Delator afirma ter dado R$ 4 milhões a José Dirceu

15 jul 2015

THAIS SKODOWSKI 

Em depoimento à Justiça, Júlio Camargo mencionou pagamento ao petista a pedido de ex- diretor da Petrobras

CURITIBA- O empresário Júlio Camargo disse ontem, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, que entregou R$ 4 milhões para o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a pedido do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque. A declaração de Camargo foi confirmada pelo advogado Edward Carvalho, que acompanhou a audiência representando a construtora OAS.

Camargo não deu detalhes das circunstâncias desse repasse durante o depoimento de ontem.

Segundo investigação da Polícia Federal, antes de chegar à JD Consultoria, empresa do ex-ministro, o dinheiro das empreiteiras passava por empresas registadas em nome de dois intermediários: Milton Pascowitch e Júlio Camargo. Pascowitch é ligado à Engevix, enquanto Camargo atuou pela Camargo Corrêa.

Apontado como um dos operadores do esquema de corrupção na Petrobras, Camargo assinou acordo de delação premiada em dezembro do ano passado. Ele foi a segunda pessoa a ser ouvida ontem na Justiça Federal. O primeiro a ser interrogado foi o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que falou por três horas.

De acordo com o advogado Jeffrey Chiquini, Barusco reafirmou que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto centralizava o recebimento de propina do esquema da Petrobras para o PT.

O advogado de Dirceu, Roberto Podval, negou que seu cliente tenha recebido o dinheiro:

— Não vou fazer juízo de valor sobre quem está delatando, as condições em que isso está ocorrendo. Mas o que posso afirmar é que esse tipo de pagamento não existiu. Todos os serviços prestados pelo meu cliente e por sua empresa já foram informados à Justiça, foram emitidas notas fiscais. É uma surpresa para nós que ele traga essa informação agora.

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TRE-SP adia depoimento de Ricardo Pessoa

RENATO ONOFRE 

Dono da UTC não pode falar antes da abertura do sigilo de sua delação

- SÃO PAULO- A Justiça Eleitoral cancelou ontem o depoimento do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, apontado como coordenador do cartel das empreiteiras na Petrobras. Em regime de prisão domiciliar, Pessoa foi levado ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo ( TRESP) para prestar depoimento na ação movida pela coligação “Muda Brasil”, do candidato derrotado em 2014 Aécio Neves (PSDB), contra a coligação da presidente Dilma Rousseff.

Pessoa é um dos envolvidos no esquema de corrupção investigado pela Operação LavaJato e, com base em suas afirmações, de que teria abastecido a campanha da petista com propinas de contratos da estatal, o PSDB pede a cassação do registro de Dilma.

Como Pessoa assinou um acordo de delação premiada com o STF, que investiga a participação de autoridades com foro privilegiado no esquema da Petrobras, ele não poderia se manifestar em depoimento agora até que o sigilo de sua deleção fosse aberto. Com isso, a oitiva foi suspensa para que o Tribunal Superior Eleitoral ( TSE) obtenha uma autorização do STF para que Pessoa possa falar e, assim, marcar uma nova data de depoimento.

Em dezembro, o PSDB protocolou no TSE um pedido para cassar o registro da candidatura de Dilma e do vice, Michel Temer (PMDB). O principal argumento para pedir a inelegibilidade da petista é o de que a campanha teria sido financiada com dinheiro de corrupção, o que tornaria a eleição de Dilma “ilegítima”. Em delação, Pessoa afirmou que parte das doações legais a partidos políticos era pagamento de propina.

A defesa de Pessoa entrou com mandado no Supremo pedindo que o empreiteiro permanecesse em silêncio para não prejudicar o acordo de delação, assinado no mês passado com a Justiça Federal.