Em 1969, CIA avaliava que AI-5 aumentaria violência de grupos extremistas no Brasil

 

 A CIA, agência de inteligência dos Estados Unidos, avaliou em fevereiro de 1969 que o Ato Institucional n º 5 ( AI- 5), editado em 13 de dezembro de 1968 pela ditadura militar, representou um movimento do Brasil rumo a um “governo abertamente autoritário” e com potencial para aumentar ainda mais a violência cometida por grupos extremistas, tanto da esquerda como da direita.

A análise da CIA faz parte de um pacote de 538 documentos sobre a ditadura militar brasileira liberados pelo governo dos EUA e disponível no site do Arquivo Nacional brasileiro. Segundo a CIA, havia ações violentas dos dois lados, e era difícil apontar quem era responsável por atos que ocorriam nas ruas das cidades brasileiras. O AI-5 suspendeu garantias individuais e deu amplos poderes ao presidente da República, na época o marechal Artur da Costa e Silva.

O documento dizia que grupos de esquerda vinham recorrendo a assaltos e ao terrorismo para levantar fundos e mostrar ao governo que existia oposição. “Em reação, o extremismo direitista também está crescendo, e alguns grupos de direita estão engajados no terrorismo. A presença de tais grupos tanto na direita como na esquerda algumas vezes faz a atribuição de responsabilidade por um ato particular ser extremamente difícil”, diz o texto.

“FORTALECER A LINHA-DURA”

Segundo a análise feita pela CIA, a violência era essencialmente urbana e cada vez mais audaz. O provável, diz o documento, era que ela continuasse. “A proscrição em dezembro (AI-5) de canais democráticos de oposição ao governo certamente levará mais brasileiros em direção ao extremismo. Violência atribuída a grupos esquerdistas provoca reação violenta por direitistas, e vice-versa. Uma continuação de atos terroristas vai provocar constrangimento à administração e vai fortalecer a posição de quem é linha-dura no governo e acredita que o presidente Costa e Silva deveria ser mais vigoroso em empregar seus poderes de repressão”, diz a CIA.

Em março de 1971, outro documento dizia que o governo de Emílio Médici, que assumiu em 1969, teve “sucesso considerável” no combate ao terrorismo urbano, embora incidentes continuassem ocorrendo. Outros documentos mostram que autoridades dos EUA já sabiam da morte do ex-deputado Rubens Paiva e do militante de esquerda Virgílio Gomes da Silva após serem presos pelo regime. Tinham informações sobre o que ocorreu com outro militante de esquerda, Stuart Angel Jones, embora sem saber se ele ainda estava vivo.

Documento de 11 de fevereiro de 1971 avalia a morte de Paiva como um exemplo de irresponsabilidade e incompetência da repressão política brasileira e teme as consequências que isso pode ter no governo dos EUA. O documento, assinado por um diplomata, defende o julgamento de pelo menos alguns dos responsáveis. “Se o governo do Brasil não fizer isso logo, é certo que os pecados do governo do Brasil vão ser transferidos para nós, causando assim mais um problema no Congresso e na imprensa para a administração Nixon”, diz, em referência ao então presidente americano, Richard Nixon.