Requerimentos sobre pessoas ligadas a Cunha na Lava- Jato ficam fora da pauta
PF pode abrir inquérito para apurar as doações recebidas pelo Instituto Lula
A CPI da Petrobras aprovou a convocação do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para explicar as doações da empreiteira Camargo Corrêa à entidade. Também quebrou o sigilo fiscal, telefônico e bancário do ex- ministro José Dirceu, investigado na Lava- Jato. Na mesma sessão, peemedebistas manobraram para não votar requerimentos contrários ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB). - BRASÍLIA- Sob protestos da bancada do PT, a CPI da Petrobras convocou ontem o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto; o tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010, José de Filippi Júnior; quebrou os sigilos bancário, fiscal e telefônico do ex- ministro José Dirceu e aprovou acareações do ex- tesoureiro petista João Vaccari Neto com delatores da Operação Lava- Jato que o acusaram de receber propina em nome do partido. Isolados, os petistas afirmaram que a pauta foi montada com o objetivo de constranger a legenda no dia da abertura de seu congresso, em Salvador.
No dia em que a CPI aprovou 140 requerimentos, ficaram de fora as convocações de pessoas que têm relação com suspeitas de envolvimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), no escândalo. O presidente da CPI, Hugo Motta ( PMDB- PB), disse que elas seriam votadas após a apreciação dos demais requerimentos. Na hora em que poderiam entrar em votação, porém, o próprio Cunha abriu as deliberações no plenário da Câmara, e a comissão interrompeu os trabalhos.
O relator da CPI, deputado Luiz Sérgio ( PT- RJ), chegou a definir como “vergonhoso” a comissão deixar de fora essa parte da investigação. O deputado Ivan Valente ( PSOL- SP), autor dos requerimentos, protestou:
—É a terceira ou quarta vez que isso ocorre. Aqui existe um grande acordo para não votar e para excluir. É evidente que tem uma blindagem escancarada.
Okamotto foi chamado para explicar o recebimento pelo Instituto Lula de R$ 3 milhões em doações da empreiteira Camargo Corrêa, uma das investigadas na Lava- Jato. As doações aconteceram em 2012 e 2013 no mesmo dia de repasses feitos ao PT. A construtora doou ainda R$ 1,5 milhão a uma empresa de palestras do ex- presidente Lula. Filippi, por sua vez, foi chamado para esclarecer questionamentos sobre as doações eleitorais recebidas pela campanha de Dilma.
Em relação a Dirceu, a quebra dos sigilos vai de janeiro de 2005 a janeiro de 2015 e inclui a sua empresa JD Consultoria, também irrigada com recursos de empresas investigadas na Lava-Jato. O período é maior que o já realizado pela Justiça Federal do Paraná e abrange o sigilo telefônico.
No caso de Vaccari, o objetivo é colocálo frente a frente com Pedro Barusco, o ex- gerente da Petrobras que delatou ter se reunido algumas vezes com o ex- tesoureiro para discutir a distribuição de propina. Em um dos requerimentos inclui- se o ex- diretor Renato Duque, superior de Barusco e ainda preso, na acareação. Outro propõe colocar na mesma sessão Vaccari, Barusco e o doleiro Alberto Youssef, um dos delatores. O ex- tesoureiro petista será colocado frente a frente ainda com o exdiretor Paulo Roberto Costa, outro delator do esquema de corrupção na Petrobras.