É disso que se trata

16 jul 2015

MÍRIAM LEITÃO COM ALVARO GRIBEL (DE SÃO PAULO)

No ato em defesa do governo, o PT mostrou que ainda não entendeu o momento do Brasil. Rui Falcão, presidente do partido, disse que quando viaja pelo interior ouve do povo que as pessoas estão acostumadas com a corrupção e que tudo o que está acontecendo é para evitar a volta de Lula. Que povo será este o do Falcão? É fácil verificar em qualquer conversa que o brasileiro está farto disso.

Opensamento de Falcão é todo dissonante: “Sabe o que o pessoal diz no interior quando ( a gente) viaja para outros estados? Olha, tudo isso que está acontecendo, a gente entende, que haja corrupção, nós já estamos acostumados. O problema é impedir a volta do Lula em 2018, é disso que se trata.”

Recomenda-se ao presidente do PT que converse com outro “pessoal”, porque dificilmente ouvirá da maioria dos brasileiros que “... a gente entende que haja corrupção, nós estamos acostumados”. Ele supõe que haja um conformismo com a corrupção, no momento mesmo em que a popularidade do governo despencou, e as instituições têm feito o maior esforço que este país já viu no combate a esse crime. A Operação Lava-Jato é o mais amplo ataque contra o roubo de recursos públicos e só tem tanto apoio porque o país não quer conviver mais com isso.

O PT supôs que o país tinha ficado insensível ao crime de corrupção, tanto que as negociatas na Petrobras começaram em meio à descoberta do mensalão. Fechada uma frente, o partido foi prospectar na maior empresa do país, confiando na impunidade e em uma suposta aceitação bovina da corrupção, do tipo “nós estamos acostumados”.

Numa extemporânea recriação do “rouba, mas faz”, Falcão continua: “a volta de Lula não é uma questão de messianismo, nem de salvação nacional, é a salvação de um projeto que precisa avançar”. Que projeto? O de elevar a escala da promiscuidade entre grandes empresas e o governo em negócios sombrios, para financiar o projeto de poder? O dinheiro é desviado para partidos que sustentam o governo, para que ele seja vitorioso a cada eleição. Isso é círculo vicioso, e não plano de governo.

O país está em recessão, com inflação chegando a dois dígitos, juros subindo, desemprego em alta, desconfiança crescente, dívida e déficit público escalando. A esta situação se chegou por decisões tomadas em governos do PT. Portanto, se ele quiser trazer Lula de volta, precisa mudar de discurso. Em nome do que Lula quer voltar? É preciso responder a isso com um propósito convincente, e não com esta visão persecutória de que as denúncias de corrupção trazidas à tona pelo Ministério Público, Polícia Federal e a Justiça tenham sido criadas para impedir que Lula volte.

O evento organizado pelo diretório do PT em São Paulo, para apoiar o governo Dilma, acabou defendendo Lula para presidente em 2018. Segundo o presidente do diretório estadual, Emídio Souza, o partido vai se recuperar e vai assistir “Dilma terminar seu mandato e entregar a faixa presidencial para o companheiro Luiz Inácio Lula da Silva”. Com tão pouca aprovação e várias sombras sobre seu governo, se a presidente Dilma entregar a faixa em 2018 será uma vitória. Ela deve se concentrar no único projeto que faz sentido: governar bem o Brasil. E nisso ela está fracassando no momento. A campanha eleitoral fora de hora a enfraquecerá ainda mais. Medidas eleitoreiras só vão aprofundar a crise. Se os petistas têm algum apreço pela presidente, deveriam estar tentando fortalecer seu governo, em vez de começar agora a campanha para Lula em 2018.

Falcão participou de reunião com a presidente Dilma, o ex-presidente Lula e ministros antes de ir para o evento partidário. Portanto, não se pode dizer que ele falou o que não foi autorizado a falar. Estava numa reunião de governo e de lá saiu para dizer que o povo está acostumado com corrupção e que o importante é eleger Lula em 2018.

O país está farto de corrupção. A Operação LavaJato é a maior oportunidade que se tem de corrigir o que está minando a democracia e a economia brasileiras. Basta andar um pouco pelo país e conversar com o pessoal que é isso que se ouvirá. O brasileiro não quer mais ser espoliado. É disso que se trata.