Decisões da Petrobras

 

A Petrobras poderá refazer contratos com as empresas investigadas na Operação Lava-Jato, desde que elas se submetam aos critérios de transparência e fiscalização que a petrolífera adotará, segundo o presidente Aldemir Bendine. Ele disse que a estatal está estabelecendo esses novos termos de contratos. As empreiteiras só serão impedidas caso sejam condenadas.

-Estamos estabelecendo novos critérios da relação com fornecedores e de compli-ance (obediências às regras). Se as empresas, hoje suspensas, se submeterem, podem continuar trabalhando com a Petrobras. Se elas forem condenadas, ficarão inidôneas e, então, não poderão mais ser fornecedoras — disse Bendine.

A Petrobras está em uma fase de redução de investimentos, metas de produção mais realistas, revisão da relação com fornecedores e venda de ativos. Na entrevista que fiz com Aldemir Bendine, e que foi ao ar na Globonews, ele comentou que a abertura de capital da BR Distribuidora poderá ser feita tanto através da busca de um sócio nacional ou estrangeiro, quanto através de um IPO, lançamento de um bloco de ações ao mercado. Ou uma combinação das duas formas.

Bendine já fez uma operação bem sucedida no Banco do Brasil, quando vendeu ações da BB Seguridade. Quer repetir o modelo na BR. Perguntei se ele achava que este seria um bom momento do mercado, e ele disse que sim. A Distribuidora tem 37% do mercado brasileiro, e quase oito mil postos de combustíveis. Isso a faz um ativo atraente. O presidente da Petrobras acha que a entrada de novos sócios ajudará inclusive na governança.

Os preços dos combustíveis poderão aumentar, segundo ele, dependendo das condições de mercado. Ponderou que agora não é necessário porque a venda dos combustíveis continua sendo lucrativa. Perguntei sobre a avaliação de alguns analistas de que recentemente a empresa voltara a operar com prejuízo na venda da gasolina. Bendine negou, dizendo que os analistas não consideram todas as variáveis. O que ele disse, ao lançar o novo plano de negócios, é que os preços internos seguiriam as cotações internacionais, mas que não seria repassada a volatilidade. Perguntei que diferença havia entre o que ele estava dizendo e o que dizia — nesses mesmos termos — o ex-presidente José Sérgio Gabrielli. Na época de Gabrielli, a empresa acumulou grande prejuízo com a defasagem de preços.

Evitando comparação com outras administrações, Aldemir Bendine disse, no entanto, que a empresa será livre para definir os preços dos combustíveis e que mensalmente vai avaliar todas as variáveis que entram na composição do custo. Deu um exemplo de que tipo de volatilidade ele não repassaria:

— Ontem mesmo (terça-feira), o Brent caiu 5% de uma forma inesperada. Isso não me faria reduzir o preço imediatamente.

Caso ele tenha independência na formação de preços, será a primeira vez, porque os antecessores tiveram que esperar autorização de Brasília. O presidente explicou que agora a formação do conselho mudou, e há apenas pessoas de fora do governo.

Bendine disse que é contra a proposta de mudar o marco regulatório do petróleo agora, argumentando que ela tem sido discutida no Congresso pelas dificuldades conjunturais da Petrobras. Mas admite que, se houvesse hoje um leilão de pré-sal, a companhia não teria como acompanhar. Pela lei que regulamenta a exploração do pré-sal, a estatal tem que ter 30% de todos os campos. Se tivesse que comprar, não teria caixa. A prioridade é reduzir o endividamento e por isso está diminuindo investimento e vendendo ativos.

Perguntei se ele achava possível que o comando executivo da empresa e o conselho de administração não tenham tido conhecimento da corrupção que ocorreu na Petrobras. Segundo Bendine, a estatal tinha uma estrutura de decisão muito verticalizada e que agora está sendo reformulada para que o processo decisório passe por um colegiado. Ponderei que se as decisões eram concentradas no comando, mais uma razão para que a diretoria soubesse. Bendine defende que a corrupção ficou restrita àquelas diretorias nas quais foram encontrados desvios. E pediu, novamente, um voto de confiança para a companhia neste momento.