Coaf identifica movimentação atípica de R$ 51,9 bi na Lava-Jato

O Coaf diz ter identificado movimentações atípicas de investigados na Lava-Jato no total de R$ 51,9 bi, sendo R$ 1,3 bi em espécie. -BRASÍLIA- O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) identificou movimentações atípicas de investigados na Lava-Jato no montante de R$ 51,9 bilhões. A informação foi revelada na CPI da Petrobras pelo presidente do Coaf, Antônio Gustavo Rodrigues, e é resultado dos 267 relatórios feitos de 2011 até agora, a pedido da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Ele afirmou que, desse total, R$ 1,381 bilhão foi movimentado em espécie, num tipo de operação que provoca mais suspeita no sistema do órgão.

JORGE WILLIAMNa CPI. Antônio Rodrigues, presidente do Coaf: “Youssef já era famoso (antes da Lava-Jato)”

Rodrigues ressaltou que pode haver casos de algumas operações repetidas. Destacou que foram alvo dos relatórios do Coaf, até o momento, 27.579 pessoas físicas e jurídicas. A base para os relatórios foram 8.918 comunicações de movimentações atípicas recebidas pelo órgão.

“ENTRADO DE GAIATO”

O presidente do Coaf observou que nem todas as pessoas citadas nesses relatórios devem ter envolvimento direto com os crimes investigados na Lava-Jato. Citou como exemplo alguém que tenha vendido legalmente um imóvel para algum dos envolvidos no esquema.

— Nosso foco são as operações financeiras. Nesse meio tem gente que pode ter entrado de gaiato, mas isso é a investigação dos órgãos competentes (PF e MPF) que vai dizer — explicou Rodrigues, em entrevista após o depoimento.

Entre os citados nos relatórios estão alguns dos principais alvos da operação, como o doleiro Alberto Youssef.

— Youssef já era famoso (antes da Lava-Jato), já tinha sido investigado, fez delação no passado, mas continuou operando — afirmou Rodrigues.

Segundo ele, foi com base em relatórios do órgão sobre a atuação de doleiros que foi iniciada a operação. Desde então, a investigação cresceu e chegou à Petrobras, com a prisão de ex-dirigentes, e às principais empreiteiras do país, que tiveram seus executivos presos.

Rodrigues reclamou da falta de estrutura do órgão que preside. Disse que enquanto o Coaf brasileiro tem 54 funcionários, o órgão similar do Paraguai tem 80. Ressaltou ainda que 9 dos funcionários que atuam atualmente no Coaf são cedidos por outros órgãos. Ele tem tentado contornar a falta de pessoal com investimentos em tecnologia.

Na audiência, Rodrigues afirmou ainda que não vê os bancos como “coniventes” na movimentação dos recursos desviados da Petrobras. Ressaltou ainda que foi por meio da comunicação dos bancos que se descobriram as movimentações. Um dos exemplos citados foi a tentativa do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró de sacar recursos de um fundo de previdência mesmo sendo avisado que teria prejuízo na operação. Cerveró acabou preso antes de concretizar o saque, e o relatório do Coaf foi um dos argumentos da prisão.

HAGE NEGA TER PROTELADO INVESTIGAÇÃO

Jorge Hage, ex-ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), também falou na CPI e negou que o órgão que chefiava tenha protelado investigações sobre a empresa holandesa SBM com o objetivo de proteger a candidatura à reeleição de Dilma. A acusação foi feita pelo ex-funcionário da SBM Jonathan Taylor, que denunciou pagamento de propina em diversos países, entre eles o Brasil.

— Não é verdade que se teria protelado a investigação sobre o caso, muito menos por motivação política. Se a denúncia era pública, qual objetivo de esconder a atuação dos órgãos de controle? Pelo contrário, o interesse seria o quanto antes chegar às punições — disse Hage.

 

MPF: Odebrecht pagou a Cerveró no exterior

 

O Ministério Público Federal afirma que documentos em seu poder reforçam a suspeita de que a Odebrecht pagou propina também para o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, na Suíça. De acordo com os procuradores, Cerveró recebeu US$ 300 mil na conta da Forbal Investment Inc., aberta no Uruguai em abril de 2008. O dinheiro foi depositado por Bernardo Freiburghaus, apontado como repassador de propinas para a construtora pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, delator da Operação Lava-Jato.

Os pagamentos a Costa, feitos por Freiburghaus, também foram identificados pelo MPF. Um deles, de US$ 340 mil, foi creditado na Quinus Services, que pertencia a Costa e tinha Freiburghaus como procurador.

Os pagamentos da Odebrecht a Cerveró e a Costa foram identificados a partir do depoimento de Alexandre Moura — dono da Comtex, fornecedora da Petrobras. Moura disse ao MPF que Freiburghaus lhe disponibilizou US$ 640 mil em espécie no Brasil e pediu que pagasse com transferências para duas contas na Suíça — a Quinus, de Costa, e a Forbal, na operação conhecida como dólar- cabo. “A conta Forbal era conta de Nestor Cerveró, o que indica pagamentos da Odebrecht também em favor de Cerveró no exterior”, dizem os procuradores do MPF.

O juiz Sérgio Moro informou ontem ao Tribunal Regional Federal da 4 ª Região que há risco de fuga do país de Márcio Faria, ex-executivo da Odebrecht, que está preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Segundo Moro, Faria enviou ao exterior R$ 11,4 milhões no segundo semestre do ano passado, depois que foram iniciadas as investigações.

A defesa de Faria contestou e disse que foram eles próprios que informaram à Justiça sobre as remessas, numa demonstração de “boa-fé”. Para os advogados, Faria poderia ter fugido se quisesse, pois tem nacionalidade suíça. Mas permaneceu no país.

O juiz decidiu também conceder “nova oportunidade” à Odebrecht e aos seus executivos para que esclareçam as 135 ligações telefônicas entre o executivo da empreiteira Rogério Santos de Araújo e o doleiro Freiburghaus. Esta seria a principal prova da ligação da empresa com o operador de propina. A Odebrecht tem agora seis dias para se manifestar. Segundo o MPF, 28 ligações de Araújo para Freiburghaus, no período de março de 2011 a dezembro de 2012, foram seguidas de depósitos nas contas de Costa na Suíça.

Freiburghaus, que fugiu para a Suíça, teria feito depósitos também para Pedro Barusco e Renato Duque, outros dois funcionários da estatal beneficiários de propina. Barusco admite. Duque nega. A Odebrecht também nega ter feito pagamentos no exterior a exdiretores da Petrobras.