunca

08/07/2015 

Rosana Hessel

A 7ª Cúpula do Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - ocorre no pior momento para os integrantes do grupo criado em 2001. A expansão do passado encolheu, principalmente, no Brasil e na Rússia, que atravessam recessão profunda este ano. A cidade russa de Ufá receberá os líderes amanhã e na sexta-feira, mas o evento começou ontem, com reuniões preparatórias. Especialistas não têm grandes expectativas. 
 
"Todas as economias do Brics têm seus próprios problemas, o que vem tirando o brilho da história dessas nações que vinham crescendo a taxas expressivas", resumiu o economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, Neil Shearing. 
 
Os presidentes dos países membros participam da cúpula em meio a uma grave crise na economia brasileira. A nação, que chegou a ser uma das protagonistas das primeiras reuniões do grupo, em 2009, tem pouco a apresentar. "O país retrocedeu 17 anos nos indicadores macroeconômicos", lamentou o economia-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. 
 
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro está encolhendo e o país deve ser ultrapassado pela Índia como a sétima potência global nos próximos anos. As estimativas mais otimistas indicam retração econômica de 1%. Para os economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o país deve encolher 1,8% este ano. A taxa de poupança, fundamental para o investimento e o crescimento, é a menor de todos do grupo: de apenas 15,3% do PIB. 
A situação da Rússia é ainda pior: verá o PIB encolher 3,8% este ano, com taxa de poupança de 22,9% do PIB, conforme dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os russos sofrem com o embargo dos Estados Unidos e da União Europeia, desde a anexação da Crimeia. "O governo de Vladimir Putin deve tentar dar um caráter mais político à cúpula. Quer apoio dos países do grupo a Moscou. Brasil e China, no entanto, devem tentar avançar na agenda econômica", analisou a economista Lia Valls Pereira, do Ibre. 
 
Para ela, há pouca expectativa em relação ao encontro. "O grupo atravessa uma fase complicada, com queda dos preços das commodites, desaceleração da China e crises no Brasil e na Rússia. A Índia tem mais perspectivas de crescimento, mas a África do Sul não tem", completou Lia. 
 
Esperança 
 
Pelas contas de Agostini, nos últimos 30 anos, o ritmo de expansão médio da China foi de 9,3% ao ano e, nos próximos, deve ficar na casa dos 6,5%. Mas ele acredita que esse momento ruim do grupo será passageiro. "O Brics ainda não perdeu a força. Esses países devem ser grandes potências daqui a três décadas. Essa era a expectativa e isso não mudou", disse, sem citar a África do Sul. "A China e a Índia possuem grande mercado consumidor interno. O Brasil se destaca pela capacidade de produção agrícola e a Rússia, pela produção de petróleo", destacou. 
Diego Bonomo, gerente executivo de comércio exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI), avalia que o fator positivo do encontro será a oficialização do Banco dos Brics ou Novo Banco de Desenvolvimento (NBD); e a formalização do Arranjo Contingente de Reservas (ACR), para socorrer os países do grupo com rombos em conta-corrente. Ontem, os bancos centrais do bloco fecharam acordo para a criação do arranjo, que conta com US$ 100 bilhões em recursos. 
 
Levy chefiará conselho do NBD 
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, será o presidente do Conselho de Administração do Novo Banco de Desenvolvimento (BND) ou Banco do Brics, que entra em operação a partir de janeiro de 2016. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ocupará o cargo de suplente. A escolha foi publicada no Diário Oficial da União de ontem. Com sede em Xangai, o banco passou a existir oficialmente na semana passada, quando o parlamento da China finalmente ratificou o acordo de criação da instituição. O capital inicial do banco será de US$ 50 bilhões, em partes iguais de cada país membro, com aportes em sete anos. Neste ano, o Brasil precisará desembolsar US$ 150 milhões para a primeira parcela, de acordo com uma fonte do governo. A primeira presidência será da Índia e a rotatividade ocorrerá a cada cinco anos.
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Em defesa das pedaladas
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, se reuniram ontem com deputados petistas para defender a legalidade das manobras contábeis realizadas em 2014 e que estão sendo questionadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

O Tribunal abriu um processo em abril para investigar os atrasos nos repasses do Tesouro Nacional a bancos e órgãos públicos no ano passado, episódio que ficou conhecido como “pedaladas fiscais”. Vários indícios de irregularidades foram apontados pelo órgão que convocou autoridades para dar explicações, incluindo Barbosa e o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Em 17 de junho, o TCU incluiu um pedido de explicações à presidente Dilma Rousseff sobre
irregularidades nas contas do ano passado. O prazo dado para um posicionamento do Planalto foi de 30 dias, a partir de 23 de julho. De acordo com o órgão, ainda não há data para uma nova manifestação do tribunal. A expectativa é que a Corte rejeite o balanço da União de 2014, depois de aprovar, durante anos as contas do governo com ressalvas.

“Viemos antecipar a resposta que o governo dará aos questionamentos do TCU. No nosso entender, todas as operações seguiram exatamente o que recomenda a lei”, disse Barbosa. Admas explicou aos deputados que, em anos anteriores, o tribunal avaliou como regulares práticas semelhantes. “Essa realidade existiu em 2000, 2001, 2002 e assim por diante, e foram situações consideradas regulares.”