Título: Dilma blinda o Banco Central
Autor: Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 02/09/2011, Economia, p. 8
O governo prontificou sua tropa de choque, liderada pela própria presidente Dilma Rousseff, e saiu em defesa da decisão tomada pelo Banco Central na quarta-feira de reduzir a taxa básica Selic em 0,5 ponto percentual. Com a avaliação de que o Brasil precisa de menos juros para continuar crescendo, Dilma justificou a atitude da autoridade monetária ¿ que surpreendeu a opinião pública ¿ e rebateu as críticas de que o Planalto pressionou o Comitê de Política Monetária (Copom) para fazer o corte. "O Copom fala pelo Copom, eu falo em nome do Governo Federal", afirmou.
Além de evidenciar uma mudança na orientação da política econômica, que passa a enfatizar o controle fiscal e o corte de gastos para, dessa forma, aliviar a política monetária, as declarações de Dilma refletem o desejo da presidente de encerrar o seu mandato com taxas reais de juros entre 2% e 3% ao ano. Atualmente, o Brasil lidera um ranking de 40 economias com os encargos mais altos (6,2% ao ano), enquanto a média mundial é negativa em 0,8%.
"Nós, do governo federal, olhamos essa conjuntura e chegamos à conclusão de que, para enfrentar a crise, o Brasil tem que crescer, continuar investindo, criando emprego, consumindo. Continuar plantando e colhendo os frutos da nossa agricultura, produzindo na nossa indústria, investindo em infraestrutura e fazendo programas sociais", comentou a presidente em entrevista a rádios de Minas Gerais.
Dilma também usou a incerteza em relação à crise externa para chancelar a redução dos juros. Para o governo, a crise se estenderá por mais de dois anos, o que exige "musculatura" da economia para resistir ao impacto prolongado. "Não é uma crise que vai durar um ano ou alguns meses, a tendência é de ser de longa duração, de dois para mais anos. Assim sendo, temos de nos fortalecer economicamente, melhorar a gestão pública, aumentar a nossa relação de melhoria do gasto", ressaltou.
Outros membros do governo, como o líder na Câmara, Cândido Vaccarezza, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, engrossaram o coro de defesa do Banco Central. Mantega considerou como "bobagens" as avaliações ¿ especialmente do mercado ¿ de que a autoridade monetária abandonou a independência em suas determinações. "O Copom não sofre pressão política. Tem autonomia. Eles (os técnicos) julgam os cenários e tomam decisões", garantiu.