Cunha e PMDB já defendem que Temer deixe articulação política

 

 Um dia após a divulgação da pesquisa Ibope que mostrou que a gestão da presidente Dilma Rousseff tem a pior avaliação dos últimos 25 anos, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), defendeu ontem explicitamente que o vice-presidente Michel Temer, que é de seu partido, deixe a articulação política do governo. Deputados e senadores peemedebistas veem na saída de Temer da articulação política uma forma de se descolar do governo, que está com o prestígio em queda. Há uma avaliação no PMDB de que, além da popularidade baixa de Dilma, Temer está enfrentando muitas dificuldades para cumprir o que combinou durante as votações das medidas do ajuste, e isso afeta um dos maiores trunfos do PMDB — a fama de cumprir acordos políticos.

AILTON DE FREITAS/01-07-2015Peemedebistas. Cunha, que preside a Câmara, Temer, vice-presidente e articulador político, e Renan, presidente do Senado: falta de consenso

— Michel Temer, que entrou para tentar melhorar essa articulação política, está claramente sendo sabotado por parte do PT. Acho até que, a continuar desse jeito, o Michel deveria deixar a articulação política — disse Cunha.

ARGUMENTOS PELO ROMPIMENTO

A favor do afastamento, o PMDB tem dois argumentos: a falta de poder do vice para cumprir os acordos políticos da articulação, e a conclusão da votação do ajuste fiscal, que supostamente concluiria uma etapa decisiva na relação do governo com o Congresso.

Outro fator que pesa entre os que defendem a saída da articulação é a falta de clareza do governo quanto ao que vai defender após o ajuste. Os peemedebistas não veem capacidade de reação em Dilma, e acreditam que a economia tende a continuar piorando, sem que haja novas justificativas para isso.

Aliados de Temer, que é o presidente nacional do PMDB, acham que ele depende do respaldo de seu partido para permanecer na articulação política.

— Ele precisa de respaldo partidário, e isso está ruindo na Câmara e no Senado. Para se manter, tem que ter lastro e a situação, no momento, é de queda de popularidade, pelo não cumprimento de acordos e pela total falta de perspectiva com os próximos passos do governo — disse um importante peemedebista.

No partido do vice, há um misto de desânimo com a percepção de que faltam condições para ele cumprir acordos acertados com a base.

— Não adianta só prometer, tem que cumprir as coisas acertadas. Michel acerta, mas (Aloizio) Mercadante não libera, e ainda tem a cara de pau de dizer que não é com ele. O partido está incomodado porque Michel está agindo como um bom avalista de um governo que não quer pagar. O maior patrimônio que ele tem é o de cumprir compromissos — disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

GOVERNO DEFENDE QUE TEMER FIQUE

Em meio a uma série de derrotas no Congresso, o governo se mobilizou intensamente logo após a fala de Cunha para defender a importância de Temer na articulação. No fim da tarde, cerca de duas horas após Dilma pousar em Brasília, Temer foi convidado para uma conversa no Palácio da Alvorada, com a presença de Mercadante. A conversa tratou das votações no Congresso e da negociação de eventual acordo para evitar o reajuste para servidores do Judiciário. Temer evitou a imprensa ao sair.

Mercadante e o ministro Edinho Silva (Comunicação Social), no entanto, cumpriram o papel de defendê-lo publicamente: “A presença do vice-presidente da República, Michel Temer, na articulação política do governo representa não apenas um gesto de desprendimento e sacrifício pessoal, como vem trazendo grandes resultados na relação com o Congresso”, disse Mercadante, em nota.