O novo ataque de cunha

25/06/2015

André Shalders

Desde que assumiu a gestão da Câmara, em fevereiro, Eduardo Cunha vem acumulando inimizades com o corpo técnico da Câmara dos Deputados. Ponto eletrônico, cassação de cargos de gente que vazou informações da Câmara e indicação de deputados para cargos de chefia tradicionalmente ocupados por servidores foram algumas das atitudes que fizeram fermentar o descontentamento dos servidores. A insatisfação se tornou pública nos protestos dos últimos dias, cujo estopim foram informações sobre uma tentativa de intervenção no plano de saúde dos servidores, o Pró-Saúde. Ontem, o primeiro-secretário da Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), disse que existe a possibilidade de a Casa reduzir os repasses de dinheiro público para o plano, e disse que indicará deputados para a direção do Pró-Saúde.
Na reunião da Mesa Diretora de ontem, os parlamentares aprovaram a extensão do ponto eletrônico também para os comissionados detentores dos chamados Cargos de Natureza Especial (CNEs), lotados nas lideranças dos partidos e em certos órgãos da Câmara. Segundo a Casa, existem hoje 1.349 servidores nesses cargos, que são de indicação política. Os secretários parlamentares (SPs), que somam hoje 8.259 servidores e trabalham diretamente para os parlamentares, continuarão livres do ponto. “O objetivo é fazer as pessoas trabalharem. Não digo para você que aqui é um lugar onde não se trabalha. Muita gente trabalha. Mas também tem gente que gazeteia”, disse Beto Mansur. Com a portaria pronta, a extensão precisará, ainda, ser aprovada pelo plenário da Câmara.

A Mesa também decidiu que controlará mais de perto a gestão do plano de saúde dos servidores, o Pró-Saúde. Dois deputados da Mesa, Giacobo (PR-PR) e Mandetta (DEM-MS), passarão a integrar o conselho responsável pela direção do plano. Mansur confirmou que os parlamentares estudam reduzir os repasses da Câmara ao plano, sustentado por contribuições dos usuários e da Casa. Segundo dados da Primeira Secretaria, a Câmara aportou em 2014 cerca de R$ 94,1 milhões ao plano, que conta hoje com reservas de R$ 383,5 milhões. Dados do Siafi levantados pelo Correio mostram repasses de R$ 75,4 milhões para o fundo no ano passado. “A gente pode ou manter isso aí, ou eventualmente reduzir o repasse, para chegar numa conta que dê garantia. Esse dinheiro é dos funcionários e é também do governo, da Câmara. Queremos ajustar a algo que seja bom para a saúde do Plano”, disse Mansur.

“Eles estão com essa mania de misturar a atuação política com a questão administrativa da Casa, o que, aliás, eles não foram eleitos para fazer. Ninguém se elege prometendo mexer na gestão do plano de saúde ou criar cargos para deputados”, disse um servidor, sob condição de anonimato.

Antes do ponto eletrônico, que entrou em vigor em 4 de maio, Cunha já tinha tomado outras medidas que irritaram servidores. No começo de março, a Mesa resolveu afastar o diretor do Departamento Técnico da Câmara, o engenheiro Maurício Matta. No fim de abril, caiu o diretor do Centro de Informática da Câmara (Cenin), Luiz Antonio Eira. Embora a Mesa negue, Eira teria saído depois de ser acusado de passar informações sobre requerimentos de informações que estão sendo investigados pela Operação Lava-Jato, da PF.
No começo da gestão, Cunha irritou servidores ao substituir funcionários de carreira da Casa por deputados. Foi o que aconteceu com as indicações de Cléber Verde (PRB-MA) para a Secretaria de Comunicação (Secom) e de Átila Lins (PSD-AM) para a Secretaria de Relações Internacionais.