Título: Socorro aos usuários
Autor: Puljiz, Mara; Tolentino Lucas
Fonte: Correio Braziliense, 01/09/2011, Cidades, p. 30

Plano de enfrentamento ao crack e a outras drogas tem 16 medidas prioritárias. A partir de hoje, profissionais vão abordar moradores de rua e tentar convencê-los a se tratarem em uma das unidades públicas. Trabalho começa pela área central de Brasília, onde o problema é críticoNotíciaGráfico

Está lançada a ofensiva para combater o crack no Distrito Federal. O governador Agnelo Queiroz assinou, ontem, o decreto que cria o Plano de Enfrentamento ao Crack e a outras Drogas e anunciou uma série de ações para conter o uso e o tráfico de drogas na capital do país. De um total de 86 medidas, 16 serão executadas imediatamente (veja quadro). Entre elas, está a criação de 11 ambulatórios de rua. Hoje, deverá ser publicado no Diário Oficial do DF o edital de concurso público para contratar 250 profissionais que atuarão em unidades terapêuticas e nos Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (Caps AD).

O enfrentamento às drogas conta com investimento de R$ 65 milhões, dinheiro que será aplicado em quatro anos. A guerra contra o crack começará com abordagens de moradores de rua por um grupo de psicólogos e assistentes sociais na área central do Plano Piloto. Nesta primeira fase, será feito um trabalho preventivo e de convencimento para que a pessoa aceite tratamento. Em um ambulatório móvel, psicólogos, médicos e agentes sociais vão circular pelo Conic, Setor Comercial Sul, Rodoviária, entre outros pontos.

Os dependentes químicos que quiserem se livrar do vício serão encaminhados para uma avaliação no Caps AD que fica no prédio do antigo Touring, que conta com uma pequena enfermaria para recebimento de casos mais graves. No local, profissionais de saúde irão examiná-los, verificar o grau de dependência e que tipo de tratamento os usuários precisam. "A necessidade de internação será avaliada pelo médico. Para convencê-los, vamos tentar mostrar que eles podem construir um novo projeto de vida. Não se trata apenas de uma intervenção médica ou psicológica pontual. Temos que ajudar essa pessoa a traçar novos objetivos de vida", explicou o gerente da Saúde Mental, Augusto César Farias.

Revitalização No plano de enfrentamento, estão previstos ainda a revitalização de áreas mal iluminadas e a construção de Caps AD em Taguatinga e Ceilândia. Não está descartada a possibilidade de haver internações compulsórias, como ocorre no Rio de Janeiro. A medida, porém, só será tomada mediante ordem judicial, como prevê a Lei da Política Nacional de Saúde Mental nº 10.216, de 6 de abril de 2001. "No DF, não tem política baseada nesse eixo. Podemos internar um usuário de droga durante um ano, mas se não oferecermos nenhuma alternativa de vida para essa pessoa, ela volta para o uso do crack", destaca Augusto Farias.

Em uma outra frente voltada para a repressão, as polícias Militar e Civil estarão encarregadas de prender narcotraficantes. Para isso, a segurança pública ganhará reforço de 18 câmeras de filmagem com alta tecnologia. Os equipamentos têm sistema infravermelho e poderão captar imagens à noite e, assim, identificar os criminosos que oferecem entorpecente. Haverá intensificação do cumprimento de mandados de prisão e serão criadas seções de repressão às drogas em todas as delegacias das regiões administrativas.

Escolas, igrejas e famílias serão mobilizadas na luta contra o crack. Profissionais de saúde, segurança e demais áreas receberão capacitação para lidar com o problema. O governo também irá intensificar as campanhas preventivas, com 43 ações para toda a sociedade. Uma delas é a distribuição de 100 mil cartilhas e a realização de palestras nos colégios. "A prevenção é o início de tudo. O grande objetivo é evitar que a juventude caminhe para essa área da droga, sem abrir mão de tratar os dependentes e de reprimir o tráfico de tal maneira que a droga não chegue às nossas crianças e à sociedade", destacou o governador Agnelo Queiroz.

Agnelo diz que a rede pública de saúde começa a se preparar para receber a demanda de dependentes químicos. "É verdade que haverá problemas. Mas nós vamos superar paradigmas e ampliar espaços que não existiam antes e isso nem sempre é tranquilo. Quando se tem uma decisão política de fazer, tem o empenho das áreas e uma mobilização grande, é possível mudar a realidade", completa.

Ampliação O DF tem 12 Caps, mas somente cinco são voltados para o tratamento de álcool e drogas. O governo quer abrir mais seis unidades até o fim do ano e também determinou o credenciamento de 250 leitos em comunidades terapêuticas para atender aos usuários.