Título: Prontos para ir às compras
Autor: Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 02/09/2011, Economia, p. 8
Embora tenha um efeito mínimo no custo do crediário, o corte dos juros básicos da economia aumenta o otimismo dos consumidores.NotíciaGráfico
A tão esperada redução da taxa básica de juros (Selic) ¿ de 12,5% para 12% ao ano ¿, anunciada na última quarta-feira pelo Banco Central, não trará grande alívio ao bolso do brasileiro. Especialistas observam que o efeito nas linhas de crédito ao consumo será mínimo, produzindo diferenças de poucos reais nos preços dos produtos comprados com financiamento. Consumidores e empresários, no entanto, reagiram com otimismo à decisão do governo.
"É uma variação muito pequena, mas importante. A Selic vinha subindo e o BC indicou que ela deve cair a partir de agora. Mesmo que pequena, redução é melhor que alta", observou o vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. O impacto será reduzido porque existe uma abismo entre a Selic e as altíssimas taxas cobradas nas lojas, de 121,2% ao ano, em média.
Por isso, o consumidor só deve sentir a diferença em financiamentos de grande porte, alerta o professor de matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho. "Um carro de R$ 20 mil, por exemplo, financiado em 48 meses, terá diminuição de R$ 254 no custo final", calcula. Em seu ponto de vista, a única linha de crédito que sofre efeito imediato é o empréstimo pessoal. "Quem deixou para solicitar crédito hoje, com certeza vai pagar menos", disse. Ele conclui que a redução da Selic deve aliviar o orçamento do brasileiro. "Mas não vai refrescar muito", alertou.
De acordo com cálculos da Anefac, com a decisão do BC, a taxa média cobrada no comércio deve cair de 94,49% para 93,61% ao ano. Assim, quem comprar uma geladeira de R$ 1.500 em 12 prestações, por exemplo, terá o custo final reduzido de R$ 2.111,76 para R$ 2.107,20, uma diferença de apenas R$ 4,56. A entidade, que divulgou ontem um estudo sobre o impacto do corte da Selic, observa que o consumidor continuará assombrado pelos juros altos. As taxa média do cartão de crédito deve recuar de 10,7% para 10,6% ao mês. No cheque especial, outro vilão das finanças pessoais, a queda também será quase imperceptível, de 8,3% para 8,2% mensais.
Mesmo com a pequeno impacto no bolso, grande parte dos consumidores está otimista e disposta a ir às compras.
"Todos os setores serão beneficiados (pela queda da Selic) e acredito que os consumidores devem aproveitar, mesmo que a diferença entre os valores seja pouca", disse o missionário Sérgio Muradh, 35 anos. "Aproveitei a queda e comprei um violão para presentear uma pessoa", contou.
Torcida Em contrapartida, Fábio Maia, 37 anos, ficou chateado por não ter conseguido aproveitar a redução da taxa básica. Há menos de uma semana, ele decidiu financiar a compra de um carro e, quando soube da decisão do BC, já era tarde. "Se eu tivesse esperado mais um pouco teria garantido juros menores", afirmou.
O varejo também recebeu com agrado o corte da Selic. Os comerciantes já se preparam para o fim de ano e aguardam a redução das taxas nas linhas de crédito empresarial para formar estoques e incrementar as vendas. "Com menor custo financeiro, os estabelecimentos têm condições de oferecer melhores condições ao cliente. Assim, o comprador pode não levar para casa um produto mais barato, mas terá mais tempo para pagar", salientou o presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes e Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro.
Nas contas da Anefac, o corte da Selic vai possibilitar uma queda de 3,07% para 3,03% ao mês, em média, no financiamento de capital de giro. O custo do desconto de duplicatas deve cair de 3,18% para 3,14% e a conta garantida terá redução de 5,90% para 5,86% ao mês.
A nova injeção de ânimo ocorre num momento em que já é grande o otimismo entre os varejistas. Estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) aponta que a confiança dos empresários do setor subiu 1,6% em agosto, para 129,3 pontos, após uma elevação de 2,8% em julho. O índice foi impulsionado pelas boas avaliações sobre as condições atuais da economia (alta de 3,1%) e do próprio setor (crescimento de 2,5%).
O economista-chefe da CNC, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, observa que os baixos índices de desemprego, o aumento da renda da população e crediários com prestações a perder de vista têm sustentado o ânimo dos consumidores e empresários. Essa onda de bonança, no entanto, poderá diminuir, mais à frente, se a decisão do BC de cortar a Selic se revelar precipitada, como temem muitos economistas. Gomes observa que o mercado financeiro recebeu a medida com desconfiança, tanto que as operações de juros futuros subiram ¿ um sinal de que há gente apostando que o BC terá que elevar a Selic novamente se a inflação não ceder nos próximos meses, como espera a autoridade monetária. Se isso ocorrer, será um balde de águas fria, alerta.