Cunha vai ao STF para afastar Moro de processo da Lava- Jato

 

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, entrou com recurso no STF para tentar afastar o juiz Sérgio Moro de um dos processos da Lava- Jato. Ele quer que a ação vá para o STF. - BRASÍLIA- O presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), entrou ontem com recurso no Supremo Tribunal Federal ( STF) para afastar o juiz Sérgio Moro da 13 ª Vara da Justiça Federal do Paraná de um processo da Operação LavaJato. Cunha foi citado nessa ação por Júlio Camargo, que o acusou de pressioná- lo para que pagasse uma propina de US$ 5 milhões referente a um contrato na Petrobras.

Cunha alega que Moro usurpou uma prerrogativa do STF, responsável por julgar parlamentares, e pede que o caso seja enviado ao Supremo. Requer ainda a anulação de atos do processo que tenham ligação com ele. Com a Corte em recesso, o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, poderá decidir sobre o caso.

A defesa de Cunha alega que Moro induziu Camargo a incriminá- lo. Nos primeiros depoimentos, Camargo negara saber da participação do presidente da Câmara no caso. Para a defesa de Cunha, Moro levou Camargo a dizer que temia o presidente da Câmara, devido a sua influência política e, por isso, teria mentido.

Após a acusação de Camargo, Cunha se disse perseguido pelo governo e anunciou sexta- feira que virou oposição. O governo está decidido a não alimentar a polêmica com o presidente da Câmara. Quer aproveitar o recesso de duas semanas do Congresso para reorganizar sua base e evitar novas derrotas em votações.

DIPLOMACIA COM ATAQUES DE RENAN

Além de orientar os ministros a conversar com os parlamentares de seus partidos, o Planalto promete acelerar a liberação de emendas parlamentares ao Orçamento e a nomeação para cargos federais.

Em relação ao presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), a estratégia definida na reunião de ontem da coordenação política do governo, no Palácio do Planalto, foi a de “reconstruir a ponte” com ele e a bancada do PMDB no Senado. Em pronunciamento gravado sexta- feira na TV Senado, Renan criticou o ajuste fiscal chamando- o de “tacanho” e previu que meses serão turbulentos para o governo.

Ao chegar a Brasília ontem, Cunha disse que não está com um “fuzil de guerra”. Em resposta ao líder do governo, José Guimarães ( PT- CE), que, afirmara ser preciso “estender a bandeira branca”, disse:

— Não precisa estender bandeira branca, porque não estou com fuzil de guerra. Estou em um alinhamento político diferente do que eu estava antes — disse o peemedebista.

Questionado se entregaria os cargos sobre os quais tem influência no governo, respondeu:

— Não tenho nenhum cargo indicado. Se acharem algum que indiquei, podem demitir.

O governo aposta no vice- presidente Michel Temer para neutralizar Cunha. No comando da articulação política, Temer tem feito acordos com parlamentares, mas as promessas param nos ministros Aloizio Mercadante ( Casa Civil), e Joaquim Levy ( Fazenda). A presidente Dilma Rousseff determinou ontem que os acordos com os congressistas sejam cumpridos logo..

Após a reunião da coordenação política do governo, os ministros minimizaram os ataques de Cunha e Renan. Eliseu Padilha ( Aviação Civil) que é do PMDB, chamou Cunha de “um dos mais brilhantes parlamentares da Casa, uma pessoa de alta qualificação pessoal, tirocínio singular, conhecedor do regimento, uma pessoa de altíssima qualificação para o exercício da atividade parlamentar”. Em Nova York, Temer minimizou a crise: — Até uma crisezinha política existe, por causa da posição de Eduardo Cunha. Mas crise institucional é que não existe. Quando falei crise institucional, diferenciei da crise política porque o país vive uma tranquilidade institucional, apesar de todos esses embaraços.