Na convenção que reelegeu Aécio Neves presidente, líderes do PSDB disseram acreditar que a presidente Dilma não concluirá o mandato e afirmaram que o partido está pronto para assumir o governo. -BRASÍLIA- Com ataques ao PT e ao governo federal, o PSDB reelegeu ontem o senador Aécio Neves (MG) presidente do partido, em uma convenção marcada por discursos de líderes do partido apostando no afastamento da presidente Dilma Rousseff da Presidência antes da conclusão de seu mandato. Tanto Aécio quanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disseram que, no caso de saída de Dilma, o PSDB estará pronto para comandar o país.
JORGE WILLIAMEm busca de unidade. Alckmin e Aécio na convenção do PSDB que reconduziu o mineiro à presidência do partido: segundo senador, herança de Dilma será “meia década perdida”Estrela do evento, Aécio disse que os atuais escândalos de corrupção mostram que há um “vale-tudo” pelo poder, e voltou a afirmar que perdeu as eleições presidenciais para “uma organização criminosa”, e não para um partido político.
— Uma das heranças da presidente Dilma, nós já conhecemos: meia década perdida. Ao final de seu governo, que não sei quando ocorrerá, talvez mais breve do que alguns imaginam, os brasileiros estarão mais pobres — disse Aécio, sendo aplaudido pelo auditório.
Cobrado por uma parte do PSDB e por organizações da sociedade civil favoráveis a um pedido de impeachment, Aécio voltou a apostar, em outro trecho do discurso, que Dilma não ficará mais quatro anos no Palácio do Planalto:
— Esse grupo político que está aí caminha a passos largos para a interrupção do seu mandato. A oposição não se omitiu, não esmoreceu, vem lutando muito, e está cada vez mais sintonizada com o sentimento amplamente majoritário na sociedade brasileira.
“NÃO SOMOS GOLPISTAS”, DIZ AÉCIO
Em entrevista coletiva após a convenção, Aécio disse que cabe às instituições, e não ao PSDB, a condução de eventual saída da presidente Dilma do cargo antes do final do mandato. Mas afirmou que o PSDB estará pronto para assumir o papel de “corrigir os equívocos” deste governo:
— Não cabe ao PSDB antecipar saída de presidente da República, não somos golpistas. O que existe hoje é uma ausência de governo, e, se a presidente não assume suas responsabilidades, se terceiriza, cada vez mais o sentimento de vácuo vai se espalhando pela sociedade brasileira.
Em seu discurso, o ex-presidente Fernando Henrique disse que o governo Dilma perdeu a credibilidade e está paralisado. O tucano afirmou que a crise de confiança que atinge o país exige a união da sociedade ao redor da oposição para que encontre uma solução, dentro dos parâmetros constitucionais. O tucano disse que o partido sabe governar e está pronto para assumir o governo.
— Queremos o Brasil outra vez confiante, e, para isso, o PSDB não poderá fugir do seu papel de responsabilidade. Não somos donos do que vai acontecer nas próximas semanas, nos meses seguintes. Mas estamos prontos para assumir. O PSDB sabe governar — disse Fernando Henrique.
Segundo o ex-presidente, muitas crises ao mesmo tempo exigem uma resposta: a união do povo brasileiro ao redor das oposições para que se encontre uma saída para o país.
— Uma saída que só pode ser com respeito à Constituição. Que se punam os culpados. Precisamos assistir a este Brasil com a cara que sempre teve de decência, de humildade. De dirigentes nacionais que possam andar nas ruas sem estarem cercados de pessoas, não terem medo de ser agredidos — disse FH.
Aécio afirmou que esse sentimento não está restrito aos partidos de oposição. Embora o senador não tenha citado nomes nem partidos, lideranças do PMDB têm trabalhado para desgastar o governo na expectativa de que o vice Michel Temer assuma ou que sejam convocadas novas eleições.
— Alguns partidos que hoje apoiam o governo têm esse sentimento até mais aflorado que o nosso, de que ela terá dificuldades para concluir o mandato. É preciso que ela tome as rédeas, se é que ainda tem condições de fazer isso, porque, caso contrário, não teremos o desfecho em 2018, ele poderá ser antecipado. E repito, não por ação do PSDB, mas pelas inúmeras frentes que a presidente criou, descumprindo a Lei de Responsabilidade Fiscal, fraudando contas, usando, segundo os delatores, dinheiro de propina na campanha — afirmou Aécio.
