A história reescrita da Guerrilha do Araguaia e do Riocentro. N o início de 1996, o telefone da central de atendimento ao leitor soou na redação do GLOBO, e, do outro lado da linha, um militar que dizia ter informações exclusivas sobre a guerrilha do Araguaia ofereceu: “Tenho uma foto do (então deputado) José Genoino preso. Vocês têm interesse em publicar?”.
A jornalista Consuelo Dieguez respondeu que sim. Dias mais tarde, ela receberia do militar — cuja identidade foi preservada — um bloco com 66 páginas escritas a mão, 43 fotos, 16 slides e três transparências. Nelas, informações confidenciais sobre 69 membros do PCdoB que haviam ido ao Pará para organizar um movimento rural armado contra a ditadura. A publicação dos documentos começou em 28 de abril daquele ano, dando destaque à imagem de Genoino, com 24 anos de idade, algemado perto de um tronco de árvore no Araguaia. Quando Consuelo mostrou a foto ao petista, ele perdeu a voz.
A série de reportagens sobre a guerrilha do Araguaia foi classificada como um furo histórico e chocou o Brasil. Ela provava de uma vez por todas como, onde e quando os guerrilheiros haviam morrido, pondo fim à angustia das famílias.
— Até então o Exército dizia que eles tinham sido mortos em combate. Mas o cruzamento das informações nos permitiram concluir que eles tinham sido eliminados. Muitos deles, executados mesmo depois de presos — lembra Consuelo.
— Era uma apuração pré-Google — pontua Adriana Barsotti, que também integrava a equipe de jornalistas ao lado de Aziz Filho, Amaury Ribeiro Jr. e Cid Benjamin. — Fomos de casa em casa, a partir de uma lista de familiares que achavam que seus filhos tinham ido para a guerrilha. Visitei umas dez famílias, e muitas vezes era constrangedor. Gerávamos uma expectativa imensa, mas as fotos não eram de seus entes queridos.
Foi dessa forma que O GLOBO conseguiu recontar a história de Mária Lúcia Petit, Kléber Lemos e Dower Cavalcante, mortos no Araguaia.
O trabalho também levou à identificação de quatro cemitérios clandestinos e fez com que o governo Fernando Henrique se comprometesse a ajudar na localização de ossadas. A série levou o Prêmio Esso de Jornalismo daquele ano.
Três anos mais tarde, em 11 de abril de 99, O GLOBO voltou a recontar a História do país — e levou mais um prêmio por isso. “A bomba estava com o sargento. Eu disse isso”. A frase era do legista Elias Freitas, que havia feito a necrópsia do sargento Guilherme do Rosário após uma bomba explodir no estacionamento do Riocentro, em 81. Em entrevista ao repórter Chico Otavio, Freitas classificou o inquérito policial-militar após o atentado como “uma embromação danada”. A ditadura ainda rendeu mais um prêmio. Entre janeiro e fevereiro de 70, o jornal publicou 21 capítulos sobre os 113 dias de angústia, suspense e crise política vividos entre o momento em que o ex-presidente Costa e Silva teve trombose e o dia em que faleceu. O texto, escrito pelo jornalista Carlos Chagas, mostra visão única do processo. Chagas fora secretário de Imprensa do marechal.