Preços subirão 9% e PIB tombará 1,1%

25/06/2015 

ANTONIO TEMOTEO
ROSANA HESSEL
 
Banco Central mostra que a situação econômica do país piorou e que não haverá recuperação até 2016. Brasil está pagando pelos erros do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Demissões vão se acentuar nos próximos meses.

Awazu diz que a queda da carestia requer determinação e perseverança

O Banco Central (BC) traçou um quadro dramáticopara a economia brasileira em 2015. Dados do Relatório de Inflação divulgados ontem mostram que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará o ano em 9%. Esse resultado é o dobro da meta, de 4,5%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e 2,5 pontos percentuais maior que o limite superior do intervalo de tolerância, de 6,5%. No documento apresentado em março pela autoridade monetária, a previsão era de que a carestia encerraria o ano em 7,9%.

Para piorar a situação, o BC também revisou a estimativa de retração do Produto Interno Bruto (PIB). A geração de riquezas no país, que antes diminuiria 0,5%, deverá encolher 1,1%. Mesmo com a piora das expectativas da autoridade monetária para o desempenho da economia, porém, há estimativas ainda mais sombrias para o tamanho do tombo da produção. Na última pesquisa Focus, os analistas projetaram um encolhimento de 1,45% do PIB. O Relatório de Inflação também indicou que o cenário de estagflação não deve mudar no próximo ano, mesmo com o otimismo da autoridade monetária de que a inflação convergirá para a meta, de 4,5%, em dezembro do próximo ano.

Os dados mostram que o PIB acumulado em quatro trimestres até o primeiro de 2016 terá queda de 0,8 ponto percentual. Pelos modelos do BC, a inflação no período será de 6,7%, ainda acima do teto da meta definida pelo CMN. Em dezembro do próximo ano, a autoridade monetária projetou que a carestia chegará a 4,8%, enquanto as expectativas do mercado indicam que o IPCA será de 5,5%.

O diretor de Política Econômica do BC, Luiz Awazu Pereira da Silva, reforçou o compromisso público — descumprido durante todo o governo da presidente da República, Dilma Rousseff — de levar o índice para 4,5% no fim de 2016. Segundo ele, a melhor contribuição do BC à sociedade é assegurar que vai perseguir a meta de inflação. “A consolidação desse processo de ajuste requer determinação e perseverança”, comentou.

As expectativas para inflação em 2018 e 2019 já estão em 4,5% e as de 2017 chegaram a 4,75%, destacou. Apesar disso, ele reconheceu que há riscos. Os maiores atualmente são reajustes salariais indexados aos índices de preços e a possibilidade de o Federal Reserve (Fed) — o banco central dos Estados Unidos — aumentar os juros, o que promoveria uma alta do dólar em relação ao real. Mesmo assim, Awazu reiterou a confiança em atingir a meta.

Na avaliação do economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, o esforço do BC incluirá novas altas de juros. Entretanto, ele destacou que o efeito do aperto monetário é lento. Para cada elevação da Selic, os efeitos demoram até dois anos para se concretizar. “Isso reforça a necessidade de um esforço maior do BC, especialmente, porque o ajuste fiscal pretendido pelo governo e que foi enviado ao Congresso Nacional ficou abaixo do esperado”, explicou.

O economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central e chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC), mostrou preocupação com as análises da autoridade monetária em relação aos preços administrados, como as tarifas de energia. Freitas Gomes lembrou que o choque desses custos ainda deve ter efeito em 2016. “O BC está sinalizando uma queda maior da inflação em função de que o impacto dos preços administrados vai perder força. Mas a inércia inflacionária deve permanecer”, disse.

Mais 0,5 ponto na Selic

O Banco Central sinalizou que continuará o ciclo de alta de juros para conter a inflação. O diretor de Política Econômica, Luiz Awazu Pereira da Silva, afirmou que autoridade monetária continuará vigilante e fará o que for necessário para levar a carestia ao centro da meta, de 4,5%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em dezembro de 2016. Na avaliação de analistas, as declarações de Awazu indicam que o BC promoverá uma alta de 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 28 e 29 de julho.

Para o economista-chefe do Itaú-Unibanco, Ilan Goldfajn, as declarações do diretor de Política Econômica do BC reforçam o cenário de que o Copom continuará o ciclo de ajuste monetário, com uma alta final de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) em julho. Com isso, a Selic chegará a 14,25%.

Na opinião de Goldfajn, a autoridade monetária manterá a taxa nesse patamar até o segundo trimestre de 2016. “Em função das defasagens com as quais a política monetária impacta a inflação, achamos que a partir do segundo trimestre do próximo ano o Copom tomará suas decisões tendo em vista a inflação de 2017”, detalhou.

Segundo o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, o Relatório de Inflação apontou que o BC não cometerá nenhum exagero no que considera a fase final de ajuste do ciclo, na medida em que as projeções de inflação para o próximo ano têm convergido em direção à meta, de 4,5%. “Com isso, reforçamos nossa expectativa de que a autoridade monetária encerrará o processo de aumento da taxa Selic em 14,25%, com mais uma alta de 0,50 ponto percentual”, explicou. (AT)