Preocupado com a disputa interna pela próxima candidatura ao Palácio do Planalto, o PSDB procurou demonstrar unidade.
— Somos a oposição a favor do Brasil, mas se preparem que, dentro de muito pouco tempo, não seremos mais oposição. Vamos ser governo para limpar a lambança que o PT fez em todas as áreas da administração pública — disse Aécio.
ALCKMIN: “O PT CHEGOU AO FUNDO DO POÇO”
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse, em seu discurso, que “o PT chegou ao fundo do poço”. Segundo ele, o PSDB está verdadeiramente ao lado dos trabalhadores e dos mais pobres, enquanto os petistas estão ao lado “da especulação financeira e dos rentistas”.
— O PT chegou ao fundo do poço, e cabe a nós a missão de não deixá-los carregar o país junto com eles. Afastado o flagelo do petismo no poder, o Brasil poderá reencontrar sua vocação para o crescimento — disse Alckmin, que tem pretensão de ser o candidato do PSDB à Presidência.
O governador afirmou que o PSDB “nunca usou e nunca usará o nome do trabalhador em vão”:
— O PSDB é o partido da Educação, que emancipa; da Saúde, que cuida de gente; o partido da Segurança Pública, que salva vidas. O partido dos que mais precisam. O partido que nunca usou e nunca usará o nome do trabalhador em vão.
O senador José Serra (SP) afirmou que a crise é a maior que ele já viu, e que a oposição precisa oferecer saídas para o país:
— O Brasil está atravessando a pior crise desde que me conheço por gente, sem nenhum catastrofismo. Cabe a nós oferecer saídas para a crise. Vai ser difícil, porque o estrago feito pela era petista é gigantesco.
Para Serra, o governo Dilma é mais fraco do que o de João Goulart, em 1964:
— O Jango era de uma solidez granítica perto do governo Dilma. Pelo menos sabia escolher gente, era um gigante na administração perto do governo Dilma.
Esforçando-se para demonstrar unidade e adiar a disputa interna pela candidatura à Presidência da República em 2018, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), chegaram juntos à convenção nacional do partido, ontem, mas foram recebidos por uma guerra de claques.
À espera dos dois na porta do auditório onde foi realizado o evento, em um hotel de Brasília, um grupo gritou “Aécio” e “Minas” ao avistar o senador mineiro. Outros militantes e cabos eleitorais imediatamente responderam com gritos de “Geraldo presidente” e “São Paulo”.
Escanteado na corrida interna pelo Palácio do Planalto, o senador José Serra (SP) chegou atrasado e ganhou destaque ao ter seu nome anunciado pelo mestre de cerimônias, interrompendo o discurso do presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP).
Enquanto em seus discursos lideranças tucanas ressaltavam escândalos de corrupção dos governos do PT e pediam “cadeia” para os petistas, o ex-deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), pivô do mensalão mineiro, estava no palco, entre os convidados de honra.
Com pena de 22 anos de prisão pedida pela Procuradoria Geral da República, Azeredo renunciou ao mandato de deputado federal no início do ano passado, para evitar um desgaste político maior para a précampanha presidencial de Aécio. Azeredo foi acusado de peculato (desvio de dinheiro público) e lavagem de dinheiro.
Além de tirar Azeredo dos holofotes, a renúncia funcionou como uma manobra para protelar o processo: com a perda de foro privilegiado do ex-deputado, a investigação saiu do Supremo Tribunal Federal (STF) e desceu para a primeira instância.
— O PSDB quer ver na cadeia esses petistas corruptos que desviaram dinheiro dos nossos bolsos. Temos que manter a oposição combativa até afastar este governo que tanto mal faz ao nosso povo — afirmou o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), em seu discurso durante a convenção.
O governador de Goiás, Marconi Perillo, aproveitou para homenagear o cantor sertanejo Cristiano Araújo, morto em um acidente de carro no último dia 24. Foi exibido um vídeo no qual Araújo cantava um jingle da campanha presidencial de Aécio, veiculado no horário eleitoral gratuito do ano passado.