Crescimento da economia dos EUA leva dólar a R$ 3,37

Após o alívio momentâneo na quarta- feira, o dólar comercial retomou ontem a tendência de alta e encerrou em alta de 1,20%, a R$ 3,370. Com isso, a moeda americana retornou à maior cotação do ano, igualando- se à marca registrada na terça- feira, que era o maior patamar desde os R$ 3,372 de 28 de março de 2003. E o motivo da valorização veio de Washington. O governo americano informou que a economia dos Estados Unidos teve expansão de 2,3% no segundo trimestre, o que reforçou as expectativas sobre o aumento da taxa básica de juros do país, hoje entre zero e 0,25%, ainda este ano.

No cenário interno, contribuiu para esse movimento a formação da cotação do dólar no fim do mês, que serve de referência para liquidação de contratos em agosto. Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, recuou 0,69%, aos 49.897 pontos.

No entanto, o que realmente pesou no mercado foi o desempenho da economia americana, a maior do mundo. Houve uma aceleração, puxada pelos gastos dos consumidores, já que os dados do primeiro trimestre foram revisados de uma contração de 0,2% para expansão de 0,6%. Ainda assim, ficou abaixo das projeções, de crescimento de 2,6%.

— Em um primeiro momento, os dados do PIB dos EUA foram avaliados como fracos. Mas, quando se olha a composição desse número e a revisão do primeiro trimestre, a interpretação é que o aumento de juros está mais próximo — disse Adriano Moreno, estrategista da Futura Invest.

Com a alta dos juros nos EUA, os investidores internacionais podem trocar os mercados emergentes, de maior risco, pelos títulos americanos.

EXPECTATIVA COM ‘ SWAP’

A melhora da economia americana fez o dólar ganhar força em escala global. O dollar index avançava 0,49% no momento do encerramento dos negócios no Brasil. O indicador, calculado pela Bloomberg, considera o comportamento da divisa frente a uma cesta de dez moedas.

A valorização no Brasil foi maior, no entanto, por fatores internos. Os investidores repercutiram a alta da taxa básica de juros ( Selic) para 14,25% ao ano, na noite de quarta- feira.

— Ao repetir a dose do aperto em 0,50 ponto percentual, a autoridade monetária sinalizou o fim do atual ciclo. No mercado de câmbio local, o início do período de formação da Ptax, que liquidará os contratos com vencimento em 3 de agosto, promoveu momentos de volatilidade — explicou Ricardo Gomes da Silva, operador da Correparti Corretora de Câmbio.

A Ptax é a taxa de câmbio calculada pelo Banco Central ( BC) e serve de referência para a liquidação de uma série de contratos no mercado financeiro.

Além disso, lembra Italo Abucater, gerente de câmbio da corretora Icap do Brasil, o mercado espera o anúncio do BC em relação à rolagem de contratos de

swap cambial, que equivale a uma venda futura de dólar. A rolagem neste mês está em torno de 60%, e o estoque desses contratos, em US$ 104 bilhões. Um aumento no nível de rolagem poderia dar algum alívio momentâneo à cotação do dólar, mas poderia ser interpretado como mais uma derrota para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

— No fim de janeiro, Levy disse que o real artificialmente valorizado não era bom para a economia. Ele é um grande defensor de não mascarar a moeda. Se o aumento da rolagem ocorrer, será um desgaste político para ele — disse Abucater.

 

 

Juro do cartão de crédito vai a 372%

 

Quem está com as finanças apertadas e precisa recorrer ao cheque especial para pagar as contas tem de arcar com os maiores juros dos últimos 20 anos. Segundo o Banco Central ( BC), em junho, a taxa dessa modalidade de crédito chegou a 241,3% ao ano. Desde março, os juros do cheque especial vêm batendo recordes sobre recordes e já são os mais altos desde 1995. Somente no mês passado, houve um salto de 9,3 pontos percentuais na taxa média cobrada pelas instituições financeiras. E, nos últimos 12 meses, esse aumento foi de 69,6 pontos percentuais.

Apesar dos juros proibitivos — segundo classificação do próprio BC —, as taxas do cheque especial não são as maiores do país. No rotativo do cartão de crédito, as operadoras cobram, em média, 372% ao ano para quem pagar apenas o mínimo do cartão. Só no mês passado, a alta foi de 11,5 pontos percentuais. E de 63,7 ponto percentual nos últimos 12 meses. É o maior patamar já registrado pelo BC desde quando começou a registrar os dados, em 2011.

Na média, a taxa de juros cobradas de pessoas físicas — com créditos livres, aqueles que as instituições podem escolher como emprestar — subiu de 57,3% para 58,6% ao ano em junho. E com o aumento da taxa básica, a tendência é que esses valores continuem a aumentar.

QUEDA NA INADIMPLÊNCIA SURPREENDE

Os dados do BC apontam ainda a desaceleração do crédito do BNDES. O saldo de crédito com recursos direcionados para empresas ficou estagnado no mês passado em R$ 832,7 bilhões.

E uma das surpresas foi a inadimplência. No geral, o nível de calote de empresas e famílias recuou de 3% para 2,9%, graças à reorganização de contas das pessoas físicas.

— Houve uma mudança de comportamento. As iniciativas de educação financeira aumentaram, e a consciência do tomador de crédito, também— disse o chefe do departamento de estudo econômico do BC, Túlio Maciel.

Nos contratos das famílias com bancos com recursos direcionados, a inadimplência caiu de 2% para 1,7%. Esses empréstimos são, na maioria, financiamento da casa própria.