A benéfica reaproximação de EUA e Cuba

Cuba e EUA deram ontem outro passo firme no processo de normalização das relações diplomáticas entre os dois países, rompidas desde 3 de janeiro de 1961. Culminando vários meses de negociações, foi reaberta a embaixada cubana na capital americana, com uma cerimônia de hasteamento da bandeira no prédio de pedras de seis andares onde funcionará a representação diplomática da Ilha. O evento contou com a presença do ministro de Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, e foi acompanhado por uma pequena multidão. Também hasteou- se uma bandeira cubana no saguão do prédio do Departamento de Estado, onde estão representados os países com os quais os EUA mantêm relações diplomáticas.

O descongelamento das relações diplomáticas começou a ser negociado entre os dois países em reuniões secretas. Aos poucos, medidas foram implementadas. Havana libertou prisioneiros políticos, ao passo que Washington reduziu as restrições de viagens à Ilha. Isso possibilitou o aumento das remessas de dinheiro para Cuba, e, por outro lado, elevou o volume de bens cubanos que os americanos podiam levar para os EUA, como charutos e rum. Em maio, o governo de Obama retirou Cuba da lista de países que apoiam o terrorismo.

O próximo passo nesta reaproximação será a abertura da embaixada americana na capital cubana, em 14 de agosto, num evento oficial que contará com a presença do secretário de Estado americano, John Kerry. A sede diplomática americana será localizada no Malecón, a famosa avenida que margeia a orla de Havana. Enquanto isso, as negociações continuam rumo a um reatamento que se tornará completo quando os EUA suspenderem o embargo econômico à Ilha, medida que depende da aprovação do Congresso americano. Em contrapartida, o regime castrista terá que avançar na abertura política, começando pela libertação de dissidentes do regime.

Diferentemente das sanções econômicas aplicadas ao Irã, que levaram a república persa a negociar um acordo nuclear, a dura política americana em relação à Ilha terminou sendo um tiro que saiu pela culatra. O embargo econômico e a proibição de viagens de americanos a Cuba, quer a negócios ou a turismo, reforçaram o regime de Fidel e Raúl Castro, ajudando a isolar a Ilha como um enclave stalinista na América Latina.

Obama argumenta, com razão, que não há justificativa para manter uma política estabelecida há mais de 50 anos e que não produziu o efeito esperado. Ao contrário, reforçou o discurso da ditadura castrista. O distanciamento entre EUA e Cuba era um dos últimos resquícios da Guerra Fria, finalizada na demolição do Muro de Berlim, em 1989. A reaproximação entre os dois países, assim, redesenha a geografia política do continente e, esperase, arejará o debate político e ideológico na América Latina, beneficiando sobretudo a população cubana, que vive hoje com uma renda média de US$ 20 por mês.