Título: Mãe desesperada pede ajuda do governo
Autor: Puljiz, Mara; Tolentino Lucas
Fonte: Correio Braziliense, 01/09/2011, Cidades, p. 30

O desespero de uma mãe em busca da recuperação dos três filhos dependentes de crack chegou ao extremo. No lançamento do programa de enfrentamento às drogas, a dona de casa Joana (nome fictício), 43 anos, clamou, em lágrimas, ao governador Agnelo Queiroz pela internação dos jovens. Saiu com a promessa de que eles serão procurados por assistentes sociais. O mais velho, de 22 anos, está preso. O de 21 anos e o de 18 passam meses fora de casa, perambulando pela área central de Brasília. A família mora em Planaltina.

A dependência transformou a vida de Joana e dos filhos num pesadelo. A rotina da dona de casa é pegar um ônibus em Planaltina com destino à Rodoviária do Plano Piloto na tentativa de convencer ambos a largarem o vício. Ela roda todos os becos à procura deles. De tanto ir ao local, ficou conhecida por muitos dos usuários que vivem como zumbis no centro de Brasília. Diariamente, Joana pergunta a eles sobre o paradeiro dos filhos. Assim como em outros dias, ontem, ela voltou para casa sem encontrá-los. "O meu coração dói. Não consigo saber nem se eles estão vivos", desabafou.

O filho de 21 anos está na rua há 15 dias e o de 18, há um mês. Da última vez, eles só tomaram banho e ganharam mais uma vez as ruas para consumir o crack. "Chegaram sujos, bem magrinhos. Me deu uma tristeza. Chorei, pedi para eles ficarem. Mas não adianta. O vício é maior, eles perderam o controle", lamenta a dona de casa.

Enquanto os filhos passam a madrugada sob o efeito do entorpecente, a mãe não consegue fechar os olhos. Há 15 dias sem conseguir dormir, Joana entrou para um grupo de terapia comunitária no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Planaltina. "Às vezes, sinto que estou enlouquecendo. O crack é uma coisa fora do normal, arruinou a minha família. Mas essa droga não vai nos vencer, vou continuar nessa luta até o fim", prometeu a dona de casa.

Perfil Os filhos de Joana se encaixam no perfil mais comum dos dependentes de crack. Segundo pesquisa do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), 23% dos viciados têm entre 15 e 25 anos de idade. Além disso, segundo o estudo, a maioria deles é do sexo masculino ¿ 87% das pessoas em tratamento em unidades públicas do DF são homens.

No caso dos três filhos de Joana, o primeiro contato com o mundo das drogas ocorreu no início da adolescência, entre 13 e 15 anos de idade. Segundo a dona de casa, por vezes, eles recebem atendimento de assistentes sociais, o que não foi suficiente para fazê-los deixar o crack. "Eles precisam de internação. Ir para os centros de reabilitação durante o dia e voltar para as ruas à noite não adianta", acredita a mãe.

"O crack é o pior de tudo"

"Tudo começou como uma brincadeira. Eu tinha 13 anos e fumava maconha para me divertir. Aí veio o álcool e o pó (cocaína). Acabei abandonando a escola. Fui preso por roubo, aos 23. Passei três anos na cadeia e as coisas ficaram piores. Quando saí, já tinha esse tal de crack e me afundei. Essa droga é o pior de tudo. É química geral. Eu não dormia, não tomava banho. Quando acabava o efeito do crack e não tinha mais, ficava doido. Bebia cachaça, cheirava cola. Fui perdendo minha família, meus amigos. As pessoas acabam perdendo a confiança na gente. Às vezes, me sentia culpado e acabava me isolando ainda mais.

No início, você pensa que vai dar conta de parar. Mas é muito difícil. Eu até conseguia ficar dois dias sem usar drogas. Mas acabava caindo de novo no crack. Saía de casa na sexta-feira e só voltava na terça. Passava quatro dias sem dormir. Estava magro, abatido. Até que, há três meses, entrei para um clínica de reabilitação de um igreja. É preciso muita força de vontade. Leio a Bíblia todos os dias de manhã para ter força e aguentar passar o dia. Estudo, faço pinturas e estou vendendo balas no sinal para tentar mudar de vida. Faz três meses que estou longe das drogas e, se Deus quiser, vou continuar. Foi como tirar uma venda dos olhos e enxergar o que está ao meu redor. O mundo foi apresentado de novo para mim."

Helder José Gomes de Lima, 28 anos, ambulante