Título: A concorrência encolheu
Autor: Branco, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 01/09/2011, Cidades, p. 39

Especialistas analisam a redução de 9 mil trabalhadores no grupo de desocupados, quando apenas mil conseguiram uma oportunidade. Até uma comissão será criada para apurar o fenômenoNotíciaGráfico

A quantidade de pessoas batalhando um posto de trabalho diminuiu no Distrito Federal. O fenômeno, que intriga pesquisadores, ainda não tem explicação. Em julho de 2010, o percentual de desempregados no Distrito Federal era de 13,7%, ou seja, 193 mil pessoas. No mesmo mês deste ano, a proporção caiu para 12,4%, o correspondente a 173 mil indivíduos. Das 10 mil pessoas que deixaram de contar entre os desocupados, apenas mil foram absorvidas pelo mercado local. As 9 mil restantes deixaram de fazer parte da População Economicamente Ativa (PEA), termo usado para designar a parcela da população que está contratada ou no páreo por uma vaga.

Os dados foram divulgados ontem e fazem parte da Pesquisa de Emprego e Desemprego no DF (PED-DF), realizada pela Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal (Codeplan) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O estudo apontou que a tendência de redução da PEA a longo prazo foi verificada também em uma comparação mensal: entre junho e julho deste ano, 4 mil moradores de Brasília e regiões administrativas cessaram de procurar emprego. A queda da taxa de desemprego no período, de 0,3 ponto percentual, deveu-se à absorção de somente mil pessoas pela economia.

De acordo com o diretor de Gestão de Informações da Codeplan, o economista Júlio Miragaya, o órgão pretende constituir um grupo para averiguar o motivo do fenômeno. Uma hipótese levantada por ele é que a melhora real na renda das famílias brasileiras verificada nos últimos anos pode ter levado uma parcela da população a trocar o trabalho por outras atividades ¿ notadamente o estudo, seja para ingresso em um cargo público ou para aumento da qualificação.

"Por alguma razão, essas pessoas estão optando pela inatividade. Geralmente, isso aparece associado a um rendimento familiar maior. Nesses casos, as mulheres e os jovens podem aumentar o período de estudos. Existe apenas um problema nessa suposição: ela é contraditória à realidade verificada pela PED quanto ao rendimento", explica, referindo-se ao fato de o ganho médio real dos trabalhadores ter recuado 3,6% entre junho de 2010 e o mesmo mês deste ano.

O economista destaca que, pelo fato de as razões que estão ocasionando o recuo da PEA serem desconhecidas, é difícil prever como a taxa de desemprego local se comportará nos próximos meses.

Capacitação Apesar das incertezas, o resultado da PED-DF referente a julho foi comemorado pelo secretário de Trabalho do DF, Glauco Rojas. "Além dos números mostrados pela pesquisa, sentimos que a cidade vai voltando a acreditar nela mesma, principalmente em função dos eventos esportivos que estão chegando", afirmou, referindo-se às copas do Mundo de 2014 e das Confederações, em 2013.

O sociólogo e analista do Dieese Daniel Biagioni defendeu que as políticas para qualificação de jovens são as mais necessárias. "Em julho, o desemprego entre a população de 16 a 24 anos ficou em 26,8%, e essas pessoas representam 45% da ocupação do DF. Os dados sinalizam que é fundamental capacitá-los", disse.

Na lista dos segmentos que mais criaram postos de trabalho entre junho e julho deste ano, destacam-se construção civil (mil vagas, crescimento de 1,5%) e administração pública (2 mil vagas, crescimento de 1%). O serviço público conseguiu cravar um bom desempenho mensal apesar da política da União ¿ extensível aos governos estaduais ¿ de frear a realização de concursos públicos. A possibilidade mais plausível é que um contingente de trabalhadores está tomando posse em cargos de certames já concluídos (veja Três perguntas para).

Houve recuo na quantidade de postos de trabalho da indústria (menos 4 mil, queda de 8,3%). De acordo com Júlio Miragaya, o movimento acompanha desa.

Três perguntas para Roberto Piscitelli Professor de economia da UnB

Como é possível haver uma redução do desemprego em uma cidade como Brasília, que depende principalmente da administração pública, em um ano de corte de gastos e de redução no número de concursos públicos? Essa redução dos concursos públicos pelo governo é muito recente e mesmo com ela ainda temos algumas instituições que estão chamando. Mas é importante ressaltar que o concurso não é a única forma admissão no setor. Existe um regime vigente que possibilita, por exemplo, a contratação por tempo indeterminado. A administração pública faz uso desta opção largamente. Muitos projetos se mantêm em função desses contingentes de pessoal que está contratado apenas por um período.

Além da contratação por tempo determinado, existe mais algum meio de admitir profissionais no setor público que dispensa a realização de provas? Sim. Agora mesmo, a Secretaria de Aviação Civil contratou e não houve concurso. Existem os contratos terceirizados, pelos quais se chamam empresas para prestar algum tipo de serviço e elas contratam as pessoas para o trabalho. Também não podemos nos esquecer dos cargos em comissão. Então, apesar das medidas de contenção, estamos no primeiro ano de um novo governo e muita gente foi dispensada de cargos de confiança inclusive, ao mesmo tempo em que outras foram contratadas. Muitos postos de trabalho se formam nas novas estruturas.

Alguns setores sempre se destacam nas contratações, como serviços e construção civil. Essa é uma tendência? Bom, na construção civil, principalmente, a gente vê que houve um pico devido à intensificação das obras pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Foram iniciadas muitas obras, e diversas pessoas foram contratadas pela iniciativa privada. Chegamos a ter muito recentemente a falta de matéria-prima para construção, houve muita especulação com os preços, atraso nas entregas e a ausência de mão de obra especializada em diversas atividades, o que persiste até hoje.celeração verificada no setor em âmbito nacional. "Como no DF a indústria é pouco expressiva, não concentrando muitos trabalhadores, qualquer redução de contingente tem impacto". Colaborou Julia Borba