Título: Calor castiga o brasiliense
Autor: Alcântara, Manoela; Pompeu, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 01/09/2011, Cidades, p. 36

Com os 33º C registrados nos termômetros, a cidade viveu, ontem, o dia mais quente deste ano. Até agora, somente em 2008 foi verificada uma temperatura mais alta em Brasília. Umidade continua baixaNotíciaGráfico

Além da seca que provoca falta de ar, rachaduras nos lábios, ressecamento nos olhos e na pele, o brasiliense, ontem, teve mais um motivo para se incomodar: o calor. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), por volta das 16h, foi registrada a temperatura mais alta do ano. Quem não tinha um aparelho de ar-condicionado ou ventilador por perto sentiu o desconforto dos 33ºC atingidos. No mesmo horário, a umidade relativa do ar era de 21%. A maior marca de 2011 havia sido divulgada, na última terça-feira, quando os termômetros cravaram 31,6º C . Historicamente, o recorde pertence a outubro de 2008, com o índice de 35,8º C.

O calor ainda deve causar incômodo por dois meses. A previsão é que o tempo quente continue em setembro e outubro com a média de 32ºC ou 33ºC. A boa notícia para quem sonha com dias mais amenos é que a chuva chegará mais cedo este ano. Os primeiros pingos em áreas isoladas devem cair no início deste mês, 15 dias antes do que foi observado em anos anteriores. Uma frente fria já se instalou no sul de Goiás e pode também provocar dia nublado hoje. "Na primeira quinzena poderemos ver chuvas pontuais. Este mês promete oscilações entre dias de intenso calor e os mais amenos; não se manterá constante como agosto", afirma o meteorologista Hamilton Carvalho.

As altas temperaturas registradas nos últimos dias provocaram mudanças bruscas na rotina do pipoqueiro Antônio Francisco da Silva, 28 anos, morador de Samambaia. Ele se protege do sol e da seca como pode. Procura sempre estacionar o carrinho à sombra e não sai de casa sem protetor solar e uma garrafa de água. Para fugir do desconforto, tem adiado o início do trabalho. "Normalmente, saio de casa às 11h. Quando está muito quente, deixo para ir mais tarde, por volta das 15h. Às vezes, nem vou trabalhar", contou. Assim, Antônio consegue se livrar do calor, mas perde dinheiro. "É difícil, mas não tem outro jeito. Tem dia que chego em casa muito cansado por conta do sol forte."

De acordo com o major Alexandre Ataídes, da Defesa Civil, mudar o horário das atividades é uma boa opção para fugir do incômodo que as altas temperaturas causam. Em algumas profissões, essa tem sido a orientação. "Os horários mais críticos são entre 11h e 16h. Para os empregados do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), carteiros e aqueles que estão em canteiros de obras, é recomendado o expediente antes ou depois desses períodos", ressaltou o major. Além disso, é necessário beber muita água, consumir frutas e legumes. As roupas também devem ser leves, de acordo com o clima.

Seca O DF está há 83 dias sem chuva. Mesmo que ela caia, não há previsão para o aumento da umidade. Hoje, a marca de 20% nas horas mais quentes ainda deve ser registrada. Por volta das 11h30 de ontem, o administrador Fábio Bittencourt, 37 anos, aceitou conversar com a reportagem sob uma condição: "Só se for à sombra". Ele não deixa a seca atrapalhar sua rotina, mas, para isso, teve que fazer algumas mudanças de hábito. "Eu corro todo dia na hora do almoço. Só disponho desse horário, então tenho que enfrentar. Para mim, a solução é água, água, água", afirma.

Quem vem de fora sente ainda mais dificuldade em lidar com o clima brasiliense. Para a estilista Nathálya Suter, 23 anos, natural do Espírito Santo, não ter tido problemas de saúde é motivo de comemoração. "Sempre tenho crises de enxaqueca. Este ano, porém, eu me preveni melhor e estou tomando mais água de coco para ficar mais hidratada. Quando passo creme hidratante, parece que a pele logo suga e em pouco tempo tenho que passar de novo", cofmenta. Nathálya sofre com a seca, mas observa que o calor está ainda mais forte. "Está quente demais, mais que em outros anos. Sempre venho a Brasília na mesma época, mas este ano está pior."

Baiano acostumado ao tempo quente, o lavador Erivaldo Santos Reis, 26 anos, está sonhando com os primeiros pingos de setembro. "Acho que nessa época, no ano passado, já tinha chovido pelo menos uma vez, não?" Enquanto conversa, a mãe dele, Maria Rosa da Silva Borges, 47, que veio visitá-lo e passeava na Esplanada dos Ministérios, tenta apagar alguns focos de incêndio que surgiram perto da Biblioteca Nacional. "É para ver se não espalha mais. Tudo isso é a seca ou o calor?", pergunta.

Incêndios O calor aumenta ainda mais a probabilidade de incêndios florestais. Até as 20h de ontem, o Corpo de Bombeiros havia atendido 76 chamados. "São tantas ocorrências que os bombeiros não estão dando conta. Estamos apelando aos pedidos de conscientização da sociedade", diz o major Alexandre Ataídes, da Defesa Civil. Segundo ele, devem-se evitar queimadas de lixo no quintal e a limpeza de terrenos com fogo. "Eles podem se alastrar. Nesse período é importante evitar as possibilidades", enfatiza.

* Colaborou Thaís Paranhos

Bombeiro controla as chamas na Asa Sul: combustão espontânea é ocorrência frequente no período

Inverno quente Temperaturas tão intensas não são características desse período. Geralmente, ele é marcado pela seca. No último dia 15, por exemplo, o DF sentiu como pode ser o clima de um deserto, com a umidade em 10%, taxa atingida somente em duas outras vezes na história: em 2002 e 2004.

Dias mais quentes

35,8ºC - 28 de outubro de 2008 34,5ºC - 12 de outubro de 1963 34,3ºC - 17 de outubro de 2007 34,2ºC - 24 de setembro de 2007 34,1ºC - 29 de outubro de 2007 34ºC - 17 de outubro de 2008 34ºC - 13 de outubro de 1963 33ºC - 31 de agosto de 2011