Delações cruzadas

 

Oito dos investigados afirmam que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari pedia dinheiro em troca de contratos na

Editoria de Arte

Petrobras. Delação premiada foi criticada por Dilma e por advogados de suspeitos de irregularidades

Cruzamento feito pelo GLOBO no conteúdo dos 18 acordos de delação premiada feitos até agora pela LavaJato revela que, se analisados conjuntamente, os depoimentos confirmam pontos estratégicos da investigação. Ao menos cinco delatores afirmam, por exemplo, que o pagamento de propina era feito por meio de doações eleitorais registradas, uma das principais descobertas dos procuradores, informa RENATO ONOFRE. Oito depoimentos relatam que o extesoureiro do PT João Vaccari pedia dinheiro em troca de contratos da Petrobras. O levantamento também aponta contradições entre os delatores. O instrumento, atacado pelas defesas, foi criticado esta semana pela presidente Dilma. -SÃO PAULO- As investigações da Operação Lava-Jato já contam com 18 colaborações premiadas. Um levantamento feito pelo GLOBO no que foi revelado dos depoimentos em troca de redução de pena — parte de acordos autorizados pela Justiça — revela que muitas informações dos delatores são confirmadas por outros, ajudando o avanço da produção de provas sobre o esquema de desvio de recursos da Petrobras para executivos da estatal, políticos, empresários e lobistas.

Uma das revelações é o suposto pagamento de propinas relacionadas a contratos da estatal por meio de doações eleitorais legais. Pelo menos cinco delatores confessaram à Justiça que abasteceram campanhas com recursos declarados à Justiça Eleitoral em troca de vantagens na Petrobras. O dono da UTC e coordenador do cartel das empreiteiras investigado pela Lava-Jato, Ricardo Pessoa, foi o último dos delatores a confessar esse artifício para abastecer campanhas do PT, PMDB e PSDB.

As coincidências ainda reduzem dúvidas sobre a prática de cartel, que ainda não foi denunciada pelo Ministério Público à Justiça, a utilização de consultorias para disfarçar propinas e, principalmente, o vício de licitações, contratos e aditivos na estatal. Dos primeiros acordos, do ex-diretor Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, ao mais recente, do lobista Milton Pascowitch, as narrativas tendem a coincidir, embora existam contradições.

Costa e Youssef, por exemplo, divergem em pelo menos oito pontos. Entre eles, sobre um repasse de R$ 2 milhões à campanha de Dilma Rousseff em 2010, a pedido do ex-ministro Antonio Palocci. A defesa dos executivos e das empresas envolvidas exploram essas contradições e combatem a legitimidade da delação. Até a presidente Dilma já criticou dizendo: “não respeito delator”.