Título: Além das palavras
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Fonte: Correio Braziliense, 01/09/2011, Opinião, p. 20

Visão do Correio

Finalmente o Governo do Distrito Federal anuncia medidas concretas para responder à epidemia do crack ¿ uma das grandes tragédias que se abateram sobre a capital da República. Trata-se do Plano de Enfrentamento ao Crack e a outras Drogas. No papel, o projeto parece abrangente. Prevê medidas que atenderão as três etapas indispensáveis do processo ¿ prevenção, tratamento e repressão.

A cerimônia do lançamento do pacote contaria com a presença da presidente Dilma Rousseff, que, em razão de imprevisto, não pôde comparecer. De qualquer forma, o aval do Palácio do Planalto deixa clara a importância de combater o mal que se espalha como mato em terreno fértil, contamina a sociedade e ceifa vidas com rapidez assustadora.

Na campanha eleitoral, tanto Dilma quanto o governador Agnelo Queiroz prometeram providências urgentes e eficazes para frear o avanço da droga.

Ninguém duvida de que a tarefa é hercúlea. Basta passar pelas ruas de Brasília para ver que determinados setores viraram cracolândia. A Rodoviária do Plano Piloto, situada a 10 passos do Palácio do Planalto e do Palácio do Buriti, exibe triste e vergonhoso espetáculo que constrange as consciências civilizadas. Adultos e crianças ¿ verdadeiros andrajos humanos ¿ perambulam por entre os carros na busca desesperada por dinheiro para alimentar o vício.

Não é por acaso que o primeiro Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (Caps AD) esteja localizado próximo a esse templo de decadência e desagregação. A unidade, que funciona 24 horas diárias, dispõe de ambulatório móvel preparado para atender a população que mora na rua. Há previsão de que, até o fim do ano, sejam construídos mais seis Caps no Plano Piloto. Taguatinga e Ceilândia, também com problemas críticos, têm projeto de construção de Caps para socorrer consumidores de entorpecentes.

O tratamento emergencial, vale lembrar, vai além do pronto atendimento. Embora previstos, os centros de internamento não saíram do papel. O mesmo ocorre com profissionais especializados como médicos e psicólogos. Eles serão recrutados por concurso público. O processo é correto, porém lento. Urge começar logo. Sem isso, dificilmente as palavras se tornarão atos. Por seu lado, a repressão tem de ser reforçada. Traficantes do varejo precisam ser punidos. Mas o atacado deve merecer atenção especial. Ele está na ponta da degradação que não se restringe ao indivíduo. Abrange a família, os vizinhos, os colegas. Em suma: adoece a sociedade.