Trabalhador espera ser atendido em agência: deficit de vagas pode atingir 3 milhões este ano
Os brasileiros estão cada vez mais pessimistas e temerosos de perderem seus empregos. O medo do desemprego aumentou 5,4% em junho em relação a março e alcançou o maior nível desde setembro de 1999, apurou pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na comparação com junho do ano passado, o indicador disparou 36,8%. O mercado de trabalho está se deteriorando rapidamente e a perspectiva é de fechar 2015 com 1,1 milhão de empregos a menos.
Outro indicador do levantamento da CNI, que ouviu 2 mil pessoas em 141 municípios no mês passado, o Índice de Satisfação com a Vida recuou 7,3% na comparação com junho de 2014. Os dois indicadores refletem o aprofundamento da crise, ou seja, a maior dificuldade de conseguir um emprego e a inflação alta, assinalou o gerente executivo da Unidade de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca.
A situação não é boa nem para quem está empregado, porque os salários estão encolhendo. A inflação combinada com demissões e queda da renda provocou uma retração de 10% na massa salarial em seis meses, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mais do que o tamanho do tombo, a velocidade dele é o que preocupa especialistas. Entre novembro de 2014, pico dos últimos anos, e maio a redução foi de 10%. Na crise de 2003, um recuo dessa proporção foi atingido após oito meses de deterioração do mercado de trabalho. Na crise de 2009, apesar da recessão, não houve queda da massa salarial nessa magnitude.
O fato de a recessão ter alcançado o setor de serviços, que antes absorvia a mão de obra sem qualificação e a da indústria, em recessão há mais tempo, explica a rapidez do esfacelamento do mercado de trabalho no Brasil. O setor, que é o que mais emprega no país, continuou a encolher em junho, com redução nas vagas formais, de acordo com o Índice Gerentes de Compra (PMI, na sigla em inglês), elaborado pelo HSBC e pela Markit. O PMI recuou para 39,9 em junho, e de 42,5 em maio, atingindo a segunda menor leitura da série histórica, iniciada em março de 2007.
Para o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos, a inflação está corroendo o salário. O aumento do desemprego está retirando o poder de barganha dos trabalhadores na hora de recompor a renda, além de, obviamente, reduzir a ocupação. Tudo isso é reflexo do desaquecimento da economia, analisou. O rendimento médio já acumula perda de 7,8% entre novembro e maio. Na comparação com maio de 2014, a baixa real é de 5%, o que indica um salário médio crescendo abaixo da inflação dos últimos seis meses.
Para o ex-diretor do Departamento de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho Rodolfo Peres Torelly, consultor do site Trabalho Agora, diante do atual quadro recessivo do país, é natural o aumento do medo do desemprego. Não há nada que indique a reversão desse cenário. Quem tem emprego precisa procurar manter, orientou. Torelly explicou que a expectativa é de fechamento de 1,1 milhão de postos de trabalho este ano. No Brasil, que tem 41 milhões de trabalhadores com carteira assinada, 1,1 milhão parece pouco, mas não é. A necessidade para suprir o crescimento da População Economicamente Ativa (PEA) é de abertura de 1,8 milhão de empregos. Então, teremos um buraco aí de quase 3 milhões de vagas a menos, calculou.
Insegurança
Brasileiros cada vez mais temem perder o emprego. Veja a evolução do índice (*)
Mar/12 73,5
Jun/12 74,7
Set/12 75,3
Dez/12 74,5
Mar/13 69,0
Jun/13 71,3
Set/13 72,5
Dez/13 73,0
Mar/14 73,6
Jun/14 76,1
Set/14 77,0
Dez/14 74,8
Mar/15 98,8
Jun/15 104,1
(*) Partindo de uma base 100 em 2003
Fonte: CNI
Estaleiro Mauá fecha as portas
Ontem, o Estaleiro Mauá, em Niterói (RJ), amanheceu parado. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas, a direção da empresa informou, no encerramento do expediente de quinta-feira, que os trabalhadores deveriam ficar em casa atɠ novo comunicado. Não há prazo para o retorno das atividades, que justificou o fechamento com problemas financeiros. Pelos cálculos dos sindicalistas, o Mauá tem cerca de 2 mil empregados.