Pimentel tenta ‘ apagar’ marcas da gestão de Aécio em Minas

 

 

Nos cinco primeiros meses de sua gestão à frente de Minas Gerais, o governador Fernando Pimentel ( PT) tem dedicado parte do seu esforço à desconstrução da gestão dos antecessores tucanos, sobretudo a do senador Aécio Neves ( PSDBMG), que governou o estado entre 2006 e 2010. Sucedido pelo também senador Antonio Anastasia ( PSDB- MG), Aécio se consolidou como principal liderança nacional da oposição após a derrota apertada para a presidente Dilma Rousseff nas eleições presidenciais de 2014, mas perdeu o controle de Minas para o PT. Pimentel tem demonstrado que está disposto a desidratar ainda mais as marcas da gestão tucana no estado. O governador busca evitar a sombra de Aécio porque também tem planos políticos que vão além do governo de Minas.

A disposição está explicitada até mesmo em documento oficial: uma das teses que serão levadas ao 5 º Congresso Nacional do PT aponta suposto movimento da oposição para “aprofundar sua hegemonia institucional” nas próximas eleições, em função da crise do PT. “Nesse contexto, ressaltamos a importância do governo de Minas no desmascaramento do modo tucano de governar”, diz o documento.

O líder do governo na Assembleia, deputado Durval Ângelo ( PT), lançou na última semana o livro “Herança maldita — o desgoverno tucano em Minas”, com prefácio de Pimentel. No início do mandato, o resultado de uma devassa em contas da antiga gestão virou campanha de governo. Em Minas, a crise econômica só não atingiu a publicidade: o governo prevê gastar R$ 96 milhões com propaganda.

Uma das principais vitrines dos anos tucanos, o Circuito Cultural da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, que transformou secretarias de estado em museus, teve dois projetos cancelados: o Cena, que abrigaria projetos de residência artística, e o Oi Futuro, bancado pela empresa de telefonia. A exposição permanente do Palácio da Liberdade, antiga sede do governo estadual, foi desfeita, e o prédio, fechado temporariamente para visitação. O programa tucano Educação em Tempo Integral virou Ações de Educação Integral e só autoriza repasses para escolas cadastradas em projeto semelhante já desenvolvido pelo governo federal. A integração administrativa das polícias Militar e Civil, que já seguia em ritmo lento, foi descartada de vez.

— Você pode até reconstruir o futuro, mas não o passado. Isso é coisa inútil para preencher o vazio deste primeiro semestre de governo — critica o deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB de Minas.

O governo mineiro nega motivação política nas ações. Alega ajustar e aprimorar programas com mudanças que cumprem promessas de campanha. Mas o mal- estar e o clima beligerante da disputa de 2014 permanecem nos dias de hoje.

 

Governo mineiro diz reestruturar programas

 

Com a proposta de acolher grupos para residência artística bancada pelo estado de Minas, tipo de ocupação que faltava ao circuito da Praça da Liberdade, segundo críticos, o programa Cena é um exemplo das mudanças promovidas pelo governador Fernando Pimentel. O projeto deve ser deslocado para um galpão no Centro de Belo Horizonte. O prédio planejado originalmente para a iniciativa será ocupado novamente por um órgão público, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas ( Iepha). Nos bastidores, o clima com parceiros da iniciativa privada é tenso, e gestores culturais da cidade organizam protesto.

— A água suja está sendo jogada da bacia com o bebê junto. Projetos podem e devem ser reavaliados. Mas, em vez de readequar o que estava sendo feito, estão acabando com o construído — critica Chico Pelúcio, do grupo de teatro Galpão.

Atual responsável pelo projeto da Praça, a diretora do Iepha, Michele Arroyo, nega haver malestar com as empresas e promete reabrir o Palácio da Liberdade, em data ainda não definida. Ela afirma que não havia recursos para implantar o Cena. Diz que as mudanças visam reestruturar o modelo do circuito “como política pública dentro da estrutura do estado” e promete realizar exposições no prédio do Iepha, em vez de ocupá- lo só com a burocracia estatal.

A artista visual Patrícia Moulin, do Movimento Matraca, critica o clima beligerante:

— É hora de deixar de lado o debate político- eleitoral.

O professor de arte e cultura da PUC- MG e da Uemg José Márcio Barros defende mudanças no projeto com soluções que dialoguem “com um olhar mais amplo sobre a cidade”.

POLÊMICA NA EDUCAÇÃO

A mudança no programa de educação integral reduziu, no início deste ano, o número de escolas atendidas, já que nem todas estavam cadastradas no Mais Educação, iniciativa federal que se tornou exigência do programa no estado. Hoje, 1,2 mil escolas mineiras estão no programa nacional. A gestão anterior afirma que antes eram 1,7 mil, o que Pimentel contesta.

— Não condiz com a realidade que encontramos. Vamos dar oportunidades amplificadas para os estudantes, menos focada em reforço escolar e mais em outras áreas do conhecimento — diz a responsável pelo tema na Secretaria de Educação, Rogéria Freire.

Em atos públicos, Pimentel criticou o projeto de integração das polícias, e a disputa entre as corporações piorou. O governo informou que “a atual gestão dá prioridade total ao trabalho conjunto das forças de Segurança”.