PSDB aposta na brevidade de Dilma

06/07/2015

Denise Rothenburg

O PSDB reelegeu seu presidente, Aécio Neves, para mais dois anos de mandato em clima de campanha para a Presidência da República. Não para 2018, data oficial da eleição do futuro inquilino do Planalto, mas para, no mais tardar, início de 2016. Os tucanos apostam em nova eleição para breve. A 500m do Palácio da Alvorada, na sala de convenções de um hotel, discursos e avaliações internas, as estrelas da legenda eram incisivas ao declarar que não veem na presidente Dilma Rousseff a credibilidade política e econômica para empreender a retomada do desenvolvimento e da estabilidade. “Esse grupo político está caminhando a passos largos para a interrupção do mandato. A verdade é que a presidente não governa mais”, disse Aécio, colocando de viva voz o que está no dia a dia de avaliações políticas.

Ele terminou pedindo a militantes que levassem “o sentimento da coragem para fazer o que precisa ser feito”.O discurso de 31 minutos foi estrategicamente pensado para apresentar os quadros do partido. Começou com pinceladas na história do PSDB e seus maiores líderes: Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, ex-governador de São Paulo, falecido em 2000. Depois, fez um apanhado das últimas eleições. Feito isso, Aécio partiu para expor o que se vê na gestão de Dilma: “O que temos hoje é um governo afogado em denúncias, paralisado pela incompetência e desacreditado pela fala de confiança (…) O país respira hoje uma combinação tóxica que sufoca o ambiente econômico, contamina a arena política, afronta princípios caros aos brasileiros e torna a vida da nossa população mais difícil.

Devido a seus erros crassos e frequentes, a presidente não governa mais. Vê a cada dia o seu poder se esvair”, completou.Aécio criticou ainda o ajuste econômico do governo, que, dissociado de reformas estruturais e administrativas, não traz resultado. “Temos um autêntico desgoverno, que abriga caprichosamente uma crônica ineficiência e premia a má gestão”, disse ele. “Estamos lidando com o que acreditávamos estar totalmente superado desde o Plano Real.

O desafio nacional é, de novo, controlar inflação, retomar o crescimento e garantir empregos e evitar o agramento da crise social na qual já estamos mergulhados”, afirmou.Logo depois, numa rápida entrevista ao lado do governador Geraldo Alckmin, Aécio afirmou que mais cedo ou mais tarde vai caber ao PSDB corrigir “os equívocos do governo e limpar toda essa lambança” e mencionou que o partido tem que estar pronto e assumir a responsabilidade, seja qual for o desfecho. Alckmin, que já havia feito um duro discurso contra o governo da presidente Dilma Rousseff, dizendo, inclusive, que o “PT não gosta dos pobres e sim do poder a qualquer preço”, completou: “O PT chegou ao fundo do poço.

Cabe a nós não deixar que o Brasil seja carregado com eles”, repetindo parte do que já havia sido dito aos convencionais por outros oradores de ponta do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; o senador José Serra, que falou em nome dos ex-presidentes tucanos; e ainda o governador de Goiás, Marconi Perillo. “Imagine se o governo Fernando Henrique não tivesse privatizado a Vale e o setor de telefonia? Não sobraria nada”, disse Perillo, citando as denúncias de corrupção na Petrobras.

CriseFernando Henrique, hoje fortalecido e homenageado pelo partido, citou o mar de crises que vive o Brasil e alertou para o início de um mal-estar social que tem tudo para se agravar diante do atual quadro e, nas entrelinhas, lembrou de Luiz Inácio Lula da Silva: “Tinha um que dizia nunca antes, nunca como antes. Pois nunca como antes se roubou tanto nesse país (…) O rumo foi perdido. O Brasil foi quebrado pelo PT, pelo lulopetismo”, e cobrou: “Precisamos ir até o fim para que o Brasil seja passado a limpo.”José Serra, que concorreu à Presidência pelo PSDB em 2002 e 2010, pregou o parlamentarismo.

Fez também um apelo a Aécio Neves para que, como presidente do partido, aposte nesse sistema de governo dentro da reforma política em curso no Senado. Serra se referiu a essa crise como a mais grave que o país já viveu. “Governo ruim se intoxica com a própria mediocridade”, disse ele, fazendo um alerta ainda ao partido para que não caia nas tentações de aprovar “loucuras fiscais” que podem comprometer não o governo Dilma, “mas futuros bons governos que estão por vir”.Serra, entretanto, não detalhou que “loucuras” seriam essas e nem era o momento ideal para isso, embora a plateia estivesse bem eclética em termos de senadores. Até Magno Malta (PR-ES), que integra um partido da base do governo, marcou presença, mas saiu antes dos discursos de Aécio e de Fernando Henrique.

Chegou a ser anunciado como presidente do PR e fez questão de corrigir o mestre de cerimônias. “Meu partido é da base do governo, mas eu sou da base do povo.”Da oposição, faltou apenas a Rede de Marina Silva, que fez uma reunião em Brasília no mesmo fim de semana. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, enviou uma carta de cumprimentos aos tucanos. “Expresso minha esperança de que forças políticas e democráticas possam criar condições necessárias para superar as dificuldades vividas pelos brasileiros.” Estiveram presentes Roberto Freire, do PPS, José Agripino, do DEM, Pastor Everaldo, do PSC, e Cristiane Brasil, do PTB, filha de Roberto Jefferson.“Esse grupo político está caminhando a passos largos para a interrupção do mandato”Aécio Neves, senador e presidente do PSDB“O PT chegou ao fundo do poço.

Cabe a nós não deixar que o Brasil seja carregado com eles”Geraldo Alckmin, governador de São Paulo“O rumo foi perdido. O Brasil foi quebrado pelo PT, pelo lulopetismo. Precisamos ir até o fim para que o Brasil seja passado a limpo”Fernando Henrique, ex-presidente do Brasil.