Brasil é ‘potência global’, afirma Obama após escândalo de espionagem

 

 Não foi por acaso que a declaração sobre mudanças climáticas foi o ponto alto da visita oficial da presidente Dilma Rousseff a Washington. Costurar compromissos conjuntos, num tema em que historicamente os países estiveram em lados opostos, refletiu a intenção dos dois presidentes de anunciar inequivocamente que Brasil e Estados Unidos superaram o trauma do escândalo de espionagem depois de 18 meses de tensão. Eles reconhecem a avenida de benefícios mútuos numa cooperação ampla, despida de picuinhas, e estão motivados a reconstruir a relação bilateral. O fato de ser o clima um tema multilateral foi outro recado: a parceria refundada tem pretensão de se desenvolver no palco global.

— Vemos o Brasil não como um poder regional, mas como potência global (...) O Brasil é um grande player global — afirmou o presidente Barack Obama. — Reconhecemos que não podemos fazer sozinhos. Se quisermos ser bemsucedidos em saúde global, mudança climática, combate ao terrorismo, redução da extrema pobreza, consideramos o Brasil um parceiro absolutamente indispensável nesses esforços.

Dilma, na entrevista coletiva no Salão Leste da Casa Branca, afirmou que, nas reuniões, celebrouse “a trajetória ascendente” da relação dos dois países. Ela classificou os encontros de “muito produtivos”, dos quais surgiram uma “agenda bilateral robusta” em comércio, educação, investimentos, mudança climática, defesa, tecnologia e inovação.

Comparado com as expectativas, o resultado da visita, com mais de duas dezenas de anúncios nestas áreas de destaque — incluindo medidas concretas como a liberação da importação de carne brasileira nos Estados Unidos —, foi muito mais amplo e ainda melhor do que o esperado.

— Esta visita representa o relançamento de nossas relações — resumiu a presidente Dilma.

Os dois presidentes foram além do vocabulário da diplomacia. Dilma chamou Obama de “querido presidente”; o americano a agradeceu pela “amizade e parceria”. Ambos se colocaram ainda como fiadores da reconciliação entre EUA e Brasil e de um futuro mais cooperativo. Ao dizer que está satisfeita com as explicações sobre a espionagem, Dilma disse: “Eu acredito no presidente Obama". Ele retribuiu mais adiante, ao falar das bases da relação: “Confio nela completamente”.

Não foram os únicos afagos. Obama elogiou a “liderança” de Dilma duas vezes e, ao ressaltar que Brasil e EUA entendem as aspirações de cidadãos para viverem livres, disse: “Os sacrifícios, Dilma, que você pessoalmente fez na sua vida são um testemunho desta determinação”. Dilma assinalou que Obama em seu segundo mandato está refundando as relações com toda a América Latina, mencionando a retomada das relações diplomáticas com Cuba, após 53 anos.