Posto de gasolina em Maceió é dono de Porsche de Collor

16 jul 2015

JULIANA CASTRO, THIAGO HERDY E VINICIUS SASSINE

Carros apreendidos são possíveis provas de crimes, segundo a PF

-RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA- Os três carros de luxo apreendidos pela Polícia Federal anteontem na Casa da Dinda, uma das residências do senador Fernando Collor (PTB-AL) em Brasília, estão registrados em nome de empresas. Dois deles, o Lamborghini e a Ferrari, pertencem à Água Branca Participações, da qual Collor é sócio. Já o Porsche é de propriedade de um posto de gasolina em Maceió, o Jatobá Comércio de Combustíveis Ltda., que não é do senador.

O GLOBO localizou ontem Zaquiel Silva, um dos sócios do posto, segundo registro da Receita Federal. Por telefone, ele disse que tinha acabado de saber da notícia de que um carro de luxo está no nome do estabelecimento. Ao ser perguntado sobre o Porsche, desligou o telefone. Num segundo contato, contou ter “arrendado” o posto há cerca de 30 dias, mas não quis informar quem eram os proprietários.

Como estão registrados em nome de empresas, os veículos não constam da declaração de bens que Collor entregou à Justiça Eleitoral em 2014, quando foi reeleito. Ele declarou outros 14 veículos em meio a bens que totalizam R$ 20,3 milhões e incluem sociedade em empresas, duas lanchas e imóveis. Anteontem, o senador disse na tribuna que os bens apreendidos foram “legalmente declarados e adquiridos antes do suposto cometimento dos pretensos crimes”. A assessoria de Collor informou que o senador sempre declarou a propriedade da Águia Branca, na qual registra parte de seu patrimônio, e que alguns carros estão alienados a instituições financeiras em razão de financiamentos.

Segundo o Denatran, a Ferrari é um modelo 2010/2011; o Porsche, 2011/2012; e o Lamborghini, o mais novo, 2013/2014. O Porsche tem placa de Maceió. Os outros dois, de São Paulo. Os veículos valem juntos R$ 6,3 milhões. Dois deles têm dívidas de IPVA atrasados: R$ 250 mil do Lamborghini e R$ 86 mil da Ferrari. Collor informou que as dívidas estão em processo de quitação.

Diante da suspeita de que políticos receberam propinas do esquema de corrupção da Petrobras, a Procuradoria Geral da República (PGR) pediu a apreensão de dinheiro nos imóveis relacionados a todos os investigados que foram alvo dos mandados de terça-feira por entender que eram produto da corrupção investigada. Os investigadores consideram o material apreendido uma possível prova de crimes.

SUSPEITA DE LARANJAS

O que motivou as buscas nesses casos foi a suspeita de que parte dos bens foi colocada em nome de laranjas. Alguns pedidos da PGR, autorizados pelo STF, foram para apreender bens específicos identificados nas apurações.

A PF cumpriu mandados de busca em imóveis dos senadores Fernando Collor, Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra (PSB-PE); do deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE); do exdeputado João Alberto Pizzolatti (PP-SC); do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PPBA), conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia; e do advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União, Aroldo Cedraz.

O material apreendido ainda não foi analisado pela PGR e pela PF e, como as medidas tramitaram sob sigilo, ainda não se sabe com exatidão quais investigados tiveram dinheiro apreendido. Ao todo, conforme balanço divulgado na terça pela polícia, foram recolhidos R$ 4 milhões, dos quais R$ 3,67 milhões numa empresa em São Paulo, alvo de mandado dentro do inquérito que investiga Collor. Foram recolhidos ainda US$ 45,6 mil e € 24,5 mil.

Parte dos políticos investigados no STF deve ser denunciada mesmo sem buscas como as da Operação Politeia. Nesses casos, as investigações já estão avançadas para gerar denúncias. As buscas poderão ocorrer no curso das ações penais no STF.

___________________________________________________________________________________________________________________

Carros para deixar na garagem

JASON VOGEL

Em Brasília, Ferrari e Lamborghini não podem passar de 80km/h

Com asfalto liso e avenidas largas, Brasília é uma das poucas metrópoles do país em que se poderia usar um carro superesportivo com relativo conforto. Mas há um senão: a cidade é a capital nacional dos radares. São mais de 900 pardais, o que dá, aproximadamente, um controlador a cada 500m de pista. Nas vias mais rápidas o limite de velocidade é de meros 80km/h — e já se fala em baixar para tediosos 70km/h.

O aumento da fiscalização eletrônica e o medo da violência faz com que, no Brasil, os milionários mantenham seus supercarros parados na garagem. Nas oficinas especializadas, os defeitos mais comuns são injetores entupidos por falta de uso.

Da pequena frota de carros apreendida na Casa da Dinda, o exemplar mais raro e valioso é o Lamborghini Aventador LP 700-4 Roadster, modelo 2014. Este conversível italiano tem carroceria inspirada nos caças tipo stealth (de baixa detecção por radar). O modelo é capaz de acelerar de 0 a 100km/h em, aproximadamente, 3 segundos e alcançar 350km/h. A tração integral ajuda o motorista a controlar toda essa potência.

Hoje, o Aventador Roadster é o segundo modelo mais caro à venda no Brasil: custa R$ 3,8 milhões, perde apenas para o RollsRoyce Phantom. Um detalhe interessante do carro apreendido pela Polícia Federal é a placa FCL-0700 — provavelmente escolhida pelas iniciais de Collor, mais um “L” de Lamborghini e o 700 referente à potência do carro.

Já a Ferrari 458 Italia encanta Collor desde o Salão de São Paulo de 2010, quando ele entrou no estande da marca para ver o carro. Fora de linha, tem motor V8 de 570cv. A aceleração de 0 a 100km/h é feita nos mesmos 3 segundos do Aventador, mas a velocidade máxima é menor: “apenas” 325km/h. Os últimos exemplares 0km no Brasil foram vendidos por R$ 1,9 milhão.

A PF levou também um Porsche Panamera S, modelo alemão que parece tímido e desajeitado perto das supermáquinas italianas. É um carro enorme, com quatro portas e alto luxo. Custa R$ 693 mil.