Título: PT evitará o tema em congresso
Autor: Gama, Júnia
Fonte: Correio Braziliense, 02/09/2011, Política, p. 4

Por conta da redução da taxa básica de juros de 12,5% para 12% ao ano e a demonstração de que o Banco Central faz parte de uma política de governo, e não é autônomo para ficar descolado de um panorama geral de governo, a expectativa é de que a presidente Dilma Rousseff consiga arrancar hoje um documento de apoio irrestrito por parte do PT. A diminuição dos juros será ressaltada no texto sobre conjuntura e governo que os petistas trabalham desde ontem para aprovação no 4º Congresso da sigla, com início hoje em Brasília. A perspectiva de criação de outro tributo para financiar a saúde, entretanto, ficará de fora. O partido não deseja tratar de temas espinhosos como esse. Afinal, durante a campanha, os petistas ressaltaram o tempo todo que não haveria mais aumentos para o contribuinte, mas uma reforma tributária.

O documento será fechado ainda hoje e a estratégia é ressaltar todos os pontos positivos do governo que sempre foram defendidos pelo PT, como um Banco Central com autonomia relativa e a queda dos juros. Além desses, serão divulgados outros pontos do governo, entre eles, as medidas econômicas adotadas recentemente para evitar que o Brasil seja atingido pela crise externa, o programa Brasil Maior, e, ainda, os projetos sociais, como o Brasil sem Miséria, que inclui ainda o Bolsa Família.

O aumento do superavit primário ¿ recursos que o governo separa todos os anos para o pagamento de juros ¿ não será esquecido, mas a redução dos juros deixou o PT em clima de euforia. "A boa, maravilhosa e politicamente correta decisão sobre a queda dos juros representará a coroação de Dilma Rousseff", avalia o senador Walter Pinheiro (PT-BA). "Se fosse só o superavit, o clima não seria tão bom", completa.

A um ano das eleições municipais, o PT pretende ainda amarrar no estatuto as normas para filiações e a política de alianças. Ontem, durante as reuniões preparatórias, foi mencionada a necessidade de proibir acordos com partidos de oposição ¿ PSDB, DEM e PPS. Há tempos, o PT tenta impor a medida aos filiados, sem sucesso. Decidiu-se que o texto sobre conjuntura não tratará da proibição de alianças. "Um partido que deseja crescer não pode ficar fechado. Há vários municípios em aliança com o PSDB e o DEM e, se for em prol da população e de programa, não vejo por que proibir", diz o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-deputado cassado José Dirceu.

Moção Cada vez mais interessado na vida partidária, Zeca acredita que pontos como filiações e a proposta de aumento das contribuições para a base petista vão gerar mais polêmica do que a discussão das alianças para 2012. Zeca Dirceu espera ainda que o PT aprove uma moção de apoio ao seu pai por conta da reportagem publicada pela revista Veja no último sábado. A revista estampou imagens de autoridades no andar do hotel onde José Dirceu se hospeda em Brasília.

No mesmo dia, o ex-ministro postou em seu blog a tentativa de um repórter de invadir a suíte que ele ocupa. Entre outros petistas, entretanto, ficou a certeza de que a reportagem publicada no último sábado deu ao ex-ministro o papel de vítima e destaque no 4º Congresso do PT. Sem ela, garante um figurão do partido, José Dirceu seria apenas um rosto na multidão.