Título: Ministra dos capixabas
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 01/09/2011, Política, p. 2'

Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para Mulheres, concentra 42% das viagens oficiais à sua base eleitoral: o Espírito Santo

Há oito meses como ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Iriny Lopes escolheu um destino certo nas viagens oficiais: o Espírito Santo, a sua base eleitoral. Pré-candidata do PT à prefeitura de Vitória, a mineira de Lavras, mas com uma atuação política de mais de duas décadas entre os capixabas, realizou 18 viagens com dinheiro público para o estado, segundo agenda oficial da pasta e dados do Portal da Transparência. Somente em diárias a União desembolsou R$ 16,9 mil para todas as 42 viagens realizadas nos oito meses de mandato. Em comparação com o ministro da Educação, Fernando Haddad, também pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Iriny supera em gastos e em viagens. O petista recebeu R$ 11,7 mil e esteve sete vezes na capital paulista. A ministra não visitou a Região Norte, por exemplo, que concentra estatísticas de violência contra a mulher.

A viagem mais recente dela ocorreu na última segunda-feira. Iriny esteve em Vitória, onde encontrou-se com gerentes da Petrobras e com os governadores Renato Casagrande (ES) e Sérgio Cabral (RJ). Os dois estados produtores de petróleo travam uma batalha pelos royalties do pré-sal. O assunto não faz parte do Plano Nacional de Políticas para Mulheres, que guia a atuação da pasta.

Os compromissos oficiais no estado são marcados, na maior parte, às sextas, aos sábados e às segundas-feiras. A análise da agenda da ministra mostra compromissos de articulação política. Foram cinco reuniões com o governador Renato Casagrande (PSB) e duas com o prefeito de Vitória, João Coser (PT), presidente da Frente Nacional de Prefeitos. O apoio de Casagrande e Coser é fundamental para a disputa eleitoral do próximo ano. No estado, a posição do ex-governador Paulo Hartung (PMDB) ainda gera dúvidas sobre o cenário.

"Iriny é nossa pré-candidata. Já é consenso", afirma o presidente do PT no Espírito Santo, José Roberto Dudé, amenizando as divergências entre a ministra e o ex-governador. Iriny, segundo Dudé, tem aproveitado os fins de semana para alavancar a pré-campanha. Além de reuniões partidárias, tem marcado presença em eventos com movimentos sociais e culturais, especialmente aqueles com sambistas. "Ela tem priorizado os fins de semana, porque como ministra tem a tarefa de rodar o Brasil todo. O compromisso que ela assumiu com a presidente Dilma foi de se fazer presente no Espírito Santo aos sábados e domingos quando não está atuando como ministra, e sim como liderança partidária", conclui Dudé.

O ministério garantiu projeção nacional à deputada federal com três mandatos no estado. A bandeira da petista sempre foram os direitos humanos e, no cargo, tentou ganhar o apoio das feministas. Porém, a chegada de Iriny ao ministério foi polêmica. Logo que assumiu o cargo, ela, segundo servidoras da secretaria, afirmou que não pretendia ficar muito tempo na pasta porque tinha planos de se candidatar.

De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Políticas para Mulheres, Iriny retorna para casa às sextas-feiras porque tem direito a deslocamento à cidade de origem. O transporte pode ser feito por aviões do Comando da Aeronáutica ou em voos comerciais.

Embarque Entre os valores recebidos por Iriny, constam R$ 95 referentes ao período entre 21 e 24 de janeiro de 2011. No entanto, não há registro de agenda oficial na sexta, no sábado, no domingo ou na segunda. Iriny embarcou às 15h04 de sexta-feira. Segundo a Secretaria de Políticas para Mulheres, os R$ 95 recebidos pela ministra são referentes ao adicional de embarque e de desembarque que as autoridades têm direitos. Iriny afirmou que suspendeu o recebimento do benefício em viagens ao estado e agora usa o próprio carro.

Atuação Relatora da Lei Maria da Penha, a ministra tem focado a atuação da pasta para a economia e a representatividade política da mulher. O assassinato de mulheres cresceu 30% na última década. No ano passado, foram 4,5 mil mortes por questões de gênero. A pasta não tem mecanismos de controle nem banco de dados sobre violência contra o sexo feminino. O aumento no número de estupros em todo o país também não despertou a reação da Secretaria de Políticas para Mulheres.