Executivo diz que ‘ contribuição’ em Angra 3 foi pedida para Lobão

 

 O executivo Flavio Barra, da construtora Andrade Gutierrez, afirmou ontem que o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, pediu às empresas do consórcio construtor da usina nuclear Angra 3 uma contribuição para o PMDB em nome do ex- ministro de Minas e Energia Edison Lobão ( PMDB- MA).

O pedido foi feito em agosto de 2014, segundo ele, numa reunião das empresas do consórcio, disse o executivo em depoimento à Polícia Federal na manhã de ontem. A mesma situação já havia sido descrita por Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa, que citou a mesma reunião em sua delação premiada.

Segundo os advogados de Barra, Roberto Telhada e Edward Carvalho, o executivo contou que negou o dinheiro. A reunião teria sido realizada para que Camargo Corrêa, UTC e Andrade Gutierrez discutissem detalhes do contrato de Angra 3, sob responsabilidade da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras. Segundo o depoimento de Avancini, nessa reunião teria sido discutido também o pagamento de 1% do valor do contrato como propina para o PMDB e dirigentes da Eletronuclear.

O advogado do senador Edison Lobão ( PMDB- MA), Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que não vai comentar o depoimento de Barra porque foi baseado em delações cujo teor não foi liberado pelo Supremo Tribunal Federal ( STF).

— Só vamos nos manifestar quando soubermos o que Ricardo Pessoa e Dalton Avancini disseram — afirmou Kakay.

Acusado por Avancini de receber R$ 4,5 milhões de propina, o presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, também prestou depoimento à PF ontem. Ele negou ter recebido propina das empreiteiras participantes do consórcio. O advogado de Othon, Helton Márcio Pinto, disse que seu cliente nem conhece Avancini:

— Ele não teria por que receber propina. Ele só participa do final ( da licitação), assinando o contrato — explicou Helton Pinto.

 

Goes delata 13 empreiteiras e promete pagar R$ 38 milhões

 

 O operador Mário Goes teve seu acordo de delação premiada homologado ontem pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava- Jato na Justiça Federal do Paraná. Goes se comprometeu a pagar multa de R$ 38 milhões e a contar o que sabe sobre irregularidades em contratos de 13 empreiteiras com a diretoria de Serviços da Petrobras. Em troca, foi autorizado a trocar a prisão por sua casa, com tornozeleira eletrônica.

Em depoimento prestado anteontem, Goes disse que nunca imaginou que o esquema de corrupção seria descoberto porque o ex- gerente de Serviços da estatal Pedro Barusco lhe disse que “pessoas poderosas e até o partido do próprio governo estaria sendo beneficiado por esse esquema.” Procurado, o PT informou que todas as “doações feitas ao partido foram legais e devidamente declaradas”.

Segundo o delator, as propinas eram pagas pelas empreiteiras a Barusco de três formas: por meio de falsos contratos de prestação de serviços com a Riomarine, sua empresa; em dinheiro vivo no Brasil; e por meio de depósitos no exterior, nas contas Maranelle e Phad do Banco Safra, da Suíça. Ele ficava com uma comissão.

Os depoimentos de Goes citam 13 empresas: Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Setal/ SOG, OAS, MPE, UTC, Odebrecht, Carioca, Bueno Engenharia, Queiroz Galvão, Iesa, Schain e WTorre.

Sobre a OAS, o delator afirmou que a empreiteira pagou propina relativa às obras do Centro de Pesquisas da Petrobras ( Cenpes) por meio de uma corretora, a Advalor. Os repasses corresponderam, segundo Goes, ao contrato vencido pelo Consórcio Novo Cenpes, liderado pela OAS, e que incluía ainda Schahin, Construbase, Carioca Christia-ni-Nielsen e Construcap.

A estatal pagou R$ 1,8 bilhão pela obra, após 17 aditivos. Barusco já havia dito, em delação, que 2% do valor desse contrato viraram propina — metade para o PT, metade para “Casa”, referência a executivos da Petrobras. O Consórcio Novo Cenpes afirmou que “refuta veementemente tais alegações”.

Em outro depoimento, Mário Goes revelou que ele e Barusco levaram um “calote” em um acordo de pagamento de propina com a Bueno Engenharia. De um total de R$ 3,6 milhões que haviam sido combinados, o dono da empresa, Adroaldo Bueno, teria pago só R$ 1 milhão. O operador assumiu o prejuízo.